Página principal Análise

Apesar do Estado Islâmico ser percecionado como dirigido por fanatismo religioso, no seu cerne está uma estrutura militar e de espionagem altamente organizada, encabeçada por antigos oficiais de elite do exército de Saddam Hussein. Assim sendo será a “estratégia” ocidental a mais indicada para fazer face a esta ameaça?

Embora a propaganda ocidental faça com que o Estado Islâmico pareça ser dirigido pelo fanatismo religioso, este, em vez disso, como relata a estação televisiva Russia Today tem funcionado mais como um serviço de inteligência secreta, andando a calcular cada operação e elaborar planos secretso para um controlo da Síria há anos.

De acordo com planos detalhados de tabelas de organização e de estratégia vistos pela revista alemã Der Spiegel, foi revelado que o ex-coronel do serviço de inteligência da força de defesa aérea de Saddam Hussein (entre muitos ex-oficiais de Saddam que agora compõem a liderança do ISIS) era quem dirigia o ISIS há anos. Desde recrutamento e formação a táticas PsyOps e estratégia global, o cérebro da operação ISIS, Haji Bakr, chegou ao poder depois de se ter tornado "amargo e desempregado", quando os EUA de repente dissolveram o exército iraquiano depois da invasão de 2003.

Quando Haji Bakr foi baleado e morto depois de uma breve troca de tiros na cidade de Tal Rifaat numa manhã de Janeiro, em 2014, nem mesmo aqueles na missão conheciam a verdadeira identidade do homem alto, de quase sessenta anos. Samir Abd Mohammed al-Khalifa era o nome verdadeiro do iraquiano e, como relata o Der Spiegel, o ex-coronel do serviço de inteligência da força de defesa aérea de Saddam Hussein era quem dava as ordens no Estado Islâmico há anos.

Mas quando o arquiteto do Estado Islâmico morreu deixou algo para trás que tinha a intenção de manter estritamente confidencial: o modelo para este estado. Este é uma pasta cheia de organogramas manuscritos, listas e horários, que descrevem como um país pode ser gradualmente subjugado. O Der Spiegel teve acesso exclusivo às 31 páginas, algumas consistindo em várias páginas coladas.

Estas revelam uma composição de várias camadas e diretrizes para a ação, algumas já testadas e outras recém-criadas para a situação anárquica em territórios controlados pelos rebeldes da Síria. De certo modo, os documentos são o código-fonte do exército terrorista de maior sucesso na história recente.

Pela primeira vez, os documentos de Haji Bakr tornam agora possível chegar a conclusões sobre a forma como a liderança do estado islâmico é organizada e qual o papel que ex-funcionários do governo do ex-ditador Saddam Hussein desempenham. Acima de tudo, no entanto, eles mostram como a tomada de controlo do norte da Síria foi planeada, fazendo com que os avanços posteriores do grupo sobre o Iraque fossem possíveis.

"A nossa maior preocupação era que estes planos pudessem cair nas mãos erradas e nunca fossem conhecidos", disse o homem que tinha estado a esconder as notas de Haji Baker depois de as puxar de debaixo de uma pilha alta de caixas e cobertores. O homem, temendo os esquadrões de morte do EI, deseja permanecer anónimo.

O "Senhor das Sombras", como alguns lhe chamavam, esboçou a estrutura do Estado Islâmico, até ao nível local, compilou listas relativas à infiltração gradual das aldeias e determinou quem iria supervisionar quem. Usando uma caneta esferográfica, desenhou as cadeias de comando nos aparelhos de segurança em papel de carta. Embora provavelmente uma coincidência, o papel de carta era do Ministério da Defesa da Síria e ostentava o papel timbrado do departamento encarregado de acomodações e móveis.

O que Bakr colocou em papel, página por página, em caixas cuidadosamente delineadas para as responsabilidades individuais, era nada menos que um modelo para uma invasão. Não era um manifesto de fé, mas um plano tecnicamente preciso de uma "Inteligência do Estado Islâmico" – um califado gerido por uma organização que se assemelha à Stasi, a notória agência de inteligência doméstica da Alemanha Oriental.

