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Estamos num momento em que se questiona os fundamentos da União Europeia, o limite da solidariedade dos povos europeus e o futuro que a Europa pode construir. Este testemunho de uma mulher italiana representa um dos lados do debate. E você, revê-se nas palavras dela?

Nasci na Itália, mas cresci na Europa.

A Europa de Schengen, dos intercâmbios Erasmus, do desenvolvimento para a “entrada na Europa” que era, na verdade, apenas a Zona Euro – porque realmente fundámos a Europa, nós éramos Europa.

Na viragem do século a Europa era referida como um espaço externo no qual estávamos prestes a entrar. Um velhote da terra-natal da minha avó – uma pequena aldeia escondida nas montanhas do Sul de Itália – comentou com um amigo:

“Não sei por que é que estamos todos a entrar na Europa ao mesmo tempo? Talvez eu deva ir, ver como é, e depois juntas-te também?”

Mas entrámos – todos juntos, de facto – nesta nova fase da nossa história. Lembro-me da conversão gradual das liras – tantas! – em euros – tão poucos. Ainda assim foi emocionante. A Europa era real e estava nos nossos bolsos.

O euro parecia-me a mais maravilhosa das moedas – lembro-me de verificar a parte de trás das moedas para ver de onde tinham viajado: França? Grécia? Alemanha? – embora todas com os mesmos valores. Era exatamente como a União em que eu acreditava: tantas línguas, climas, alimentos, tradições, mas os mesmos valores – tão difícil de definir e contudo tão distinguível pois havia, e indubitavelmente ainda há, a sensação de ser Europeu.

Eu tinha precisamente começado a Universidade nessa altura. Quatro anos depois fui para Paris com uma bolsa Erasmus – que desde 1987 proporcionava a mobilidade de alunos entre universidades Europeias. Aprendi uma língua nova e conheci outros alunos de Espanha, Portugal, Alemanha – de todos os cantos da Europa. Para alguns a vida deu voltas sem precedentes – algumas das quais estão consagradas nos seus filhos, que são metade isto e metade aquilo, mas totalmente Europeus.

Essa era a Europa que eu queria e amava. O sábio e velho continente, sempre presente e que depois de fazer todos os erros humanamente possíveis (e foram muitos erros) se tornava finalmente em motivo de orgulho.

O que eu não sabia, quando a Europa ainda parecia um sonho, é que estava prestes a tornar-se um pesadelo económico.

A minha geração é a chamada “geração perdida” da Europa. Em Itália somos chamados “geração 1.000€” (a geração mil euros) – porque é o que muitos podem esperar receber, aos 30 anos, independentemente da educação que tenham tido, se tiverem emprego.

As crianças que cresceram com a Europa, na Europa, viram-na transformar-se de uma grande oportunidade num usurário que se apoderou do nosso futuro.

Não é possível sonhar muito com a Europa que vemos agora. É um conjunto infeliz de bancos, dívidas sem fundo e contas. Parece um impiedoso deus ex machina que continua a exigir taxas altas e cortes mesmo depois de as pessoas já terem sacrificado mais do que era possível.

Isto não pode ser aquilo em que os últimos 60 anos da nossa história coletiva se traduzem – uma realidade onde um Eurocrata (Jyrki Katainen, vice-presidente da Comissão Europeia) se atreve, assumidamente, a dizer:

“Não alteramos a nossa política segundo as eleições.”

Esta Europa está desalmada – é o monstro que se ganha quando se faz economia sem política. Porque somos cidadãos, antes de sermos contribuintes, e nenhuma instituição que se diz democrática pode exigir do último sem ouvir o primeiro.

Umberto Eco disse, em 2012, relativamente ao futuro da Europa

“Diante da crise da dívida europeia, falo como indivíduo que não entende nada de economia, temos que nos lembrar que somente a cultura, aparte da guerra, vincula a nossa identidade.”

Eu sou Italiana. Eu sou Europeia. Quando vejo as imagens de milhares de ajuntamentos em Atenas a apoiar os esforços do seu governo para terminar com a austeridade – também sou Grega. Vejo a minha Europa, na Praça Syntagma. Vejo democracia e a reivindicação de cooperação.

Os Gregos não estão a protestar contra a Europa, estão a protestar contra as políticas do seu banco central.

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