A Arábia Saudita está a ficar a sem dinheiro
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A Arábia Saudita enfrenta “bomba económica” e preços dos combustíveis no país aumentam 50%.

Enquanto a atenção do mundo está focada na mais recente desavença da Arábia Saudita com o Irão, muitos sauditas estão preocupados com a “bomba económica” interna. O governo está a cortar uma série de apoios aos cidadãos.

A falta de dinheiro é tão grave que o governo saudita fez a gasolina aumentar em 50%. Sauditas fizeram filas nas bombas de gasolina na segunda-feira para encher os depósitos antes do aumento dos preços.

“Anunciaram cortes em subsídios que afetarão os bolsos de todos os cidadãos sauditas,” afirma Robert Jordan, antigo embaixador dos EUA na Arábia Saudita e autor do livro “Desert Diplomat: Inside Saudi Arabia Following 9/11” (“Diplomata do Deserto: Dentro da Arábia Saudita no Rescaldo do 11/9”).

A gasolina costumava custar uns meros 16 cêntimos o litro na Arábia Saudita, um dos preços mais baixos do combustível em todo o mundo. Muitos sauditas conduzem grandes SUVs e “não têm o conceito de poupar gasolina”, afirma Jordan.

A subida da gasolina é apenas o princípio

A subida do preço da gasolina é apenas o princípio. Os preços da água e da eletricidade também irão subir e o governo está a reduzir os gastos nas estradas, edifícios e outras infraestruturas.

Tais cortes podem soar normais para qualquer governo que esteja com pouco dinheiro. Mas são especialmente problemáticos para a Arábia Saudita porque a vasta maioria dos sauditas trabalha no setor público.

Cerca de 75% das receitas do orçamento saudita vêm do petróleo. O preço do petróleo colapsou dos $100 o barril em 2014 para cerca de $36 atualmente. A maioria dos peritos não espera uma recuperação em breve.

O governo saudita usou a vasta maioria da riqueza do petróleo para providenciar benefícios generosos aos seus cidadãos. Quando a Primavera Árabe abalou o Médio Oriente em 2011, o rei saudita gastou ainda mais num esforço para evitar o descontentamento do país.

Eis algumas das benesses que o governo atribui aos sauditas:

  • Gasolina altamente subsidiada (costumava ser 16 cêntimos o litro. Agora é 24 cêntimos.)
  • Cuidados de saúde gratuitos
  • Ensino gratuito
  • Água e eletricidade subsidiadas
  • Não há impostos sobre os rendimentos
  • Pensões públicas
  • Cerca de 90% dos sauditas trabalham para o Estado
  • Muitas vezes o salário do setor público é superior ao do setor privado
  • Benefícios de desemprego (começaram em 2011 como resposta à Primavera Árabe)
  • Um “fundo de desenvolvimento” que providencia empréstimos sem juros para ajudar as famílias a comprar casas e começar negócios.

A Arábia Saudita poderá ter que começar a cobrar impostos às pessoas

Agora a Arábia Saudita não consegue pagar todos esses benefícios. Sofreu um défice de cerca de $100 mil milhões, e espera algo similar este ano, se não for pior.

O FMI prevê que a Arábia Saudita poderá ficar sem dinheiro dentro de 5 anos ou menos se o petróleo continuar a menos de $50 o barril.

“Os sauditas usaram o seu poder económico para comprar o apoio das populações,” diz Jordan, que atualmente serve como diplomata em residência na Universidade Metodista do Sul.

Ele prevê que a Arábia Saudita possa até ter que começar a recolher impostos sobre o rendimento ou sobre as vendas.

“Parte do apoio que o regime tem da parte das pessoas advém do facto de que eles não impõem taxas, e portanto as pessoas não esperam representação”, diz Jordan. “Mas assim que tiverem que pagar impostos, iremos provavelmente ver um aumento dos tumultos políticos.”

O desemprego já está muito alto no país. As estatísticas oficiais colocam-no em cerca de 12%, mas peritos afirmam que é provavelmente muito mais alto sendo que muitos sauditas nem sequer procuram trabalho.

Sauditas não fazem cortes na defesa

Os membros da família real têm feito despesas extravagantes ao longo dos anos. As mesmas foram detalhados em documentos da embaixada dos EUA revelados no WikiLeaks, e incluem um estilo de vida de sexo, drogas e rock ‘n’ roll para muitos dos jovens príncipes. Não é claro se as mesmas também terão reduzido pois muitos dos gastos reais não surgem no orçamento.

E há outra área em que os sauditas não estão a fazer cortes: gastos de defesa. O país atualmente gasta 11% do seu PIB em defesa, a percentagem mais alta no mundo, e planeia gastar ainda mais este ano.

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