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Confirmando-se a provável possibilidade do atenuar das sanções ao Irão, o país pode ver um aumento exponencial do investimento estrangeiro. Quais serão os maiores atrativos iranianos?

Enquanto as seis maiores potências do mundo negoceiam um acordo nuclear com o Irão, as empresas petrolíferas americanas e europeias já estão de olho nos potenciais benefícios de reinvestir no sector petrolífero do país. Se as sanções forem atenuadas, estas empresas estão bem posicionadas para proporcionar a tecnologia e o equipamento mais avançados que o Irão precisa para desenvolver ainda mais as suas indústrias petrolíferas e do gás natural. O Irão tem um grande potencial pois é detentor da quarta maior reserva de petróleo e da segunda maior reserva de gás natural do mundo. A República Islâmica é extremamente dependente dos recursos petrolíferos para obter receitas públicas. No entanto, o seu crescimento foi afetado pelos custos de uma guerra de oito anos com o Iraque, por períodos de preços do petróleo baixos e por sanções internacionais.

A incapacidade do Irão de aceder ao investimento estrangeiro e a novas tecnologias forçou o país a cancelar projetos de exploração de novos campos de petróleo e de criação de refinarias. As suas capacidades foram ultrapassadas significativamente pelos seus vizinhos produtores de petróleo do Golfo.

Contudo, mesmo que as sanções fossem atenuadas, o impacto global imediato de uma maior produção de energia por parte do Irão seria irregular. O aumento de produção iria enfrentar grandes desafios, pelo menos a curto prazo.

Uma relação petrolífera

As empresas petrolíferas americanas começaram a comprar petróleo iraniano nos anos 40 através de contratos com a Anglo-Iranian Oil Company. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Irão tornou-se na âncora da política estrangeira dos EUA no Médio Oriente durante um quarto de século. A relação era baseada no comércio de energia e em questões de segurança comuns durante o período da Guerra Fria. O interesse na indústria petrolífera do Irão era tanto que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha planearam destituir o primeiro-ministro Mohammad Mossadeq depois de este ter nacionalizado a Anglo-Iranian Oil Company em 1953.

Segundo o Oil & Gas Journal, em 1979, na véspera da revolução, o Irão exportou 700.000 barris por dia (bpd) para os Estados Unidos, correspondendo a 8,6% das importações de petróleo americanas. A Amoco, a Exxon, a Mobil e a Shell estavam entre as empresas importadoras de petróleo bruto iraniano. No final dos anos 70, as empresas americanas também investiram $457 milhões na indústria petrolífera iraniana. Com o derrube da monarquia, a relação mudou. Após a tomada de controlo da embaixada dos EUA em 1979, a administração Carter começou a banir as importações de petróleo proveniente do Irão.

Através de filiais, as empresas petrolíferas americanas continuaram a comprar petróleo iraniano – no valor de mais de $3,5 mil milhões por ano – no mercado internacional de Roterdão até meados dos anos 90. Em 1994, as empresas dos EUA compraram mais de 600.000 bpd ao Irão, cerca de 23% das exportações de petróleo do país.

Em 1995, o presidente Hashemi Rafsanjani tentou um degelo nas relações com o Ocidente com a oferta de um contrato de $1 milhar de milhões à empresa petrolífera americana Conoco, o negócio de petróleo mais lucrativo que o Irão alguma vez ofereceu a qualquer empresa estrangeira. A administração Clinton bloqueou o negócio por pressão por parte do Congresso e aumentou as sanções. A empresa francesa Total ficou com o contrato.

Ao longo dos anos, Washington impôs uma série de sanções a Teerão baseada em três questões relevantes: apoio ao terrorismo, o não respeito pelas resoluções das Nações Unidas a propósito do seu programa nuclear e a violação dos direitos humanos.

Em 2011 e 2012, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram a ronda de sanções mais severa de sempre. Em meados do ano de 2012, as exportações de petróleo por parte do Irão desceram dos 2,5 milhões de bpd para os 1,4 milhões de bpd, os seus níveis mais baixos desde 1986. O alívio limitado das sanções em 2013 por parte do acordo nuclear provisório permitiu que o Irão aumentasse modestamente as suas exportações de condensados para a China e Índia, mas o progresso já uniformizou desde então.

As sanções tiveram o seu preço. O Irão produziu seis milhões de barris de petróleo por dia durante os últimos anos de monarquia no final dos anos 70. Mas desde aí que o país se tem esforçado para manter os níveis de produção. No início de 2015, o Irão só produziu cerca de 2,8 milhões de bpd e exportou cerca de um milhão de bpd. Apesar das suas vastas reservas, o Irão mal conseguia satisfazer as necessidades de gás natural do país em 2015.

Interesses ocidentais

Claramente, as empresas ocidentais têm interesse em fazer novos negócios com o Irão, caso as sanções sejam anuladas. No início de 2000, a Chevron e a Conoco expressaram o seu interesse em desenvolver o campo de gás natural South Pars do Irão e o campo de petróleo Azadegan. No final de 2013, pouco depois do acordo nuclear provisório ter sido anunciado, um executivo ligado à indústria petrolífera americano não identificado contou à Reuters:

“Estamos dispostos a dialogar: o Irão tem um potencial estrondoso… Assim que as sanções forem removidas, estaríamos definitivamente interessados em investir”.

As empresas europeias, incluindo a Total SA de França, a ENI da Itália, a Royal Dutch Shell e a British Petroleum (BP) também estão interessadas em retomar os seus investimentos no petróleo do Irão. Algumas delas continuaram a funcionar no Irão muito depois dos seus homólogos americanos terem partido, no entanto, foram forçadas a reduzir a atividade com as sanções de 2011 e 2012.

