Será desta que haverá cessar-fogo na Síria?
Reuters
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Posições russas e norte-americanas aproximam-se, mas o presidente sírio tem poucos incentivos para parar as hostilidades agora que está em vantagem.

Um cessar-fogo limitado na Síria poderá ser atingido logo depois de a Rússia e os EUA concordarem provisoriamente com as suas condições, disse o Secretário de Estado dos EUA, enquanto ambas as potências, que apoiam lados opostos do conflito, concentram os esforços para deter o massacre de cinco anos.

Destacando a instabilidade na Síria, bombistas suicidas mataram pelo menos 150 pessoas no domingo nas zonas xiitas da província de Homs e nos subúrbios ao sul de Damasco, de acordo com o Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos (OSDH) baseado no Reino Unido e a agência de notícias estatal SANA. O Estado Islâmico reivindicou ambos os ataques. No sudeste da Turquia perto da fronteira com a Síria, as forças turcas mataram 10 membros da milícia do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) num choque que deixou três soldados turcos mortos, segundo os militares turcos.

Enquanto o anúncio de Kerry causou reações céticas, reduzindo a violência, a situação tornou-se ainda mais urgente para os EUA e aumentou preocupações de que a Turquia e a Arábia Saudita se envolvam mais ainda no conflito. O balanço mudou em favor do presidente sírio Bashar al-Assad desde que a Rússia interveio militarmente em seu nome em setembro, emaranhando aliados e inimigos ainda mais profundamente numa guerra por procuração que matou mais de um quarto de milhão de pessoas e deslocou mais alguns milhões de pessoas.

Falando da Jordânia no domingo, Kerry disse que discutiu a proposta de tréguas com o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov, mas não quis fornecer pormenores. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia confirmou na sua página online que os dois homens discutiram as condições de cessar-fogo.

"Há uma escolha difícil para todos aqui," disse Kerry da capital jordana Amã. "Será que todos os lados vão chegar ao acordo automaticamente? Não necessariamente."

Os radicais excluídos

A cessação de hostilidades deve ser aplicada a todos os grupos armados exceto os militantes do Estado Islâmico, a Frente Al-Nusra ligada à Al-Qaeda e outros grupos reconhecidos como organizações terroristas pelas Nações Unidas.

O movimento mostra que os EUA e a Rússia podem trabalhar juntos apesar das diferenças, embora seja improvável atingir um acordo no curto prazo, de acordo com William Lawrence, diretor associado para o Médio Oriente e África do Norte da Control Risks em Dubai.

"Finalmente, um acordo de sucesso da Síria deve ser mais 'de baixo para cima' do que 'de cima para baixo'," disse Lawrence. "Mas não há dúvida de que há algum progresso importante nas conversações americano-russas."

Negociações em Munique

Já houve três tentativas importantes para acabar com os combates na Síria que começaram em março de 2011. A recente rodada de negociações falhou no princípio de fevereiro, e foi seguida pelas conversações em Munique cujo objetivo era uma cessação parcial de hostilidades até 19 de fevereiro. Mas o combate no terreno têm prosseguido, incluindo as duas explosões no domingo nos subúrbios xiitas de Sayyida Zainab, ao sul de Damasco, onde morreram pelo menos 83 pessoas, e al-Zahraa na cidade de Homs, que levou a vida de 57 pessoas, de acordo com a organização de vigilância.

Os ganhos recentes pelos combatentes sírios curdos apoiados pelos Estados Unidos desencadearam fogo de artilharia da Turquia, que receia que a força crescente dos curdos encorage as ambições de autonomia da sua própria minoria curda. A aliança dos EUA com os curdos sírios tornou as relações mais tensas com a Turquia, que, no entanto, prometeu ao presidente dos EUA Barack Obama parar os bombardeamentos se a trégua de Munique for implementada, de acordo com o jornal Hurriyet.

Tudo o que precisa de saber sobre os curdos

Assim como outras tentativas de parar os combates, esta também deixa dúvidas.

"Como você pretende impor uma trégua enquanto está a excluir alguns dos participantes principais?" disse Ibrahim Fraihat, responsável por política externa no Brookings Doha Center.

Ele também questionou o compromisso dos lados relativamente a uma pausa nos combates. Com as forças de Assad a avançar no norte, "eles não veem um incentivo para impor ou cumprir um cessar-fogo," disse Fraihat.

Avanço de Assad

Uma ofensiva do governo sírio apoiada pelos ataques aéreas russas ofuscou a diplomacia. O exército de Assad capturou pelo menos 18 aldeias no leste de Aleppo, a cidade síria mais populosa e outrora um centro comercial próspero, escreveu o OSDH na sua página online.

Numa entrevista com o jornal El Pais, Assad disse que as suas tropas estão a avançar em direção a Raqqa, a capital autoproclamada dos combatentes do Estado Islâmico, mas ainda estão longe.

Os Estados Unidos e os seus aliados que estão a combater os islamistas radicais inimigos de Assad, acusam a Rússia de escolher como alvo grupos de oposição moderados em vez do Estado Islâmico. Nas suas entrevistas recentes, Assad declarou a sua intenção de retomar controlo de todo o país, dizendo que um cessar-fogo durável iria, antes de mais nada, requerer "impedir os terroristas de fortalecer as suas posições".

Fonte: Bloomberg

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