Dinheiro para quem mais precisa
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Foi feita uma experiência em que se deu dinheiro, sem qualquer contrapartida, a pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Havia receios de que esse dinheiro fosse gasto em jogo ou álcool, mas os resultados foram diferentes do esperado.

Há uns meses atrás, fizemos uma reportagem sobre uma beneficência chamada GiveDirectly, que está a tentar ajudar pessoas pobres do mundo em desenvolvimento de uma forma pouco comum: enviando-lhes dinheiro sem quaisquer condições ou restrições. A ideia por detrás disto é simples. As pessoas pobres sabem do que precisam, e se lhes der dinheiro elas poderão comprar essas coisas.

Mas para alguns veteranos do mundo da caridade, dar assim dinheiro é preocupante. Quando fizemos a primeira reportagem sobre esta questão, falámos com Carol Bellamy, antiga dirigente da UNICEF, e que disse que as pessoas poderiam gastar esse dinheiro em coisas como álcool ou jogo.

Para verificar se isso de facto acontecia, vários investigadores realizaram uma experiência. Vigiaram pessoas no Quénia que receberam dinheiro por parte da GiveDirectly e um grupo semelhante de pessoas que não receberam nada.

Os resultados do estudo foram encorajadores, diz Johannes Haushover, um economista do Poverty Action Lab do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que foi coautor do estudo:

“Não vemos as pessoas a gastar dinheiro em álcool e tabaco. Em vez disso, vemos eles a investir na educação dos filhos, em cuidados de saúde. Compram mais comida e de melhor qualidade. As pessoas utilizaram o dinheiro para comprar vacas e criar negócios. Os seus filhos tiveram menos vezes fome.”

Mostrei os resultados a Bellamy, a ex-diretora da UNICEF que tinha sido cética em relação a dar-se dinheiro.

“Fiquei impressionada,” diz ela. “O retorno de investimento foi mais positivo do que aquilo que eu estava à espera.”

Houve duas áreas nas quais o estudo não obteve melhorias significativas. Apesar de as pessoas estarem a gastar mais dinheiro na saúde e na educação, não pareceu surtir grande efeito. As pessoas que receberam dinheiro ficavam doentes quase tantas vezes como as que receberam menos. E as taxas de presença nas aulas dos seus filhos não mudaram muito. Bellamy afirma que essas descobertas sugerem que, apesar de o dinheiro parecer ajudar num curto prazo, ainda não há certezas se também o faz num longo prazo.

Paul Niehaus, um dos fundadores da GiveDirectly, acredita que o dinheiro pode ter efeitos de longa duração. Ele indica um estudo semelhante que ocorreu no Uganda, em que o governo deu dinheiro às pessoas e os seus rendimentos subiram – e assim se mantiveram, mesmo alguns anos mais tarde. As pessoas utilizaram o dinheiro para criar pequenas empresas, tais como de exploração de metais ou de costura de roupa.

Niehaus diz que para ele, os resultados mais interessantes desta nova investigação foram as melhorias na saúde mental. Receber o dinheiro tornou as pessoas mais felizes, menos stressadas. Niehaus comenta:

“Começa-se a aperceber-se cada vez mais que ser-se pobre é mesmo muito stressante, e que isso pode dificultar na organização e no planeamento da nossa vida, assim como de tomar boas decisões. Se há uma coisa que dar dinheiro às pessoas está a fazer é permitir que se sintam mais sãs e que têm controlo sobre a sua vida, e essa pode bem ser uma das coisas mais importantes”.

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