O facto de os investidores presentemente investirem largamente em IPOs de empresas que estão a perder dinheiro leva a que muitos analistas receiem que se esteja a repetir o perigoso padrão de final dos anos 90. Porém, mostramos-lhe que as circunstâncias de hoje são bastante diferentes. E então, em que IPO irá investir?
Das 206 empresas que tiveram ofertas públicas iniciais (IPO) nos Estados Unidos em 2014, 71% não teve lucro no ano antes da sua IPO. Esta é a maior percentagem desde a era “ponto com”, o que levou a CNN Money a declarar esta semana que os fantasmas do fim dos anos 90 estão de volta.
Os números, coletados todos os anos pre Jay R.Ritter, um professor de finanças na Universidade da Florida, mostram, de fato, uma vontade dos investidores em comprar ações de companhias que estão a perder dinheiro.
O que o gráfico também mostra, é que uma mudança ocorreu no fim dos anos 90. A partir de 1996, mais ou menos, os investidores em IPOs estavam – excepto nas profundezas da grande recessão – dispostos a comprar dentro de companhias que estavam a perder dinheiro, de uma forma que nunca antes tinham estado. Mas a maioria dos outros fatos sobre o mercado de IPO de hoje não se parecem nada com os dos anos 90. Até porque não existem tantas empresas a ir a público.
Até o recente crescimento nas IPO é um pouco enganador, dado que é devido, principalmente, a um crescimento sem precedentes nas IPO biotécnicas. Existiam 74 em 2014 desse tipo, pelas contas de Ritter, um recorde (o número maior tinha sido 56 em 2000). As IPO tecnológicas, entretanto, voltaram apenas aos níveis de 2004 a 2007.
As IPO biotécnicas ainda são IPO como eram no fim dos anos 90. Pequenas empresas sem receitas, mas muito prometedoras, que vão a público para angariar dinheiro que precisam para voltar a trazer o seu produto para o mercado. É interessante ver como tantas têm ido a público, e é de grande importância para a indústria farmacêutica. No entanto esta situação não tem muito que ver com o que se passa no resto do mercado de IPO.
No resto do mercado das IPO, as companhias estão a esperar mais para se virem a público. Elas são muito maiores e melhor estabelecidas, que as mais novas que inundaram o mercado em 1999 e 2000.
O mais estranho para todos os que ainda pensam em termos das IPO dos anos 90, é que a maioria das empresas que vão a público, estes dias, não o fazem pelo dinheiro. “As IPO tornaram-se primeiro que tudo um evento de saída, depois um evento de marcação, e só depois um evento de angariação de fundos,” diz Tony Tjan, capitalista de risco, da Cue Ball Capital de Boston. Tjan explica – e não são propriamente notícias novas – que isto é porque as companhias conseguem arranjar muito mais dinheiro nos mercados privados do que conseguiam 15 anos atrás.
Para um exemplo disso olhemos para as rivais clouds de armazenamento, Box e Dropbox. A Box tornou-se pública o mês passado numa IPO que angariou 175 milhões de dólares. Antes disso tinha angariado 559 milhões de dólares de fontes privadas, de acordo com a CrunchBase, arrecadando um total de $734 milhões. A Dropbox, ainda é privada, e angariou 1,1 mil milhões de dólares. Isto também ajuda a explicar porque é que tantas empresas (a Box entre elas) têm receitas negativas quando vão a público. Elas não são as atabalhoadas empresas em início, como as de 1999 ou 2000. Elas já são empresas mais ou menos estabelecidas, que estão a gastar somas enormes que capitalistas de risco e outros investidores privados lhes deram numa tentativa de se transformarem rapidamente em gigantes.
Este imperativo de crescerem imenso é o que leva à maioria das mudanças nas IPO e nos negócios que estão no inicio, em geral, pensa Ritter. No artigo de 2013, “Where have all the IPOs gone?” (não podemos fornecer um link direto, mas pode ser baixado no site de Ritter), ele e os co-autores Xiaohui Gao e Zhongyan Zhu argumentam que o longo declínio nas IPO é o resultado não dos crescentes encargos regulatórios ou das mudanças nos mercados financeiros (as duas explicações mais populares), mas sim de uma dinâmica em que o “vencedor leva tudo” em prática na economia. Os negócios estão a crescer; as companhias mais pequenas encontram cada vez mais dificuldades para se manterem.
“Independentemente do que mudarem os regulamentos, não vamos ter muitas pequenas empresas a ir a público como nos anos 80 e 90,” disse Ritter.
Abaixo segue uma clara explicação do que acontece com as empresas financiadas por capital de risco. Trinta anos atrás a maioria das empresas que receberam este tipo de financiamento, posteriormente, acabaram por se tornar empresas públicas. Hoje, frequentemente, elas são "engolidas" por suas grandes concorrentes.
Toda esta informação vem de um trabalho com pesquisa recente por economistas, que mostra o declínio do dinamismo dos negócios nos Estados Unidos, com mais concentração e menos companhias em início de vida. Ritter acha que forças semelhantes têm estado por trás do crescimento desigual das receitas. A tecnologia e a globalização estão a canalizar as recompensas da economia para um grupo de pessoas mais pequeno – as corporações.
Por isso, basicamente, o mercado corrente de IPO não é muito parecido com o dos anos 90, de todo. Só não é claro se isso é bom ou mau.