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Estados Unidos e Israel insurgem-se contra a decisão, pois isso dificultaria um eventual ataque aéreo a alvos nucleares do país. A Rússia afirma não poder ignorar os aspetos comerciais de tal transação.

A decisão da Rússia de levantar o embargo ao fornecimento de um sistema de mísseis de defesa antiaérea ao Irão, em pleno curso de negociações nucleares, levantou objeções dos Estados Unidos e fortes críticas de Israel.

O presidente russo Vladimir Putin anulou a proibição, autoimposta em 2010, de exportar o sistema de mísseis S-300, colocando mais um obstáculo às tentativas do presidente norte-americano Barack Obama em ganhar o apoio interno para o acordo acerca do programa nuclear iraniano.

Segundo a Casa Branca, o secretário de Estado John Kerry comunicou as suas preocupações ao seu congénere russo, o ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov.

O assessor de imprensa da Casa Branca, Josh Earnest, afirmou:

“Penso que é seguro afirmar que a Rússia compreende que os Estados Unidos levam muito a sério a segurança e o bem-estar dos nossos aliados na região”.

Se a Rússia completar o fornecimento, o sistema de mísseis irá fortalecer a defesa iraniana contra qualquer ofensiva que vise atacar o seu programa nuclear. Simultaneamente, iria também abrir a porta comercial da Rússia para o Irão, uma vez que as negociações para limitar o programa nuclear iraniano criam perspetivas para reverter as sanções económicas.

“Estes sistemas não tornarão o Irão invencível, mas irão aumentar significativamente o custo de uma operação militar contra o país”, considerou Vasily Kashin, um investigador do Centro para Análise de Estratégias em Moscovo.

“Armas avançadas”

Israel avisou que este passo da Rússia permitiria ao Irão “munir-se de armas avançadas e aumentar a sua agressão”.

“Este é o resultado direto da legitimidade que o Irão recebe através do acordo nuclear”, afirmou o ministro israelita da Informação e Assuntos Estratégicos, Yuval Steinitz. “É a prova de que a retirada de sanções iria ser seguida pelo crescimento económico no Irão, que seria explorado para o armamento do país e não para o bem-estar da população iraniana”, conclui.

Sergei Lavrov

O responsável russo afirmou em comunicado que o sistema S-300 é uma arma “puramente defensiva” e que o fornecimento ao Irão não irá “ameaçar a segurança de qualquer estado na região, incluindo, obviamente, Israel”.

A Rússia não pode ignorar os “aspetos comerciais e de reputação” e não vê qualquer razão para não cumprir o contrato, dado o progresso das negociações com o Irão, afirmou Sergei Lavrov.

Contrato de 2007

O Irão e a Rússia assinaram em 2007 um contrato de 800 milhões de dólares para a entrega destes sistemas. A Rússia suspendeu o fornecimento três anos depois, após as Nações Unidas terem imposto um embargo àquele país. Lavrov afirma que o embargo não restringe a entrega de um sistema de defesa antiaérea, e que a decisão da Rússia em suspender o seu fornecimento foi “totalmente voluntária”.

Irão e representantes da Rússia, EUA, China, França, Alemanha e Reino Unido anunciaram no dia 2 de abril a negociação de uma moldura de trabalho política para resolver o confronto sobre o programa nuclear iraniano, de forma a que este seja restrito ao desenvolvimento civil e que não possa ser utilizado para construir uma bomba. O Irão nega que esteja a procurar desenvolver armas nucleares, e um acordo final tem de ser negociado a 30 de junho.

Vasily Kashin afirmou que o sistema S-300 não deverá estar operacional antes de 2017, muito depois do prazo dado ao Irão para cumprir com as restrições de um acordo nuclear.

“Mesmo que um contrato fosse assinado amanhã, seria necessário esperar até ao final do próximo ano para produzir as primeiras entregas e mais um ano para treinar as forças iranianas para operar o sistema”, afirmou Kashin. “Estamos convencidos que, por esta altura, a necessidade para este tipo de embargo, e o embargo voluntário da Rússia, já não fazem qualquer sentido”, considera Lavrov. Tendo em consideração a situação tensa na região, particularmente no Iémen, o Irão tem uma necessidade vital de possuir um sistema de defesa antiaérea moderno, afirmou.

Treino necessário

A decisão russa em acabar com a proibição para a venda de mísseis surge numa altura em que o Irão shiita está envolvido num confronto crescente com a Arábia Saudita e os seus aliados sunitas sobre o conflito no Iémen.

Os sauditas, que lideraram uma coligação de 10 nações que durante mais de duas semanas produziu ataques aéreos sobre os rebeldes shiitas no Iémen, têm vindo a mostrar a sua preocupação acerca da crescente influência iraniana em pontos-chave do Médio Oriente, onde o Irão frequentemente se encontra ao lado da Rússia de Putin.

A decisão da Rússia também surge numa altura em que Barack Obama está a tentar impedir movimentações do congresso norte-americano no sentido de chamar a si a autoridade para aceitar ou rejeitar um acordo nuclear final com o Irão.

O presidente norte-americano está a programar reuniões com os responsáveis das organizações judaicas americanas e com apoiantes políticos judeus, enviando ao capitólio John Kerry, o secretário de Tesouro Jacob J. Lew e o secretário de Energia Ernest Moniz para colocarem os congressistas a par das negociações.

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