De um lado estão os que acreditam que é tarefa apenas da Reserva Federal norte-americana combater as recessões dos EUA, do outro lado estão os que opinam que a Reserva não o consegue fazer sozinha e necessita da intervenção do Congresso. Conheça as armas de cada fação.
A arena gladiatória que se forma devido a publicações em “blogs" sobre macroeconomia é sempre excitante. Um gladiador popular entre a plateia é Scott Sumner, um professor da Universidade de Bentley, que é o campeão numa equipa que se auto denomina “monetaristas de mercado”. Estes acreditam que é competência da Reserva Federal combater as recessões, não olhando a meios para alcançar um alívio financeiro que, leve o Produto Interno Bruto Nominal para uma tendência saudável. Estes travam um combate sem tréguas contra um grupo geralmente conhecido como “Keynesianos”, que acreditam que a Reserva Federal não o consegue fazer sozinha, e que é necessária a ajuda do Congresso sob a forma de medidas fiscais.
Nesta macro arena gladiatória, não existem razões para não se incorrer num pouco de provocação verbal. E por isso, Sumner não se conteve quando declarou recentemente que o Keynesianismo está morto e enterrado:
“Desde a implosão especulativa da economia Keynesiana em 2013, tenho visto cada vez mais tentativas desesperadas para, de alguma forma, recuperar o modelo.”
O principal argumento dos monetaristas de mercado contra os Keynesianos é que, as despesas do Governo Federal dos Estados Unidos, e o défice, têm diminuído relativamente ao Produto Interno Bruto nos últimos anos, e que isso não os levou à ruina económica. Só para referência, aqui fica uma imagem com as despesas do Governo Federal:
E aqui fica uma imagem do Produto Interno Bruto real:
Como se pode ver, os gastos governamentais estagnaram durante cerca de quatro anos (e os défices caíram) mas o PIB continuou a crescer. Na perspetiva dos monetaristas de mercado, caso encerrado – o Keynesianismo está morto.
Naturalmente, os Keynesianos discordam. Alguns afirmam que as despesas são mais importantes que os défices – visto que as despesas Federais se mantiveram estagnadas, o efeito geral de políticas fiscais foi neutro em 2013. Outros podem afirmar que, o que importa são as despesas totais do governo, incluindo despesas estatais e municipais, que aumentaram consideravelmente em 2013. O Summer, numa publicação sua, afasta estas objeções, acusando os Keynesianos de um “jogo de mentiras”, na qual eles dão importância a qualquer método, desde que este suporte a sua posição.
Os Keynesianos, obviamente, não ficaram de braços cruzados. Robert Waldmann, um bloguista e notório gladiador pela equipa dos Keynesianos, respondeu numa publicação sua. Ele revê os registos de pessoas, e grupos, que fizeram previsões macroeconómicas em modelos que podiam, de um modo geral, ser descritos como Keynesianos, e descobre que não se saíram assim tão mal. Numa outra publicação ele reflete sobre o assunto, a qual não vou tentar resumir, mas que suporta a posição Keynesiana.
Guerra infinita
A razão pela qual não vou resumir essa publicação – ou as demais que têm sido escritas e rescritas sobre o assunto – é porque existe uma infinidade de argumentos que se podem fazer quer de um lado, quer do outro. Os gladiadores nunca irão ficar sem armas.
Os Keynesianos, se assim o desejarem, podem enunciar medidas fiscais diferentes – as despesas federais, despesas totais, as compras governamentais (que não incluem pagamentos), ou défices. Podem afirmar que a tendência subjacente económica estava em baixo quando a medida estava em alta, ou que a tendência estava em alta quando a medida estava em baixa, significando que, o que aparentava ser uma linha suave, poderia ser interpretada como um efeito real da medida aplicada. Também podem alternar entre teorias do “Novo Keynesiano” e o “Velho Keynesiano” conforme lhes apeteça, o que é bastante vantajoso visto que cada teoria vem com “vários sabores”.
Os monetaristas de mercado veem a sua vida ainda mais facilitada. O seu credo é que o Governo Federal é basicamente omnipotente, e que tudo o que aconteça é resultado de A) Medidas Federais, ou B) especulação sobre Medidas Federais. Se as despesas governamentais aumentam e o PIB aumenta, os monetaristas de mercado podem dizer que não foi devido a medidas fiscais, mas porque o Governo Federal decidiu ser mais brando, e que as pessoas se aperceberam disso. Também podem usar um truque mais banal – se o Governo Federal decide apertar mas o crescimento não se afunda, podem dizer que foi este que suavizou o que de outra forma, teria sido uma súbdita explosão no crescimento.
Para piorar as coisas, todos os gladiadores deste combate estão a olhar para informações cronológicas com ruído, com amostragens bastante pequenas, e fazendo inferências sobre políticas que podem ou não funcionar com atraso, num ambiente em que tudo se encontra em constante mudança. E os gladiadores podem escolher livremente cada ponto de informação que suporte a sua tese, e ignorar os restantes.
Um econometrista iria ficar pálido se lhe fossem apresentadas este tipo de análises. Nem sequer as via. Em vez disso, iria fazer um estudo histórico, e em vez de escolher pontos recentes, usaria informação tão antiga quanto conseguisse. Também iria utilizar alguma teoria para ser ir orientado no processo. E mesmo assim, as suas conclusões viriam com enorme incerteza.
Então, quem tem razão? A reposta é que não podemos saber ao certo. Chris Sims, vencedor do prémio Nobel da Economia em 2011, encontrou várias evidências de que medidas económicas têm um efeito na economia. Macroeconomistas prestigiados, tais como Robert Hall, constataram que, politicas fiscais também produzem efeito. Talvez os monetaristas de mercado e os Keynesianos estejam, simultaneamente um pouco certos, e um pouco errados.
Mas, ilações como estas, têm muito menos piada que um divertido combate de gladiadores.