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Perceba como a omissão de parte dos custos das empresas tecnológicas tem impulsionado a tremenda valorização das ações do setor.

As ações de empresas tecnológicas têm alimentado o mercado de ações nos últimos tempos, superando os índices de ações mais amplos por vastas margens. O pesado Nasdaq 100, por exemplo, aumentou 19% ao longo dos últimos 12 meses, quase o dobro do índice de 500 ações da Standard & Poor – que aumentou 10%. O entusiasmo dos investidores por tudo o que é tecnologia é compreensível – dadas as roturas que a indústria tem trazido para tantas empresas e os potenciais lucros associados a essa turbulência.

Mas há um aspeto preocupante relacionado com a atual exuberância das ações de tecnologia: o grau em que muitas das empresas populares, com ações a preço-premium, promovem resultados financeiros e medidas que excluem os seus custos reais com o negócio.

Estas empresas, com efeito, realçam o desempenho que se baseia mais em fantasia do que na realidade.

As empresas devem relatar os seus resultados financeiros sob princípios de contabilidade geralmente aceites, ou GAAP, mas muitas vezes subestimam esses números, aconselhando os investidores a focarem-se nos números favorecidos por aqueles que se encontram na suite executiva – acontecendo com quem tem a ganhar pessoalmente a partir de trapaças.

Entre os maiores custos que estas empresas pedem aos investidores para ignorarem encontram-se aqueles associados a compensação, aquisição e reestruturação baseada em ações. Mas estas são despesas genuínas – logo excluí-las de relatórios financeiros faz com que o desempenho destas empresas pareça melhor do que realmente é. Isto, por sua vez, torna difícil aos investidores compreender como é que as suas empresas se estão realmente a comportar e se as suas ações estão sobrevalorizadas ou com um preço razoável.

Nem todas as empresas de tecnologia incentivam a utilização de números simpáticos. A Apple (NASDAQ: AAPL) e a Netflix (NASDAQ: NFLX) reportam apenas resultados GAAP – mas pertencem a uma minoria.

Mas enquanto a criatividade de hoje no reporte financeiro é mais realista do que era no último boom, a utilização de medidas de desempenho que excluem alguns custos empresariais básicos parece estar a crescer entre as empresas.

Jack Ciesielski, editor na The Analyst’s Accounting Observer, estudou esta questão no outono passado. Para os cinco anos que terminaram em 2013 concluiu que o número de itens de custos excluídos dos relatórios de 104 grandes empresas de tecnologia, cuidados de saúde e telecomunicações tinha aumentado para 504 em 2013, de 365 em 2009.

Estamos a falar de dinheiro real. Em 2013, Ciesielski também constatou que a diferença entre os lucros GAAP destas empresas e ganhos sem conteúdo ruim era de 46 mil milhões de dólares em 2013. Desceu a partir de 2012 mas foi mais do que o dobro da quantidade em 2009.

Mas talvez o aspeto mais perturbador dos números utilizados pelas empresas seja a forma como servem para elevar os níveis de remuneração dos seus executivos. Isto porque estas empresas muitas vezes excluem o custo da concessão de ações a executivos e colaboradores, melhorando significativamente o desempenho relatado.

Salesforce.com

Considere a Salesforce.com (NYSE: CRM), uma fornecedora de software e serviços para gestão de clientes. Apesar de registar uma perda de operações de 146 milhões de dólares no ano fiscal de 2015 as ações da empresa voam alto; a sua capitalização de mercado é de quase 50 mil milhões de dólares norte-americanos.

Os investidores poderão estar focados no crescimento das receitas da Salesforce.com – até 32% no ano passado e cerca de 34%, em média, em cada um dos últimos quatro anos. Ou que a mais recente perda da empresa correspondeu a metade do que gerou em 2014.

Mas quando a Salesforce.com calcula o incentivo de remuneração dos seus executivos – o seu prejuízo de 146 milhões de dólares torna-se em lucro operacional de 574 milhões de dólares. Esta transformação ocorre pois a empresa excluiu 565 milhões de dólares do valor da concessão de ações a colaboradores, no ano passado.

Os investidores poderão estar preocupados com estes jogos de fingimento. Um sinal do descontentamento é o aumento do apoio a medidas “say on pay”, através das quais os acionistas expressam pontos de vista sobre as práticas de pagamento da empresa.

Por exemplo, na reunião anual da Salesforce.com este mês 47% das ações foram consideradas contra o plano de pagamento da empresa. Trata-se de quase o dobro de 34% de dissidência que a empresa recebeu de votos dos acionistas na reunião de 2014. Chi Hea Cho, porta-voz da Salesforce.com, disse em comunicado:

“Nós descrevemos as nossas práticas de remuneração com significativo detalhe na nossa declaração financeira. Incluindo a nossa filosofia de compensação e as razões para as nossas decisões de remuneração de executivos. Valorizamos as opiniões dos nossos acionistas e envolvemo-nos num diálogo ativo com os mesmos relativamente a práticas de compensação executiva.”

Cho não quis comentar sobre a decisão da empresa de excluir a concessão de ações das suas medidas de remuneração por desempenho. Mas chamou a minha atenção para o seguinte “a despesa baseada em ações varia por razões que são geralmente alheias a decisões operacionais e desempenho em qualquer período em particular.”

Brian Foley, um consultor de remuneração independente em White Plains, questionou a exclusão de concessão de ações de qualquer empresa na avaliação de desempenho executivo.

“É necessário ser-se muito disciplinado com a forma como se mede o desempenho.” Disse numa entrevista. “Estas empresas pagam valores reais em prémios de ações e opções todos os anos, e se esses prémios são uma componente chave e dirigem a remuneração global nessas empresas – porque é que o custo dessa componente chave não faz parte do conjunto quando chega a altura de julgar o desempenho anual e dimensionar os bónus anuais da gestão sénior?”

Algumas empresas estão a alterar as suas práticas depois de ouvirem os investidores. Este ano, a Broadcom, fornecedora de circuitos integrados, disse que deixaria de excluir os prémios em ações das suas medidas de remuneração por desempenho.

As empresas não podem fingir sobre o verdadeiro custo da concessão de ações nos seus documentos oficiais, claro. E acionistas vigilantes sabem que estas despesas muitas vezes se tornam evidentes através do prisma da reaquisição de ações de mil milhões de dólares realizadas por essas empresas. Muitas empresas de tecnologia têm de prosseguir esses programas de reaquisição para limitar o efeito da diluição das suas generosas concessões de ações. E pagam generosamente para fazê-lo.

Ken Broad é sócio fundador e gestor de portfólio na Jackson Square Partners, uma empresa de gestão de dinheiro em São Francisco que administra 33 mil milhões de dólares em ativos. Diz que cabe aos investidores parar de aceitar números de desempenho e estimativas de analistas que excluem custos reais.

“Muitos investidores têm horizontes temporais cada vez mais curtos e preocupam-se menos com o que está embutido nos números – do que se a empresa superou a estimativa de consenso.” Avançou numa entrevista na quinta-feira.

Parte disto é, também, derivada do pensamento de tendência altista. E quando a música para? “Isso não interessa.” Diz ele. “Até que passe a interessar.”

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