Página por página os documentos revelam um plano sofisticado e, como relata RT, não tanto para a jihad, mas para a construção de um califado gerido por cálculos frios…

Os gráficos e as cadeias de comando planeadas pelo principal estrategista da organização revelam uma estrutura de Serviços Secreto claramente definida com departamentos de vigilância e segurança, prisão e divisões de interrogatório, armas e especialistas em tecnologia, bem como juízes da lei Sharia e instrutores.

Os registros, relata o Spiegel, contêm detalhes de operações de espionagem do ISIS e outras atividades de inteligência para obter poder secretamente em territórios do seu interesse e para se certificarem de nenhuma dissidência seria possível depois de uma real invasão armada.

Os documentos explicam como os homens seriam inicialmente recrutados pelo ISIS em cidades e aldeias-alvo, através de células locais disfarçadas de centros missionários islâmicos. Os recrutas, de seguida, informariam a liderança do ISIS sobre os nativos com mais poder, bem como quais as suas fontes de rendimento, orientação política e qualquer outra informação que pudesse ser usada para os chantagear mais tarde.

Num dos papéis o chefe do ISIS Haji Bakr, cujo nome verdadeiro era Samir Abd Mohammed al-Khalifa, tinha anotado:

"Os mais inteligentes nomeamo-los sheiks da Sharia... Treinamo-los durante algum tempo e, de seguida, enviamo-los para algum lado."

"Irmãos" seriam selecionados em cada cidade para se casarem com as filhas das famílias mais influentes, a fim de "assegurar uma penetração nessas famílias sem o seu conhecimento."

A liderança do Estado Islâmico reuniu todas as informações úteis para dividir e subjugar a população local. No que toca à Síria, usaram quem puderam e mudaram alianças sempre que lhes apeteceu, com os seus informantes, incluindo ex-espiões de inteligência, bem como com os opositores do regime.

Outra fase do plano incluiu a eliminação de todas as pessoas poderosas e potenciais líderes que pudessem organizar a população local contra os infiltrados. Mas em cidades onde a resistência se tornou muito forte, descreve a publicação, o ISIS retirou-se temporariamente permitindo aos rebeldes sírios locais enfrentar as forças do governo.

A organização terrorista aparentemente realizou a maior parte dos seus planos, e no final de 2012 as coisas na Síria estavam uma confusão, com o presidente Assad empurrado para o fundo, enquanto centenas de conselhos locais e brigadas rebeldes tomavam o controlo do território. Esta anárquia foi explorada por este grupo extremamente organizado de ex-oficiais para criar o califado terrorista que hoje atravessa grande parte da Síria e do Iraque.

Como observámos anteriormente, os ex-oficiais do exército de Saddam agora dominam a liderança do ISIS. Bakr era "altamente inteligente, firme e um excelente lógico", como um jornalista iraquiano descreveu o ex-oficial. Mas quando os EUA de repente dissolveram o exército iraquiano depois da invasão de 2003, ele tornou-se "amargo e desempregado."

Deixamos a conclusão da Russia Today, sumariando perfeitamente a falta de pensamento estratégico na política externa dos Estados Unidos:

A razão pela qual o Estado Islâmico é tão bem sucedido como organização terrorista é em parte porque muitos dos seus membros fundadores, incluindo o principal estrategista, faziam parte do aparato de segurança profissional de Saddam Hussein. Quebrando o exército bem treinado de Saddam, os EUA aparentemente criaram um grupo de inimigos muito inteligentes e bem preparados.

Strawberry Cake Media Corp. © 2024 Política de Cookies Equipa editorial Arquivo

O ihodl.com é uma publicação digital ilustrada sobre criptomoedas e mercados financeiros.
Publicamos diariamente conteúdo relevante para quem se interessa por economia.