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Dell, EMC, HP, Cisco – estes gigantes da tecnologia são os mortos-vivos do mundo empresarial. Perceba porquê.

Oh, claro, irão arrastar-se durante algum tempo. Irão vender algumas coisas. Irão fazer algum dinheiro. Irão dominar algumas manchetes. Até poderão fazer algumas coisas novas. Mas como gigantes da tecnologia – estão acabados.

Tal deve-se a um trio de eventos. Se você não segue o aparentemente desinteressante, enormemente lucrativo e, de facto, infinitamente fascinante mundo da informática empresarial – informática que apoia a gestão nas grandes empresas – poderá não ter reparado em nenhum. Mas foram grandes notícias no mundo empresarial – e juntas mostram o quão realmente acabados estão estes gigantes.

  • A Pure Storage – uma start-up de Silicon Valley que vende um novo tipo de hardware para armazenar grandes quantidades de dados digitais – teve a sua estreia em Wall Street.
  • Mais tarde nesse dia, o The Wall Street Journal informou que a grande empresa de tecnologia Dell se encontrava em negociações para comprar a EMC (NYSE: EMC) – uma empresa de armazenamento muito mais velha e maior que a Pure Storage (o acordo foi anunciado este manhã).
  • Durante um evento em Las Vegas, a Amazon lançou uma abrangente coleção de novos serviços de computação na nuvem que permitem lidar com grandes quantidades de dados sem ser necessário hardware.

Tal pode parecer complicado mas a história é realmente muito simples. Durante décadas, se você estivesse a construir uma empresa e precisasse de armazenar muitos dados a EMC seria a sua primeira opção. Você daria muito dinheiro à empresa e a mesma dar-lhe-ia algumas máquinas pesadas cheias de discos rígidos e algum software para armazenar dados nesses discos rígidos. O truque é que você só conseguiria obter o software a partir da EMC. Assim, de cada vez que quisesse armazenar mais dados teria de pagar mais à EMC. Isto tornou a empresa muito rica.

Mas entretanto começaram a surgir pequenas empresas como a Pure Storage – a vender equipamento para armazenamento construído em torno de flash, uma alternativa muito mais rápida do que o disco rígido e que permite o armazenamento de mais dados, mais depressa e potencialmente por menos dinheiro. Mas mais importante: surgiram empresas de computação na nuvem, como a Amazon, permitindo o armazenamento de dados nas suas máquinas. Estas máquinas encontram-se do outro lado da Internet mas você pode aceder às mesmas a partir de qualquer ponto, a qualquer momento. Tal significa que já não precisa de comprar hardware da EMC ou de outra empresa.

São essas as entrelinhas por detrás da fusão da EMC, em tempo gigante do mundo da tecnologia, com a Dell, uma empresa que não se encontra propriamente em ascensão. A Dell, de facto, sofre do mesmo dilema que a EMC – um dilema que cresceu de forma tão onerosa que a Dell se tornou privada. Este dilema também assola a HP. E a IBM e a Cisco. E a Oracle. Como Ashlee Vance (que escreve para a Bloomberg Business, é biógrafo de Elon Musk e hacker de Silicon Valley sem paralelo) afirma: “Porque é que a IBM, HP, EMC, Dell e Cisco não se fundem e resolvem esta questão?”

Qual o enigma? Bom, vamos deixar Vance explicar essa parte também. Quando alguém perguntou como deveríamos chamar à fusão da IBM-HP-EMC-Dell-Cisco a sua resposta foi maravilhosamente descritiva. Sugeriu que a empresa se chamasse “Fucked by the Cloud” [Tramados pela Nuvem].

A Nuvem não poupa ninguém

A Nuvem. O termo tem assumido muitos significados nos últimos anos. Mas lembre-se: a maioria dos significados vem da IMB, HP, EMC, Dell, Cisco e outras empresas que não querem ser tramadas pela mesma. A melhor forma para pensar na Nuvem é a seguinte: é a forma como os gigantes da Internet – Amazon, Google e Facebook – constroem os seus negócios.

Estas empresas construíram negócios na internet tão grandes – negócios que correm em centenas, milhares e até dezenas de milhares de computadores – que acabaram por perceber que não poderiam construí-los com hardware e software de fornecedores estabelecidos. Não poderiam utilizar o tradicional equipamento de armazenamento da EMC. Não poderiam utilizar servidores da Dell, HP e IBM. Não poderiam utilizar equipamento de rede da Cisco. Não poderiam utilizar bases de dados da Oracle. Seria demasiado caro e os negócios não poderiam escalar. Este é outro chavão, significa “ajudar uma operação online a dominar o mundo.”

