A nova crise do Médio Oriente
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A execução pela Arábia Saudita de um clérigo xiita provocou a pior crise em duas décadas entre o reino sunita e o Irão.

A execução de Nimr al-Nimr que foi um crítico forte da família real no poder causou a condenação internacional, com uma reação dura por parte do Irão.

Manifestantes iranianos invadiram a embaixada saudita em Teerão e incendiaram o edifício. O líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, avisou os representantes oficiais sauditas que irão enfrentar a vingança "divina" pelos seus atos. Em Riade, as autoridades responderam no domingo, cortando laços diplomáticos e dando ao embaixador do Irão 48 horas para deixar o país.

A escalada forte de tensões entre o maior exportador mundial de petróleo e uma nação a tentar livrar-se das sanções internacionais de anos pode ter repercussões regionais amplas, com os dois já envolvidos em confrontos relacionados com a Síria e o Iémen enquanto brigam pela supremacia no Médio Oriente.

Aqui fica um resumo sobre quem está envolvido e o que pode acontecer adiante.

Quem era Nimr al-Nimr?

Nimr al-Nimr, com 57 anos de idade, era um clérigo xiita da Província Oriental da Arábia Saudita, uma figura conhecida nas demonstrações anti-governo que criticava os governantes sauditas em alguns dos seus sermões pelo seu tratamento da minoria xiita do reino.

Em 2009, ele ameaçou levar muçulmanos xiitas da Arábia Saudita à secessão, provocando uma repressão governamental do coração oriental da minoria. Nos seus sermões, al Nimr criticava governantes autocráticos sunitas e xiitas do mesmo modo, embora tenha guardado alguns dos seus ataques mais mordazes para as famílias reais sauditas e baremitas.

Durante um encontro com diplomatas dos EUA em 2008, al-Nimr tentou distanciar-se de Teerão, segundo os dados divulgados pelo WikiLeaks. O Irão, assim como outros países, age de acordo com os seus próprios interesses, e os xiitas sauditas não deveriam esperar o apoio iraniano baseado na união sectária, disse ele. O relatório descreve-o como um "jogador político de segundo plano" na Província Oriental.

Ele foi detido em 2012, um ano depois das revoltas populares varrerem o Médio Oriente, e foi condenado à morte em 2014.

O que a é que a sua execução significa para a Arábia Saudita?

Enquanto a maioria sunita da Arábia Saudita não participou na onda de revoltas que varreu o mundo árabe desde 2011, os xiitas sauditas, que dizem que estão a sofrer discriminação, protestaram ocasionalmente e confrontaram as forças de segurança. Muitos xiitas sauditas moram perto de grandes campos de petróleo na região leste, e de acordo com o World Factbook, compõem entre 10 e 15 por cento da população da Arábia Saudita.A execução "institucionaliza a tensão na Arábia Saudita ao criar um símbolo para reivindicações dos xiitas," disse Ibrahim Fraihat, membro sénior da política externa no Brookings Doha Center. "Não havia muitas pessoas no passado que o vissem como representante da comunidade xiita, mas agora ele tornou-se num dos símbolos da tensão entre os xiitas e sunitas."

Em 2015, os militantes do Estado Islâmico aproveitaram-se das linhas divisoras sectárias e atacaram mesquitas xiitas na Província Oriental.

A Quinta Frota dos Estados Unidos. As autoridades baremitas acusam regularmente o Irão de apoiar grupos xiitas extremistas, o que o país nega.

Porquê realizar a execução, dadas as tensões regionais?

Tendo em conta a complexa dinâmica regional face ao Iémen, Síria e Iraque, a execução de al-Nimr foi uma ilustração da política "rigorosa" da Arábia Saudita contra o Irão e dissenções internas, disse Scott Lucas, um analista do Irão e professor de política internacional na Universidade de Brimingham no Reino Unido.

"Os sauditas cruzaram deliberadamente a linha ao executá-lo, e para piorar a situação, usaram um discurso que os põe no mesmo plano que os terroristas da al-Quaeda," disse.

Al-Nimr foi um dos 47 homens executados no sábado. Muitos deles eram sunitas condenados por crimes relacionados com o terrorismo, que as autoridades sauditas desceveram usando os termos que normalmente são aplicados a grupos tais como o al-Qaeda e Estado Islâmico.

Como o Irão reagiu?

Os manifestantes iranianos armados com pedras e coquetéis molotov aproximaram-se da Embaixada saudita em Teerão no sábado e incendiaram o edifício. Um grupo pequeno invadiu o local, saqueou escritórios e algumas pessoas foram detidas, disse o chefe da polícia de Teerão Hossein Sajedinia à agência de notícias estatal de estudantes islâmicos.

No domingo, o líder supremo do Irão Ayatollah Ali Khamenei disse que os governantes sauditas irão enfrentar "as mãos divinas de vingança" pelos seus atos. Khamenei, o órgão supremo do país e um crítico regular das políticas da Arábia Saudita, disse que o Irão iria agir.

Entretanto, o Presidente do Irão Hassan Rouhani, afirmou que não está a procurar aumentar o confronto. Apesar de criticar a execução, ele caracterizou o ataque à embaixada como injustificável.

O incidente deverá "tornar-se rapidamente numa disputa interna" no Irão entre os radicais e a fações mais moderadas próximas de Rouhani, disse Lucas.

Será que as tensões entre o Irão e a Arábia Saudita irão aumentar?

"A bola está no campo iraniano," de acordo com Lucas. Os sinais de que o regime em Teerão está pronto para intensificar o confronto poderão incluir "qualquer escalada do apoio iraniano a rebeldes Houthi" no Iémen ou atividade antissaudita maior do movimento xiita Hezbollah que enviou combatentes para a Síria, disse Lucas antes da decisão da Arábia Saudita de cortar relações. "Mas é impossível prever o que irá acontecer."

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