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A papoila é a matéria-prima que leva à produção de ópio, e consequentemente de heroína. O exército norte-americano tentou a erradicação da vasta cultura dessa planta no Afeganistão. Os resultados foram desastrosos.

O exército dos Estados Unidos aprenderam da forma mais difícil a não interferir com a crescente produção de papoilas no Afeganistão, as flores coloridas são a fonte de ópio e, por extensão, heroína.

Agora sabemos o custo dessa lição – uns simples $7,6 mil milhões.

A 14 de Outubro, o Inspetor Geral Especial dos Estados Unidos para a Reconstrução Afegã (SIGAR) alertou os departamentos da defesa, estado, e justiça para os últimos dados referentes ao esforço para eliminar as papoilas. Apesar dos $8 mil milhões que a América já gastou nos esforços de erradicação, hoje o comércio do ópio no Afeganistão está em altas. Com 400 000 acres, a plantação de papoilas de 2013 foi a maior de sempre.

Uma flor potente

Cultivar papoilas é ilegal no Afeganistão desde 2001, o mesmo ano que os Estados Unidos e as tropas aliadas invadiram o país. Mas as autoridades locais apenas impõem a lei esporadicamente. Afinal de contas, eles beneficiam do comércio do ópio.

Da mesma forma, pela primeira vez em três anos de ocupação, o exército americano deixou os cultivadores de papoilas em paz.

Os americanos estavam lá para combater os Taliban, não para regulamentar o comércio de drogas ilícitas ou reformar os hábitos agrícolas de toda uma sociedade. Nos primeiros tempos de guerra, os planos do Pentágono removeram sítios relacionados com droga de uma lista de potenciais alvos.

O Departamento de Estado e a Agência de Aplicação de Regulamentação Relativa às Drogas (DEA), contudo, estavam determinados a acabar com as papoilas – e pressionaram o Departamento de Defesa a ajudar a abordar laboratórios e deitar ao chão campos da flor. O Departamento de Estado e a DEA argumentaram que havia uma ligação clara entre o ópio do mercado negro afegão e os Taliban.

E estavam certos. Os insurgentes atuam como intermediários no comércio de papoilas e canalizaram milhões de dólares de lucro para ataques às forças de ocupação e ao governo afegão.

Combater o terrorismo era combater o ópio, esse era o mote do DEA e do Departamento de Estado. A Rússia e as Nações Unidas, ambos a braços com devastadoras epidemias de heroína, concordam com esta avaliação. E cedendo à pressão, em 2004, as tropas dos Estados Unidos começaram a destruir os campos de papoilas.

O processo de erradicação foi longo, trabalhoso…e inútil.

Os oficiais afegãos recusaram permitir a distribuição aérea em spray de herbicidas venenosos que as dizimassem. Isso queria dizer que os soldados americanos tinham de limpar as papoilas à mão. Eles andavam pelos campos, a apanhar as flores bolbo a bolbo. Ou então passavam tractores para trás e para a frente pelos campos.

Os esforços iniciais de erradicação eram demasiado imprecisos para eliminar mais que uma fração dos campos. Mas foram destrutivos o suficiente para dizimar milhares de agricultores pobres – as mesmas pessoas a que a aliança liderada pelos Estados Unidos estava a tentar agradar com desenvolvimento caro e projetos educativos, tudo para transformar o Afeganistão em algo que se pareça com um país moderno.

A erradicação foi, na melhor das hipóteses, inútil – e na pior, perigosamente contraprodutiva.

Em 2006, os americanos mudaram as suas táticas. Enquanto a erradicação continuava, o exército e o Departamento de Estado também ofereceram aos agricultores colheitas alternativas incluindo trigo e amêndoas. A DEA designou agentes contra narcóticos vindos da Colômbia para ajudar a treinar os agentes afegãos. O Departamento de Estado construiu um tribunal de drogas de $8 milhões em Kabul.

A nova aproximação também falhou. Em 2007, numa entrevista ao The New York Times, Rob Lunnen, um advogado de acusação federal de Salt Lake City que assistiu a força de ação no Afeganistão, ao The New York Times em 2007

“Olhamos para as acusações e parecem escritas por um aluno do sexto ano."

Photo by Staff Sgt. Kaily Brown

As relações estão a piorar

Os Talibas começaram a identificar soldados e civis que trabalhavam na erradicação. Agora uma estratégia inútil, ela estava a tornar-se também muito perigosa. Entretanto, as coloridas papoilas floresciam no meio do caos.

Em 2009, as exasperadas tropas americanas desistiram finalmente. O exército abandonou as operações contra narcóticos. Mas o Departamento de Estado e a DEA continuaram a tentar a agradar aos agricultores e a treinar agentes afegãos. Os dados mais recentes do total de acres são indicativos do sucesso que tem sido.

Para muitos afegãos, as papoilas representam uma chance de escapar à pobreza.

Elas são uma colheita estável. Dão pouco trabalho. Pouco risco. Grande quantidade de encomendas. De acordo com um relatório recente do Secretariado de Drogas e Crime das Nações Unidas, o comércio de papoilas no Afeganistão valia $3 mil milhões em 2013, um aumento dos $2 mil milhões em 2012.

Um acre de papoilas pode lucrar até $10 000 ao ano. É difícil argumentar com números como estes quando se está à beira da fome e miséria.

O exército sabe disso. E também está ciente que os agricultores afegãos são uma grande fonte de informação. Eles estão lá, dia após dia, testemunhas das idas e vindas de combatentes Taliban. Eles podem ser muito úteis se estiverem dispostos a falar. Mas não estão tão dispostos quando os seus campos são destruídos.

Em anos recentes, as tropas americanas têm sofrido para evitar até a percepção de que estão a destruir papoilas.

Mea culpa

O Departamento de Estado e o Pentágono responderam ao recente memorando do inspector-geral sobre a etiqueta dos $7,6 mil milhões nos esforços de uma década de erradicação.

O Departamento de Estado estava em negação. O exército… simplesmente arrogante.

Randolph Carter, o diretor de um programa na embaixada americana em Kabul, afirmou:

“Nós estamos a fazer bons progressos na construção da capacidade dos nossos parceiros afegãos de liderar e gerir os esforços estratégicos e táticos contra narcóticos a longo termo.”

Quando ele explicou que os esforços são um “trabalho continuo”, e que não há nenhuma “bala de prata para eliminar a produção e cultivo de drogas.” Carter admitiu que os “objetivos contra narcóticos americanos só podem ser conseguidos quando estes também forem objetivos afegãos.”

Mas claro, os afegãos não querem desistir das suas papoilas – e os seus lideres não estão inclinados a fazê-lo. No que toca ao ópio afegão, o Departamento de Estado não tem poder nenhum, mesmo que não queira dar um passo em frente e admiti-lo.

O Pentágono resignou-se com a sua própria impotência há anos atrás quando interrompeu os esforços de erradicação pelo exército. Daí a resposta à carta do inspector-geral de Michael Lumpkin, Assistente do Secretário da Defesa.

“Já que o Pentágono não conduz as atividades de erradicação no Afeganistão, nós requeremos respeitosamente que remova o Secretário [de Defesa Chuck] Hagel do posto de destinatário”, escreveu Lumpkin.

O exército sabe que estoirar $8 mil milhões não funcionou para erradicar a colheita mais importante de uma nação de agricultores pobres. Não precisa que lho lembrem.

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