Então a Amazon, a Google e o Facebook construíram uma nova geração de hardware e software passível de escalar. Construíram os seus próprios servidores, o seu próprio equipamento de armazenamento, o seu próprio equipamento de rede, as suas próprias bases de dados e outro software para a partilha de informação entre todo o hardware. Tornaram o seu hardware eficiente – tornando-o menos dispendioso – e, em alguns casos, aceleraram-no, passando de discos rígidos para discos flash. Construíram bases de dados que lidam com os mesmos utilizando subsistemas de memória de dezenas, centenas ou até mesmo milhares de máquinas – subsistemas que podem operar ainda mais rápido do que flash.

O Jogo de Partilha

Não guardaram estas coisas para si próprios. Partilharam. Agora, tudo o que a Amazon, Google e Facebook construíram está disponível para o resto do mundo. Isso é importante pois, à medida que o tempo passa e a Internet se expande, muitas outras empresas irão escalar como a Amazon, Google e Facebook. Muitas já o fizeram.

A Amazon oferece agora a sua própria infraestrutura a este mundo de negócios. Literalmente. É disso que se trata um serviço de computação na nuvem. A Google está a fazer o mesmo e o Facebook, mais do que qualquer outra, disponibilizou o design do seu software e hardware ao mundo em geral, para que outros possam construir as suas próprias operações da mesma forma. A isto chama-se código aberto.

Com a ajuda destes projetos em código aberto e o exemplo geral dos gigantes da Internet, um exército de esperançosos fornecedores corporativos está a oferecer hardware e software que atua muito como aquilo que a Amazon, Google e Facebook construíram. Tal inclui não apenas fornecedores de armazenamento como a Pure Storage mas também fabricantes de servidores como a Quanta e de equipamentos de rede como a Cumulus Networks e a Big Switch. Fabricantes de software Myriad, como a MemSQL e a MongoDB, vendem bases de dados baseadas em projetos do Facebook, Google e Amazon.

É por tudo isto que a IBM, HP, EMC, Dell e Cisco estão tramadas. Sim, podem oferecer os seus próprios serviços de computação na nuvem. Podem oferecer software e hardware que funcione como o que o Facebook disponibilizou em código aberto. E, em certa medida, já o fizeram. Mas a concorrência agora estende-se por toda a parte e se forem muito longe com novos serviços e produtos na nuvem irão canibalizar os seus negócios existentes. A isto chama-se o dilema do inovador.

O efeito Larry Ellison

Sim, este dilema também assola a Oracle. O império da Oracle é financiado por bases de dados caras que não escalam. A diferença é que a Oracle construiu uma equipa de vendas que pode levar as empresas a comprar qualquer coisa – mesmo que não faça qualquer sentido económico. A isto dá-se o nome de punho de ferro de Larry Ellison.

Ah e também assola outra venerável empresa de tecnologia: a Microsoft. A diferença aqui é que a Microsoft moveu-se mais rapidamente e habilmente para o mundo da computação na nuvem. Tal como a Amazon, Google e Facebook gere os seus próprios maciços serviços de internet, incluindo o Bing. Tal significa que também foi forçada a construir o seu próprio hardware e software de centro de dados. E fez um invulgarmente bom trabalho a desafiar a Amazon com o seu próprio serviço de computação na nuvem – o Microsoft Azure.

É claro que a Microsoft também sofre de outros problemas. Uma das suas principais fontes de rendimento é o sistema operativo Windows, por exemplo, e o relativamente pequeno número de pessoas que utilizam Windows nos smartphones, tablets e outros serviços do futuro. A isto chama-se “Tramado pelo Mundo Móvel”.

Quem não está tramado?

Bem, a Pure Storage está em melhor estado que a EMC. Dito isto, a sua oferta pública inicial não foi exatamente um home run. E ainda vende coisas que você precisa de instalar no seu próprio centro de dados. Equipamento como este terá sempre um lugar no mundo. No entanto, o futuro da informática empresarial tornou-se incrivelmente claro: reside nos serviços de computação na nuvem. E isso significa que reside na Amazon.

A Amazon é, de longe, a maior operação de computação na nuvem do mundo. Os seus serviços na nuvem são aqueles que muitas empresas e programadores utilizam para correrem software e armazenarem dados. Na semana passada, a empresa continuou os seus esforços para levar este modelo ainda mais longe – para oferecer não apenas poder de processamento a cru, ou armazenamento a cru, mas também as suas ferramentas de dados e de bases de dados e outros serviços de software. Se você utiliza Amazon não precisa de servidores e de outro hardware da Dell, HP, EMC e Cisco – e não precisa de bases de dados da Oracle e IBM.

Felizmente a Amazon tem alguma competição no mundo da computação na nuvem. A Google, a Microsoft e outros competidores não classificados. A HP, Oracle e IBM e restantes irão imitar a Amazon mas encontram-se bastante atrás – e carregam demasiada bagagem – para recuperar o atraso. A Google e Microsoft irão aquecer um pouco a Amazon. Na verdade, a Microsoft está mais adiantada que a Google. Então, em suma, estamos realmente a torcer pelos “Tramados pelo Mundo Móvel”.

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