Ataques de Bruxelas revelam dilema de segurança europeu
AP Photo/Martin Meissner
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Acumulam-se os ataques terroristas em capitais europeias e a Europa reage – mas porque não evita?

Os ataques de ontem

O derramamento de sangue voltou a arrepiar as capitais europeias. A ansiedade em relação a possíveis ataques terroristas não abandonou o território europeu desde os ataques de Paris – e foi agora renovada com os ataques de Bruxelas.

Os atentados desta terça-feira em Bruxelas, que acabaram por ser reivindicados pelo Estado Islâmico, mataram pelo menos 34 pessoas e deixaram 250 feridos. Envolveram ataques simultâneos e coordenados em locais chave no coração da capital administrativa da União Europeia.

Logo após as oito da manhã ouviram-se duas explosões na área de embarque do aeroporto de Zaventem em Bruxelas. Testemunhas avançaram à imprensa belga que ouviram gritos em árabe imediatamente antes das explosões e que as mesmas ocorreram perto do check-in de um voo da American Airlines.

Segundo a polícia belga, os irmãos El Bakraoui foram os bombistas-suicidas nos atentados no aeroporto de Bruxelas.

Uma hora depois deu-se outra explosão na estação de metro de Maelbeek no centro de Bruxelas – e perto de instituições europeias. São centenas os funcionários que trabalham ou frequentam as instituições europeias – e muitos deslocavam-se para o trabalho no momento em que se deu a explosão, em plena hora de ponta.

O governo belga, que elevou o risco de ameaça terrorista para o máximo, apelou às pessoas para ficarem em casa. As autoridades fecharam o aeroporto, o metro e os comboios – nomeadamente os comboios de alta velocidade para cidades como Londres, Paris e Amesterdão.

Fotos: explosões em Bruxelas

Os dias que antecederam os ataques

Para os serviços de inteligência e policia os ataques de terça-feira foram um grande golpe depois de meses de operações anti-terroristas – não apenas na Bélgica mas por todo o continente. Policias armados percorreram as ruas de Bruxelas durante meses – procurando desmantelar uma rede de jihadistas que se enraizou na capital. O país tem estado em alerta desde os ataques de Paris a 13 de novembro – em que cinco dos atacantes eram provenientes de Molenbeek, bairro de Bruxelas a seis paragens de metro da estação de Maelbeek.

Crê-se que o timing do ataque esteja ligado à detenção de Salah Abdeslam na passada sexta-feira, o único autor dos ataques de Paris que se acredita ainda estar vivo. A policia belga encurralou Abdeslam na sua casa, no coração de Molenbeek, uma zona altamente habitada por famílias de imigrantes do Norte de África e respetivas segunda e terceira gerações.

Numa entrevista no fim de semana à TIME o vice ministro da câmara de Molenbeek, Ahmed al-Khannouss, avançou que as autoridades locais detinham os nomes de 85 residentes que acreditavam ter combatido em grupos jihadistas na Síria e no Iraque desde 2012 – tendo depois regressado à Europa.

“Temos de perceber quem é perigoso e quem não é.” – Afirmou al-Khannouss.

Bruxelas: a capital europeia da jihad

A dimensão da ameaça

Em entrevistas recentes à TIME, peritos em informações de segurança avançaram que temiam que a Europa pudesse enfrentar ataques coordenados como os de Paris, que mataram 130 pessoas e pelos quais o Estado Islâmico também assumiu responsabilidade. “O que esperamos é um ataque a diversos alvos, em diversas cidades, ao mesmo tempo – e que terá consequências terríveis.” – Avançou recentemente à TIME Claude Moniquet, antigo agente do DGSE (serviço de informações francês) e que agora detém uma empresa de serviços de inteligência em Bruxelas.

As autoridades têm centrado a sua atenção sobre aqueles que foram treinados no exterior e que poderão estar sob instruções para retornar à Europa e “lutar em casa”; alguns dos atacantes de Paris tinham retornado de formação com o Estado Islâmico na Síria e planearam o ataque de Paris a partir de Molenbeek.

Nos últimos dias, no entanto, os líderes europeus avançaram que o número de indivíduos que poderia potencialmente empreender medidas terroristas poderia ser superior ao estimado anteriormente. François Hollande, presidente francês, avançou numa conferência de imprensa em Bruxelas na passada sexta-feira à noite que a “ampla e extensa” rede de jihadistas é maior do que os investigadores franceses e belgas tinham pensado no rescaldo dos ataques de Paris há mais de quatro meses atrás.

O ministro dos negócios estrangeiros belga, Didier Reynders, avançou na passada segunda-feira que a policia encontrou “muitas armas, armas pesadas” durante os raides da semana passada – que terminaram com a detenção de Abdeslam. Avançou também que Abdeslam afirmou, em interrogatório sob custódia, que estava “pronto para retomar algo em Bruxelas”.

Europa: que capacidade?

Apesar do nível de alerta terrorista máximo, seguir a rede jihadista que se mantém não será fácil – em parte porque os contornos da mesma estão a tornar-se cada vez mais turvos. Desde os ataques ao Charlie Hebdo em janeiro de 2015 os peritos dos serviços de informações têm prevenido que os jihadistas estão a tornar-se grupos de crime organizado ao estilo da Máfia, com operações de tráfico e contrabando altamente sofisticadas – para apoio logístico, transporte de pessoas, emissão de documentos de identidade falsos ou venda de armas. “Perante a possibilidade de se gerar dinheiro há sempre uma oportunidade de negócio para o crime organizado.” – Afirmou Yan St-Pierre, CEO e assessor de contra-inteligência no Modern Security Consulting Group. “Se vendem armas a terroristas ou a outra pessoa, não faz diferença.” – Avançou à TIME na terça-feira.

A combinação de dois mundos totalmente diferentes – crime organizado e extremismo islâmico violento – tem complicado a tarefa de rastreamento de suspeitos. “Isto torna a situação extremamente difícil para os serviços de informações pois são dois tipos de redes com dois tipos de lógicas.” – Avançou Moniquet. “E têm a mentalidade de clã – em que se um amigo chega e pede ‘ajuda-me’ fazem-no sem questionar.”

Os profundos cortes orçamentais gerados pela recessão económica na Europa nesta última década representam outro grande desafio para o desmantelamento de redes terroristas. St-Pierre afirma que os governos europeus dependem cada vez mais de métodos de vigilância de alta tecnologia, que são menos custosos que a contratação de pessoas que podem monitorizar qualquer possível suspeito. “Devido aos cortes ao longo dos últimos cinco a seis anos há cada vez menos pessoas envolvidas” na vigilância de suspeitos de terrorismo. “Têm de jogar à apanhada mas isso cria enormes problemas – e os terroristas, entretanto, já se adaptaram.”

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