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Conheça os detalhes de uma das investigações mais mediáticas dos últimos tempos. Poderá esta investigação transformar a FIFA numa organização mais transparente?

Numa investigação sobre corrupção no futebol, pelo menos 10 dirigentes internacionais desse desporto foram acusados por vários procuradores dos EUA, sendo que segundo uma pessoa por dentro do assunto, um dos aspetos investigados inclui conluio nos votos na seleção do país anfitrião nos torneios do Campeonado Mundial de Futebol.

Tal investigação está a causar um grande alarido. Hoje houve já uma ameaça de bomba no congresso da FIFA em Zurique, e estima-se que a marca FIFA tenha já desvalorizado 366 milhões de euros.

A nossa fonte afirma que a polícia suíça fez uma operação policial num luxuoso hotel em Zurique após o Departamento de Justiça norte-americano ter acusado vários dirigentes séniores da FIFA, a instituição reguladora do futebol, de chantagem de branqueamento de capital, fraude eletrónica e evasão fiscal. O presidente Joseph “Sepp” Blatter, 79 anos, não se encontrava entre as pessoas acusadas, de acordo com a mesma pessoa informadora, que pediu para não ser identificada a discutir um assunto privado. Mesmo assim é polémico que Blatter recuse sair do cargo após semelhante escândalo ter sido detetado.

O presidente da FIFA Sepp Blatter

A operação policial no hotel Baur au Lac, que durante anos serviu de estadia para o mimado comité executivo da FIFA, realizou-se num ambiente de crescente indignação pela instituição de futebol sediada em Zurique não ter feito nada até àquele momento para reduzir os delitos. A FIFA assistiu a um fluxo constante de alegada corrupção, que atingiu o ponto culminante ao selecionar a Rússia e o Qatar como as próximas Taças Mundiais.

A pessoa referiu que entre as pessoas acusadas estavam Jeffrey Webb das Ilhas Caimã, um vice-presidente da FIFA; Eugenio Figueredo do Uruguai, um membro do comité executivo que foi substituído em março como diretor do futebol da América do Sul e Jack Warner da Trinidade e Tobago, um ex-vice-presidente que se demitiu do desporto em 2011 durante uma investigação relacionada com compra de votos.

As autoridades judiciais suíças publicaram independentemente uma declaração onde era referido que seis dirigentes do futebol tinham sido detidos e se encontravam a aguardar extradição para os EUA, por suspeita de receber ou pagar mais de $100 milhões como suborno. Segundo o que o Gabinete Federal de Justiça disse numa declaração no seu site, os suspeitos das empresas de marketing desportivo “alegadamente estão envolvidas em esquemas de pagamentos” a dirigentes da FIFA e a outros grupos de futebol. Esses pagamentos datam já no início dos anos 90.

É referido na declaração que “de acordo com a solicitação dos EUA, estes crimes foram acordados e preparados nos EUA e os pagamentos foram efetuados via bancos dos EUA”.

As 209 associações nacionais que fazem parte da FIFA tinham-se reunido para a eleição presidencial, que tem lugar a cada quatro anos. A procuradora-geral Loretta Lynch agendou uma conferência de imprensa para quarta-feira em Brooklyn, em Nova Iorque para discutir o caso.

Investigação federal

A FIFA gere o futebol mundial, estabelecendo as regras para jogos internacionais e organizando o Mundial de futebol. O rendimento mais elevado da organização emergiu sob a presidência de Blatter, que atingiu os $5,7 mil milhões em quatro anos, culminando na Taça Mundial de 2014, o evento televisivo mais visto da história.

Durante o regime de Blatter, a FIFA tem sido alvo de investigações de desvio de fundos e suborno. Apesar disso, prevê-se que ele se candidate para reeleições na sexta-feira.

A operação policial no hotel Baur au Lac realizou-se num ambiente de crescente indignação pela FIFA não ter feito nada até àquele momento para reduzir os delitos.

A seleção da Rússia como país anfitrião do Mundial de 2018 e o Qatar para o torneio de 2022 deram lugar a acusações de compra de votos. Quase metade dos 24 executivos da FIFA envolvidos nos votos enfrentam acusações de delitos. Vários deles demitiram-se depois de se descobrir que agiram ilegalmente noutros assuntos, tal como Mohamed bin Hammam, um empresário catarense antigo diretor do futebol asiático. Dois eleitores foram banidos da instituição depois de contarem a jornalistas disfarçados do Sunday Times de Londres que podiam ser comprados.