Teerão está igualmente disposta a restabelecer o investimento ocidental nas suas indústrias petrolíferas e do gás natural. Desde que o presidente Hassan Rouhani foi eleito em 2013 que Teerão tem vindo a cortejar as empresas petrolíferas ocidentais. O ministro do petróleo de Rouhani é Bijan Zanganeh, que tem sido apelidado de “o segundo ministro estrangeiro” do Irão na imprensa local. Durante o seu cargo anterior como ministro do petróleo entre 1997 e 2005, assinou acordos com empresas estrangeiras que proporcionaram às indústrias petrolíferas iranianas mil milhões de dólares de investimento.

Até ao momento, as empresas petrolíferas têm sido cautelosas nas suas respostas. Um acordo nuclear poderá acalmar as tensões nas relações entre os Estados Unidos e o Irão e acabar com algumas sanções. Contudo, é pouco provável que Washington anule todas as sanções sem que Teerão mude a sua atitude apoiante do terrorismo e dos abusos aos direitos humanos. É pouco provável que as empresas petrolíferas americanas invistam no Irão até que todos os tipos de sanções sejam anuladas.

Expectativas globais

As novas exportações de petróleo e gás natural do Irão poderiam ter um impacto global. Primeiro, o regresso do Irão ao mercado e um aumento da sua produção de petróleo poderia compensar os efeitos da interrupção do abastecimento – e resultar num pico nos preços do petróleo – provocada por crises políticas no Iraque, Líbia e outras zonas de conflito. Também poderia manter os preços baixos. No dia 7 de abril, a U.S. Energy Information Administration observou que remover as sanções relacionadas com o petróleo ao Irão, na eventualidade de um acordo nuclear abrangente, poderia diminuir as projeções feitas ao preço do petróleo de 2016 dos 5$ para os $15 por barril.

Segundo, o aumento de produção poderia criar eventualmente mais opções para países dependentes de importações de petróleo, especialmente porque o petróleo precisa de ascensão no mundo desenvolvido. Alguns países como o Japão e a Coreia do Sul já são dependentes do petróleo iraniano. Juntamente com a China, a Índia e a Turquia, compram virtualmente todas as exportações do combustível líquido do Irão.

Terceiro, a reemergência do Irão no mercado mundial poderia ter implicações geopolíticas, especialmente quando a dependência da Europa na Rússia, um grande produtor de petróleo e gás natural, se encontra tensa devido à crise na Ucrânia. Os oficiais iranianos falaram abertamente sobre proporcionar para a Europa uma alternativa à Rússia em termos de necessidades de energia. Em setembro de 2014, Rouhani disse ao presidente austríaco Heinz Fischer que “O Irão pode ser um centro de energia seguro para a Europa”.

O Irão possui quase 17% das reservas de gás natural do mundo e aloja o campo South Pars, o maior campo de gás natural do mundo. Segundo os peritos, o Irão poderia começar a exportar gás natural para a Europa já em 2020 se as sanções fossem removidas.

Os perdedores

A abertura da indústria do petróleo do Irão também poderia afetar de forma negativa o atual equilíbrio entre as potências do petróleo. Alguns países poderiam não receber muito bem uma nova difusão do petróleo e gás natural iraniano no mercado. Os primeiros na lista seriam os produtores de petróleo, incluindo os estados vizinhos que já se sentem ameaçados por Teerão. Estes poderiam ter de enfrentar uma nova concorrência nos mercados internacionais. Os países produtores de petróleo também poderiam vir a sofrer, caso o petróleo e o gás natural do Irão fizesse com que os preços do petróleo caíssem ainda mais.

Depois, alguns países que importam petróleo receberam descontos por parte do Irão como incentivos para comprar, apesar das sanções. A China, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e a Turquia, todos receberam descontos, que poderão ser removidos se as sanções foram anuladas e o Irão conseguir uma lista maior de compradores. Os seus custos de energia poderiam subir, criando um efeito económico excelente para o país.

Custos e obstáculos

É provável que alguns entraves significativos impeçam que a indústria petrolífera e do gás natural do Irão consiga atingir todo o seu potencial tão cedo. Um deles é o custo. O sector do petróleo e do gás natural do Irão precisa entre $130 mil milhões e $145 mil milhões em investimentos até 2020; com os preços do petróleo atualmente tão baixos, poderá ficar impossível para as empresas petrolíferas.

É pouco provável que um aumento na produção de petróleo iraniano tenha um impacto imediato, pois o mercado mundial de energia tem atualmente excesso de oferta. Em novembro de 2014, Zanganeh afirmou que a República Islâmica poderia aumentar as exportações de petróleo para quatro milhões de barris por dia dentro de três meses após a anulação das sanções, no entanto, vários peritos acreditam que poderiam ser precisos cinco anos para o Irão atingir esse objetivo.

Novas exportações de gás natural iriam exigir também novas infraestruturas de gasodutos ou instalações de liquefação que tornem as exportações mais fáceis. Construir essa infraestrutura iria custar mil milhões de dólares e a construção poderia demorar anos.

Mesmo que as sanções sejam atenuadas, as relações entre Teerão e Washington vão continuar a ser tensas. Algumas sanções vão continuar a ser aplicadas no Irão devido ao seu apoio ao terrorismo e aos abusos dos direitos humanos.

Contudo, o país é um interveniente demasiado importante para ser ignorado num mundo cada vez mais sedento de recursos energéticos. É o que tem a maior costa ao longo do Golfo Pérsico, no qual cerca de 40% do petróleo é transportado para o resto do mundo. O Irão exige que se faça uma reconsideração. E poderá muito bem vir a consegui-la.

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