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Ativos do jogador Neymar no valor de $50 milhões foram congelados por uma fuga aos impostos de $16 milhões, enquanto políticos brasileiros roubam muito mais e permanecem impunes. Sabe porquê?

Se há um brasileiro que dispensa apresentações, é Neymar. O exímio atacante do FC Barcelona, com 24 anos de idade, é o futebolsta mais conhecido do país desde os tempos de Pelé. Os mesmos feitos heroicos no campo que lhe proporcionaram iates e carros de luxo também têm sido as alegrias de uma nação afetada por escândalos políticos e uma recessão económica terrível.

Até agora, pelo menos. Esta semana, um juíz federal no Brasil ordenou congelar cerca de $50 milhões de ativos de Neymar, incluindo o seu jato privado, um iate, e uma coleção de carros rápidos e casa luxuosas. Este montante está muito acima dos $16 milhões que, segundo procuradores, o futebolista não conseguiu pagar em impostos nos últimos anos: a penalidade normal pela fuga aos impostos inclui os impostos não pagos mais uma multa pesada.

Os ídolos não estão acima da lei, o que é uma boa notícia para o Brasil.

Afinal de contas, o país encontra-se no meio de uma limpeza de negócios escuros entre o governo e corporções. A assim chamada "Operação Lava Jato", uma investigação de corrupção na empresa estatal petrolífera Petrobras tem levado a tribunal muitas personalidades e executivos públicos, e até mesmo à prisão.

O escândalo supurante inclui a presidente Dilma Rousseff, que luta contra o movimento de impeachment que está a apanhar o seu antecessor incrivelmente popular, Luíz Inácio Lula da Silva, que alegadamente tinha aceitado subornos corporativos para fazer remodelações nas suas propriedades.

Assim sendo, é tentador ver o caso contra Neymar como parte desta revisão ética abrangente. Porém, o Brasil não tem assim tanta sorte. A repressão do Lava Jato é encorajadora, mas recente, e uma carreira política é ainda vista como um passo rápido em direção à impunidade.

Veja o Congresso do Brasil, onde em dezembro cerca de 30% dos representantes da Câmara dos Deputados e 40% dos senadores estavam a responder a acusações criminais, de acordo com o Congresso em Foco, uma página que acompanha a legislatura.

E mesmo assim, os legisladores estão livres para votar legislação e receber salários, a menos que os seus colegas os deixem sem impunidade parlamentar e o Supremo Tribunal os condene. Mas não tenha grandes expectativas: apenas 16 deputados foram condenados nos últimos 28 anos.

Para as celebridades tudo é mais duro. Embora alguns brasileiros gostem do estatuto de "estrela", a fama pode torná-los alvos fáceis, não só no caso de futebolistas. O ídolo de todos os tempos Pelé, reverenciado no Brasil como "O Rei do Futebol", estava nas listas de convidados em palácios de todo o mundo, mas a sua aura serviu de pouco quando o seu filho foi condenado pelo branqueamento de dinheiro e pelo seu envolvimento com um grupo de traficantes. A fama também não foi útil para Pelé quando a sua campanha de marketing desportivo foi acusada de usar o dinheiro destinado para a caridade. (Pelé não foi pessoalmente implicado, mas a sua reputação foi afetada.)

Romário, outro goleador famoso, foi detido e preso por algum tempo em 2009 por não pagar a devida pensão de alimentos, e a inteira seleção nacional brasileira foi detida pelas autoridades fiscais federais em 1994 quando eles voltaram da vitória no Campeonato do Mundo num avião carregado com contrabando. Eis o que disse o jornalista desportivo Jaca Kfouri:

"A impunidade é mais para os poderosos do que para os famosos. Os ídolos brasileiros nunca foram poupados."

Coisa cultural

Talvez seja uma coisa cultural. Afinal, o futebol é praticamente uma religão no Brasil, provavelmente porque é onde o mérito e talento superam contactos e riqueza. Os brasileiros têm orgulho, e com razão, das cinco taças que ganharam no Campeonato do Mundo (apesar da derrota da seleção nacional no último torneio), e o talento nacional é provavelmente a exportação com valor acrescentado mais bem-sucedida do país.

Isto torna o futebol numa marca muito importante com a qual ninguém se pode meter, uma convicção que se orgulha de destreza de pés, mas detesta a destreza de "mãos". Os brasileiros estavam exultantes no ano passado quando a procuradora-geral dos EUA Loretta Lynch acusou os representantes principais da FIFA de crimes de suborno, extorsão e branqueamento de dinheiro.

A fuga aos impostos de Neymar pode parecer um "delito de cavalheiros" em comparação com as acusações dos crimes das pessoas mais poderosas no Brasil. Mas ele, provavelmente, não irá contar com a benevolência dos tribunais. Já em relação à tropa de elite de políticos e magnatas do país, ainda não é claro como o jogo irá acabar.

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