A tentativa falhada dos Estados Unidos mobilizarem os seus aliados para não aderirem ao AIIB (Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura) promovido pela China dá ao Ocidente um grande exemplo sobre como não se deve lidar com a China. Qual será então a estratégia adequada?
A criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura por parte da China e a resposta atrapalhada dos EUA deram a Pequim uma boa vitória diplomática. Este episódio é um estudo de caso sobre o que não deve fazer ao lidar com a maior potência emergente do mundo.
Antes que o mesmo volte a acontecer, os EUA e os seus aliados devem fazer uma pausa e refletir.
A China tem dois objetivos com a criação desta nova instituição internacional.
- Primeiro, pretende um canal adicional para os excedentes das suas poupanças – uma forma de emprestar capital no estrangeiro que desvie a resistência dos mutuários preocupados em ficar sob o poderio chinês. (Ultimamente, vários projetos de construção chineses deram lugar a protestos desde o Sri Lanka à Zâmbia.)
- Segundo, os governantes chineses anseiam o respeito das outras nações e procuram uma importância global que creem poder vir a atingir com a sua força económica em crescimento.
Nenhum dos dois objetivos é irracional. O Ocidente não tem de oferecer resistência a nenhum deles como estratégia essencial – além de que de qualquer forma, essa tentativa teria a longo prazo pouca prospetiva de sucesso. Contudo, o pior que pode acontecer é opor-se aos planos da China e depois falhar, especialmente de uma maneira que divida o próprio Ocidente contra si próprio. Foi exatamente isso que aconteceu.
Os EUA pediram aos seus amigos da Europa para não se tornarem membros do AIIB. Considerando essa entrada como uma oportunidade de negócio e aparentemente com vontade de cair mais nas boas graças da China do que dos EUA, os líderes europeus competiram para se juntar ao banco como membros fundadores. Assim, os líderes chineses conseguiram não só o seu AIIB como também separar os EUA dos seus aliados, impulsionando ainda mais a importância da China do que o que tinha sido originalmente planeado.
O Ocidente não pode esperar, e nem devia querer, abrandar o crescimento da China e sufocar todas as suas ambições de liderança. Em vez disso, deveriam focar-se em dar à China e a outros grandes países em desenvolvimento a sua parte justa de poder na governança global – através de instituições tais como o Fundo Monetário Europeu e o Banco Mundial – ao mesmo tempo que insistir para que a China respeite o Direito Internacional.
Foi exatamente o atraso na reforma de instituições multilaterais por parte dos EUA e da União Europeia que encorajaram a China a criar o AIIB, e isso foi um erro. O seu fracasso em coordenar a resposta aos novos planos chineses agravaram ainda mais esse erro.
Os EUA calcularam mal, não há dúvida, mas a Europa também é um pouco culpada. Trazer a China para um sistema de cooperação global – garantindo que a China se comporta como uma boa cidadã e não apenas uma potência cada vez mais poderosa – exige um Ocidente unido. A Europa, relutante e incapaz de liderar, espera que sejam os EUA a assumir essa posição, e por esse motivo devem deixá-los fazê-lo.
Ao envergonhar os EUA com o AIIB, os líderes europeus enfraqueceram-se ainda mais. A sua luta por vantagem nacional só vai encorajar a China a pressionar cada vez mais. A China vai ponderar: dividir e governar resultou desta vez. Onde é que isto poderá resultar também?
O melhor agora é tentar aproveitar ao máximo esta nova instituição. Pode ser valiosa. Um pouco de competição poderá estimular o Banco Mundial e o Banco Asiático de Desenvolvimento a fazerem melhor. (São ambos criticados e com razão por serem tornado desequilibrados e lentos.) O sucesso da China também deverá impulsionar os EUA e o Japão a terminar os obstáculos que ainda existem para o acordo de comércio de Parceria Transpacífica, lembrando aos vizinhos da China que relações económicas próximas com os EUA ainda valem muito. No entanto, os EUA também devem ao mesmo tempo lembrar a China de que os seus esforços para redesenhar o mapa do mar do sul do seu país ou limitar o espaço aéreo do Mar Oriental são inadmissíveis, pois enfraquecem a segurança dos EUA e dos seus aliados. Os ataques informáticos criados para impedir a livre circulação de informação na Internet também são inconsistentes com o tipo de parceira que a China diz querer ter.
Uma China mais confiante não é necessariamente uma ameaça. Mas também não é totalmente boa. Os EUA e a Europa têm de saber a diferença e começar a trabalhar como aliados.