O futuro da indústria automóvel
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A indústria automóvel é uma das marcas da civilização moderna. Porém as últimas tendências apontam para alterações significativas no panorama automóvel. Quer saber o ponto da situação?

Há menos pessoas a conduzir neste momento do que havia antes da recessão, e isso espelha-se na diminuição do fluxo de carros nas estradas. Nos Estados Unidos, o número de veículos por condutor decresceu de 1,2 em 2007 para 1,15 nos dias de hoje, de acordo com a compilação de dados da Schroders, empresa de gestão de ativos. Os condutores mais novos dos EUA tiram a carta de condução mais tarde do que os jovens de 1983, ou até de 2008. Há menos britânicos, com idades abaixo dos 30 anos, com carta, em comparação com o ano de 1990. E são muitos os jovens dos dois lados do Atlântico a optar por nem sequer tirar a carta.

Isto pode muito bem ser o fim da estrada para os automóveis, escreve Katherine Davidson, analista de mercado automóvel na Schroders. Numa fantástica observação, diz que o mundo das vendas no sector automóvel pode não voltar atingir o pico da pré-recessão. E isto resume-se a dois fatores: urbanização e smartphones.

Ter carro não é mais sinónimo de estatuto

Grande parte da população mundial vive em meios urbanos e, os mais jovens esforçam-se para permanecer nas cidades, ao contrário dos seus pais que tentam mudar-se para os subúrbios à medida que a sua família vai crescendo e ficando mais velha. Aproximadamente dois terços dos Americanos da geração do milénio, ou pessoas que nasceram depois de 1984, vivem em cidades e 40% deles diz que não tenciona sair. Para eles "o carro não é símbolo de estatuto e tirar a carta deixou de ser uma prioridade, como foi em tempos", escreve Davidson.

Os centros urbanos são claramente menos agradáveis para os condutores e mais caros, graças ao trânsito, aos parquímetros e aos sinais luminosos. A proliferação dos smartphones – com aplicações que dão informações pormenorizadas, e em tempo real, dos transportes públicos também não ajudam. Há aplicações que chamam táxis se for necessário, como o Uber – que veio difundir a sensação entre os moradores das cidades que ter um carro é estar a assumir gastos desnecessários.

O gráfico revela que o interesse de ser dono de um automóvel baixou desde a recessão. Na faixa etária dos 55-64 esta tendência é contrariada, os valores são maiores do que eram em 2007 – note que nas idades compreendidas entre os 25 e os 34 o interesse diminuiu consideravelmente.

Novos desejos

Os smartphones também contribuíram para a redução dos automóveis ao facilitarem a comunicação entre pessoas. Foram responsáveis pela redução do número de viagens que as pessoas costumavam fazer.

A investigadora da Microsoft, Danah Boyd, constatou este fenómeno na sua recente publicação, "It’s Complicated ", nesta obra aponta o uso das ferramentas de comunicação entre os adolescentes.

"O que foram os drive-in para adolescentes nos anos 1950 e os centros comerciais na década de 1980, e o que representa o Facebook, as mensagens de texto, o twitter, e outros meios sociais, para adolescentes de hoje", escreve.

O comércio das vendas online também surtiu efeitos negativos sobre os donos de automóveis. Se as compras do supermercado forem entregues uma vez por semana em casa, as viagens que se faziam às superfícies comercias deixam agora de ser necessárias.

São precisos novos moldes

Qual o significado disto tudo para o setor automóvel?

"Partimos do princípio que haverá uma estagnação estruturada, no que concerne ao desenvolvimento do mundo da indústria automóvel, as vendas futuras não vão representar ganhos, e será impulsionada pela procura da substituição” escreve Schroders Davidson.

Nigel Griffiths, economista – chefe, em conjunto com a empresa de pesquisa IHS, adota uma postura mais otimista:

“Acreditamos realmente que há uma mudança estrutural a acontecer. A questão reside em perceber que significado terá, e que papel desempenhará a longo prazo.” Disse e acrescentou: “Estamos a ser cautelosos nas previsões”.

Uma das razões está na dificuldade de prever as mudanças estruturais, no meio de tanto ruído. O preço do gás está em queda. As taxas de câmbio estão voláteis. Não se pode ter certeza que a compra de carros vai estabilizar, numa pós-recessão.

Os mercados emergentes não indiciam positivismo. O aumento moderado de proprietários de automóveis, nos países em desenvolvimento, já originou engarrafamentos ao longo de cidades graças à debilidade do planeamento urbano, ou até a inexistência dele. De Mumbai a Nairobi, e certamente em toda a China, os transportes públicos transbordam dinheiro. Enquanto há espaço que sobre para os novos proprietários de veículos neste mercado, os sinais alertam que as economias emergentes vão aprender com os ocidentais: adotarão as novas tecnologias e evitarão construir as suas cidades em função dos automobilistas.

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