As autoridades belgas expandiram as suas buscas e detiveram diversos suspeitos desde os ataques da semana passada em Bruxelas. As detenções, contudo, estendem-se a outros países europeus.
A investigação quanto aos atentados da semana passada em Bruxelas estendeu-se por toda a Europa – com a detenção, por parte da polícia italiana, de um suspeito de fornecimento de documentos falsos a militantes do Estado Islâmico por detrás dos ataques de Bruxelas e Paris.
A última detenção veio contribuir para a criação de uma nova imagem em relação à rede que encenou alguns dos piores ataques em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial – outra indicação do alcance do Estado Islâmico além dos seus redutos no Iraque e na Síria.
O medo permanece elevado por todo o continente – quase uma semana depois de bombistas suicidas terem morto pelo menos 31 pessoas no aeroporto de Bruxelas e, uma hora depois, numa estação de metro da cidade. Os ataques de terça-feira passada lançam uma nova luz não só sobre as fraquezas das agências de segurança europeias mas também em relação à determinação dos militantes para lançar ataques.
Aqueles que se reuniram na praça de São Pedro no Vaticano este domingo, para ouvir o Papa Francisco no seu discurso de Páscoa, foram sujeitos a fortes medidas de segurança. De acordo com a Associated Press o Papa chamou ao terrorismo “uma forma cega e brutal de violência”.
No centro de Bruxelas foi visível uma certa ansiedade generalizada – com a polícia de choque, com escudos e capacetes brancos, a espalhar-se na tarde de domingo pelos locais de homenagem às vítimas. A polícia disparou canhões de água contra várias centenas de homens vestidos de preto – aparentemente fãs de futebol. Os fãs agitaram uma faixa gigante contra o Estado Islâmico e, de acordo com relatórios da imprensa, gritaram palavras de ordem nacionalistas.
Um dos participantes, que se identificou apenas como Steve, afirmou que os fãs não estavam a protestar com os imigrantes ou muçulmanos. Afirmou que queriam apenas mostrar que condenavam o terrorismo e a fraqueza do governo para lidar com tais ameaças.
“Somos apenas pessoas unidas face ao que se está a passar neste país.” – Afirmou, ao telefone, ao final do dia.
Funcionários do governo pediram aos organizadores de um comício de solidariedade – previsto para domingo – que o mesmo fosse adiado, avançando que a polícia não poderia fornecer segurança adequada.
As autoridades belgas, por sua vez, expandiram as suas buscas. De acordo com o gabinete do procurador federal belga, conduziram 13 buscas em Bruxelas e noutras áreas no domingo. As quatro pessoas detidas durante as buscas permanecem sob custódia.
De acordo com os media locais os promotores detiveram um outro suspeito. O homem, identificado pelas autoridades como Abderrahmane A., está sob custodia desde sexta-feira e é acusado de pertencer a uma organização terrorista. A polícia belga não forneceu mais detalhes.
O homem capturado pelas autoridades italianas no domingo é suspeito de fornecer documentos de identificação falsos a apoiantes do Estado Islâmico –permitindo que os mesmos fujam às autoridades enquanto planeiam ataques na Bélgica e França.
“O argelino preso hoje em Salerno pertence a uma rede de falsificadores de documentos de residência.” – Avançou a polícia no Twitter, no sábado.
De acordo com a agência de notícias italiana, a ANSA, Djamal Eddine Ouali, de 40 anos, é objeto de mandato de detenção belga desde janeiro. A ANSA avançou que Ouali é suspeito do fornecimento de documentos falsificados a Salah Abdeslam, suposto membro da célula que conduziu os ataques de Paris a 13 de novembro e que se encontra agora sob custódia belga.
Crê-se também que Ouali tenha fornecido documentos a Najim Laachraoui, suspeito de envolvimento nos ataques no aeroporto de Bruxelas, e a um homem morto pelas autoridades belgas num raide este mês, antes dos ataques.
Os novos passos na investigação surgem enquanto as autoridades belgas procuram contornar a crítica quanto ao seu controlo de ameaças terroristas.
Os investigadores reconheceram na semana passada que não questionaram Abdeslam de forma extensiva, no seguimento da sua detenção a 18 de março, podendo ter perdido pistas que poderiam ter ajudado a evitar os ataques.
No domingo, o ministro do Interior, Jan Jambon, defendeu a tomada de decisão do governo quanto aos ataques da semana passada. Desde os ataques que tem sido acusado de não proteger os residentes de Bruxelas.
A crítica levou a que a notícia da captura de mais um suspeito dos ataques de terça-feira fosse ainda melhor recebida.
De acordo com autoridades locais o homem é Fayçal Cheffou, o terceiro suspeito dos ataques no aeroporto de Bruxelas. A sua mala, carregada com explosivos, não terá explodido.
O homem, que as autoridades belgas não identificaram na totalidade, foi acusado no sábado pela “participação em atividades de grupo terrorista, assassinato terrorista e tentativa de assassinato terrorista.”
De acordo com a imprensa belga, Cheffou descreveu-se a si mesmo como jornalista no passado e tem promovido o radicalismo islâmico.
As autoridades belgas também acusaram um homem, identificado como “Rabah N.”, de participação em grupo terrorista e outro homem, identificado como “Aboubakar A.”, por infração relacionada com terrorismo.
O último indivíduo a ser acusada poderá ser Abderrahmane Ameroud, que a imprensa belga relatou como estando ligado aos ataques. Ameroud foi condenado por um tribunal francês a sete anos de prisão pelo envolvimento no assassinato de Ahmed Shah Massoud, um líder de guerrilha afegão. Massoud foi morto em 2001.
Não se sabe ao certo quais as acusações associadas a cada suspeito.
Durante o fim de semana militantes continuaram a celebrar os ataques – avançando que os mesmos demonstram a fraqueza das defesas ocidentais. Num vídeo divulgado no sábado, um militante de língua holandesa identificado como Abu Hanifa al-Beljiki dirigiu-se ao governo da Bélgica:
“Não aprenderam nada com as lições de Paris pois continuam a combater o Islão e os muçulmanos.” – Afirmou, de acordo com uma transcrição do SITE Intelligence Group. “Com isto quero dizer que com o ataque em Bruxelas estão a colher o que semearam com as próprias mãos.”
De acordo com as autoridades belgas, mais de 300 pessoas ficaram feridas nos ataques. Cerca de metade das vítimas são cidadãos estrangeiros. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Bélgica, nem todos os feridos foram identificados pois alguns permanecem em estado de coma.