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O sucesso dos ataques efetuados pelo Estado Islâmico fora do Médio Oriente leva os Estados Unidos e a Europa a repensarem as suas estratégias.

A meia hora durante a qual aconteceram os atentados nas ruas de Paris tornou-se um catalisador das mudanças globais na política internacional e as suas consequências podem fazer-se sentir durante muitos anos.

Durante o último ano, o mundo ocidental estava focado, principalmente, nos eventos relacionados com a Rússia e a Ucrânia. O terrorismo permaneceu um problema real mas recebeu menos atenção.

Porém, ao efetuar vários ataques bem organizados, o Estado Islâmico devolveu à ameaça do terrorismo o primeiro lugar na arena global.

Por sua vez, a Rússia, tornou-se de um inimigo com armas nucleares num possível parceiro com um plano para resolver o problema.

A estratégia de Moscovo de apoiar, pelo menos temporariamente, o regime do líder da Síria Bashar al-Assad para assim lutar com o Estado Islâmico não agradava aos EUA nem à França, que criticavam o presidente sírio mais do que ninguém. É bem provável que agora esta posição mude significativamente.

Na sequência do banho de sangue da sexta-feira a importância geopolítica da Síria, de onde durante os cinco anos de guerra milhares de refugiados vieram para a Europa, cresceu. Não há dúvida de que a atividade militar e diplomática do Ocidente vão aumentar. No entanto, a vontade das capitais ocidentais, especialmente de Washington, de realizar uma enorme operação terrestre na Síria não é muito forte: ainda não é esquecido o Iraque e o Afeganistão.

Houve comparações com os ataques terrorista do 11 de setembro de 2001. Ao mesmo tempo, o poder militar das potências europeias não se estende tanto como a dos EUA, por isso a reação de Washington é de extrema importância.

Durante o encontro do G20 no domingo, o presidente Barack Obama prometeu "fortalecer" a campanha militar contra o Estado Islâmico e as medidas diplomáticas para conseguir a resolução política do conflito sírio.

Os representantes da Casa Branca falam nas ações ativas, incluindo os ataques norte-americanos voltados para o ISIS, o fortalecimento da campanha aérea e a intervenção militar na Síria com forças especiais, considerando estas medidas um sinal de endurecimento de posição. Além disso, a Casa Branca confirmou no domingo que os EUA entregaram a segunda parte das munições à coligação recém-formada de militantes árabes e curdos que lutam contra o Estado Islâmico.

Os Estados Unidos também fortaleceram os serviços de segurança e informações cujos dados são compartilhados com a França para ajudar a efetuar ataques mais precisos sobre o ISIS no Iraque e na Síria.

Além disso, segundo informaram os representantes da Casa Branca depois da reunião de Barack Obama e Vladimir Putin na Turquia, os dois líderes chegaram o acordo sobre grandes eventos voltados para a resolução do conflito sírio. É de notar que a atitude face às ações militares da Rússia na região foi muito menos crítica do que anteriormente.

Ao mesmo tempo, a Casa Branca diz que Obama não pretende mudar muito a estratégia do país. Ele ainda não apoia a ideia de aumentar a participação dos Estados Unidos usando medidas que, do seu ponto de vista, podem envolver o país em mais uma guerra no Médio Oriente, por exemplo, através de uma zona tampão na Síria que alguns dos aliados dos EUA, tais como a Turquia, insistem em introduzir. O vice-conselheiro de segurança nacional Ben Rhodes afirmou:

"Não acreditamos que as tropas norte-americanas possam resolver o problema. Na verdade, seria mais seguro e eficaz se tivéssemos forças terrestres de oposição na Síria e parceiros no Iraque que fossem capazes de retomar e manter este territótio."

Os atentados em Paris provaram que o Estado Islâmico pode atingir as grandes potências através das suas bases na Síria e no Iraque. A tragédia sucedeu aos recentes ataques em Ancara e Beirute e também ao acidente do avião russo. Tudo isto é atribuido a um grupo terrorista que está a receber bons recursos financeiros.

O chefe da comissão de inteligência do Senado Richard Burr espera que o presidente francês François Hollande use o acordo da NATO para criar uma coligação antiterrorista, assim como fizeram os EUA depois dos atentados de 2001. Berr disse:

"Neste caso talvez criemos uma coligação que seja capaz de atacar o horrível grupo terrorista antes que este tenha a possibilidade de efetuar mais um ataque coordenado."

Ele supõe que seja necessária uma colheita de dados mais ativa e a introdução de um grande número de tropas especiais norte-americanas na Síria.

Depois daquilo a que Hollande chamou de um ato de guerra do Estado Islâmico, Paris está a preparar-se para triplicar a quantidade de aeronaves que participam nas operações contra o Estado Islâmico no Médio Oriente.

As autoridades oficiais da França informam que o porta-aviões Charles de Gaulle com 24 aeronaves ao bordo já deve ter saído do porto, permitindo realizar as operações planeadas em articulação com os serviços de informações. Um representante da França disse:

"Pode-se dizer com certeza que ao colher mais dados poderemos efetuar mais ataques."

Na Europa discute-se agora mais sobre os migrantes e a reimposição de controlo sistemático nas fronteiras que muitos já consideravam uma coisa do passado.

Também é provável que os governos enfrentem o seguinte problema: em que medida ignorar o foco tradicional da Europa nos direitos humanos, e se vale a pena responder com uma vigilância eletrónica fortalecida e outras medidas apesar do movimento poderoso que insiste no direito humano à privacidade.

O antigo embaixador da União Europeia no Médio Oriente Marc Pierini, hoje o funcionário de um centro analítico Carnegie, disse:

"Será difícil para os governos ocidentais lutarem com este tipo de terrorismo e ao mesmo tempo respeitarem as nossas preferências políticas e manterem os nossos conceitos e valores."

Em particular, é possível que seja necessário chegar a um compromisso não muito confortável com a Rússia. Durante a reunião do G20 Putin alertou os países ocidentais para para que se juntassem à Rússia na luta contra o terrorismo.

Obviamente, Moscovo espera conseguir um acordo que permita usar a cooperação em relação à Síria para atenuar as sanções. Até hoje, os representantes da Europa recusaram fechar tais acordos. O chefe do comité dos assuntos estrangeiros da Duma, a câmara inferior do Parlamento russo, Aleksei Pushkov disse:

"A Rússia está a lutar contra os que atacaram Paris e declararam guerra à Europa. Está na hora do Ocidente parar de criticar Moscovo e criar uma coligação conjunta."

Porém, é possível que qualquer coligação com Moscovo contribua para o fortalecimento do regime de Bashar al-Assad, e este passo, segundo avisam os peritos, pode fazer com que o tiro saia pela culatra: os sunitas que se opõem ao presidente, podem ser encostados à parede e ficar com menos opções de alianças. Assad pertence à minoria alauíta ligada aos xiitas.

François Heisbourg, o principal especialista francês em segurança usa outro nome para o Estado Islâmico e diz:

"Quanto mais vocês ajudarem Assad, mais vão deteriorar as relações com os sunitas, e assim, a única coisa que eles poderão fazer é apoiar o Daesh."

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