As questões continuam a pairar sobre como o país produtor de petróleo, Qatar, um país desértico extremamente quente mais pequeno que o estado de Connecticut e sem qualquer cultura de futebol percetível, conseguiu tornar-se de forma tão convincente o anfitrião da competição desportiva mais vista do mundo.

“É tipo uma cultura de se “conseguir aquilo que se quer”, disse Michael Hershman, cofundador da Transparência Internacional, numa entrevista em fevereiro.

Hershman escreveu um relatório de governo em nome da FIFA em 2011 que foi amplamente ignorado.

“Tornou-se uma questão não tanto sobre desporto como se queria, mas mais de autopromoção e enriquecimento próprio”.

O inquérito federal foi supervisionado pelo gabinete de Procuradoria dos EUA em Brooklyn, o qual Lynch liderou por cinco anos até se tornar procuradora-geral em abril. A Agência Federal de Investigação (FBI) e a Receita Federal dos EUA também estiveram envolvidos.

O IRS tem estado a investigar a Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas ou CONCACAF, relativamente a impostos não pgaos nos últimos três anos.

A visita de Clinton

Em 2013, os investigadores revelaram práticas de despesas luxuosas e pouca contabilidade durante a liderança de longa data da CONCACAF. O grupo é acusado de não pagar impostos por pelo menos quatro anos. Os investigadores dizem que o antigo vice-presidente da FIFA Warner, que também liderou a CONCACAF, transferiu para a sua conta de um centro de futebol em Trinidad que foi construído com $26 milhões pertencentes à FIFA. Warner referiu que o centro de futebol foi um presente do antecessor de Blatter.

Os investigadores americanos tiveram o apoio de Chuck Blazer, o secretário-geral de longa data da confederação, segundo relatou o New York Daily News em novembro. De acordo com o jornal, Blazer levava para as reuniões com dirigentes do futebol dos Jogos Olímpicos de Londres e de outros eventos um dispositivo de gravação escondido num porta-chaves. O jornal também refere que a instituição da Receita Federal pressionou Blazer: não tinha pago impostos referentes a lucros de milhões durante mais de uma década.

Blazer, que se demitiu em 2011, não pagou impostos ou enviou declarações de impostos da confederação e uma das suas filiais, que acabou por perder o seu estatuto de sem fins-lucrativos.

A escolha do Qatar para o torneio de 2022 enfureceu vários países, e em particular os EUA. Os EUA foram derrotados na última ronda de votação com o emirado depois de candidaturas rivais da Austrália, Coreia do Sul e Japão terem sido eliminadas nas rondas anteriores. O antigo presidente Bill Clinton liderou um grupo americano que viajou até Zurique para fazer a decisão final dos eleitores.

A FIFA contratou Michael Garcia, antigo advogado americano do gabinete distrital do sul de Nova Iorque para investigar os votos. Esteve dois anos a viajar pelo mundo, a recolher provas e a falar com dirigentes do futebol antes de elaborar um relatório com mais de 400 páginas. A FIFA lançou um resumo desse relatório em novembro.

Garcia demitiu-se em protesto, dizendo que o resumo continha “inúmeras representações erróneas e materialmente incompletas dos factos e conclusões”. O juiz alemão nomeado pelo Comité de Ética da FIFA Hans-Joachim Eckert afirmou não existirem provas suficientes que obriguem a uma nova votação para a Taça Mundial.

“Parece que agora, pelo menos num futuro próximo, a decisão de Eckert irá manter-se como a última palavra sobre o processo de seleção da Taça Mundial FIFA 2018/2022”, referiu Garcia na declaração que anunciava a sua demissão. “É a falta de liderança da FIFA nestas questões que me levam a concluir que o meu papel neste processo chegou ao fim.”

O Calor do deserto

Todos os torneios mundiais foram jogados entre maio e junho desde a primeira competição em 1930. A escolha do Qatar trocou as voltas do calendário internacional do desporto. O torneio foi mudado para o início de novembro para reduzir os riscos que o calor debilitante do verão do golfo colocava às pessoas, o que gerou queixas por parte dos principais clubes e emissores.

A FIFA também enfureceu os rivais da Fox Sports ao dar à rede os direitos para o evento de 2026 num acordo de transmissão exclusiva. Também triplicou a quantia paga aos clubes para seleção de jogadores para o torneio.

É difícil não reparar na ironia das detenções de hoje ocorridas no Baur au Lac, um hotel de 171 anos situado no seu próprio parque com vista para os Alpes. Foi dali que no dia 2 de dezembro de 2010 os membros mais denegridos do comité executivo da FIFA saíram para votar pela Rússia e Qatar para receberem o Mundial. Anos mais tarde, essas decisões continuam a ressentir-se nos órgãos de gestão.

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