Quando os economistas dizem que conseguem "explicar" alguma coisa, cuidado: a compreensão que eles possuem da palavra “explicar” pode ser muito diferente da sua.
Há vários anos atrás, no despertar imediato da crise financeira, o economista Ricardo Caballero escreveu sobre o que ele chamava de "síndroma de aparência de conhecimento" na academia. Os economistas, afirmou ele, tinham-se tornado "tão hipnotizados" com a lógica interna das suas teorias que muita da disciplina – até a vertente diretamente envolvida com a criação de regras – tinha caído em fantasia. Até quando estudavam problemas relacionados com a crise, tais como as bubbles, os pânicos financeiros e as vendas de liquidação total, eles encaminhavam estes temas para a periferia da macroeconomia, que no seu núcleo valorizava a elegância matemática acima da utilidade.
Não se alterou muito desde então. Isso, pelo menos, é a conclusão de Itzhak Gilboa e de um grupo de economistas que tentaram recentemente compreender por que razão a sua profissão opera de modo tão diferente das outras ciências. Os economistas acadêmicos, dizem eles, utilizam o termo "explicação" de uma forma que os outros cientistas nunca fariam. Em vez de desenvolver teorias realísticas e verificáveis como as de biologia ou física, eles frequentemente ambicionam apenas em desenvolver "casos teóricos" – mundos matemáticos imaginários com as suas regras de causa e efeito.
Modelos inúteis
Desnecessário será dizer, a utilidade de tal modelo para a criação de normas dependeria em que ponto este modelo corresponderia à realidade. Ainda assim, Gilboa e os seus colegas sugerem que a maior parte dos economistas não encaram a confirmação da validade externa dos seus modelos como parte do seu trabalho. Em vez disso, gostam de assumir tudo o que seja necessário para confirmarem os seus resultados, serem publicados numa revista, e aí "deixarem os julgamentos semelhantes aos praticantes." Se os seus resultados forem inadequadamente aplicados ao mundo real, o problema não é deles. De maneira alguma isto ameaça a reputação das teorias que eles estiveram a desenvolver. O perturbador disto é que a maioria dos cientistas achariam que arriscar a reputação de uma teoria é a essência de uma boa conduta.
A ciência não é apenas a criação de analogias, mas também a separação de analogias úteis das não-tão-úteis. Os modelos falsos são fontes de confusão.
Infelizmente, tudo isto tem consequências reais. Há alguns anos atrás, por exemplo, o economista George Akerlof observou que um número de teoremas derivados da abordagem matemática moderna à macroeconomia parecia demonstrar coisas espantosas – que a política monetária não deveria ter qualquer efeito na produção econômica, por exemplo, ou que a despesa pública não incita o consumo. Estas conclusões são apoiadas em premissas totalmente irrealistas, como é comum em "casos teóricos." Contudo, vários economistas ainda usam tais teoremas como se devessem informar o governo das suas ações.
O trabalho de Gilboa e dos seus colegas mostra a razão pela qual os economistas parecem tão estranhos quando comparados com outros cientistas: eles esperam realmente menos das suas explicações. Obviamente, a criação de modelos baseados em premissas irrealistas pode ser uma forma útil de pensar em problemas difíceis e chegar mais próximo de teorias que retratam melhor o mundo real. Contudo não deve ser uma maneira de conceber medidas que afetem o modo de vida de milhões de pessoas.