Mosul é uma das maiores cidades do Iraque. Foi tomada pelo Estado Islâmico em junho de 2014 e há apenas alguns dias o governo iraquiano anunciou uma operação militar para a recuperação da mesma.
Incompetência, desconfiança e divisões no terreno são algumas das características da operação.
O Major-General Najim al-Jobori descreve o progresso das suas forças para recuperar a segunda maior cidade do país, dominada pelo Estado Islâmico (EI), de forma calma e confiante, a partir da base militar iraquiana a alguns quilómetros da linha da frente,
A 24 de março o governo iraquiano anunciou o início da muito esperada operação para retomar Mosul. São agora vistos soldados iraquianos, com veículos e armas fornecidas pelos EUA e com assessores dos EUA, na base de Makhmour, criada em janeiro como plataforma para a operação de Mosul. Jobori – a comandar a operação – avança que as suas forças já completaram a primeira etapa. “Graças a Deus os objetivos foram alcançados pelas nossas forças.” – Afirmou.
O Major-General poderá soar confiante mas entrevistas no terreno sugerem que foi alcançado pouco progresso – tem-se verificado incompetência no campo de batalha, falta de confiança por parte da população local e divisões entre as várias forças que lutam contra o Estado Islâmico, o que tem retardado a luta.
Maysar Hassan, antigo soldado iraquiano cuja aldeia, Kharbardan, foi tomada pelo exército na semana passada avança:
“O que vejo aqui é amadorismo, não operações militares. Demoraram três dias a tomar uma pequena aldeia de 1.000 metros quadrados.”
O ritmo das operações tem, de facto, sido lento. Nos cinco dias que passaram desde que o governo anunciou a sua ofensiva, as forças iraquianas tomaram menos de 10 aldeias – e os jihadistas já tinham abandonado algumas das mesmas.
Tal poderá dever-se, em parte, a falhas em termos de táticas. Jobori deixou claro que espera que os iraquianos ajudem a afastar a milícia ocupadora. “Esperamos revoltas [contra o Estado Islâmico] nas aldeias à medida que nos aproximamos das mesmas.” – Afirmou.
No entanto, a maioria dos iraquianos nessas aldeias não confia nas forças que surgem para a sua libertação. Quando o Estado Islâmico avançou para Mosul e região circundante em junho de 2014, milhares de soldados iraquianos fugiram, deixando veículos e armas para trás – que acabaram por ser saqueados por combatentes do EI. As forças são vistas como incompetentes, na melhor das hipóteses, e opressivas e sectárias na pior das hipóteses.
O progresso também tem sido abrandado pelas divisões entre as forças iraquianas e combatentes curdos iraquianos – peshmerga (termo utilizado para referir curdos armados) – que têm mostrado maior sucesso no campo de batalha. Até o exército iraquiano aparecer, há alguns meses, os peshmerga aguentaram a linha de frente – depois de levarem o EI a abandonar Makhmour.
Agora, o exército iraquiano está a avançar sem os mesmos. “É necessário para os peshmerga ajudar o exército iraquiano mas aguardamos os nossos líderes.” – Avançou Ahmed Anwar, oficial de imprensa no complexo peshmerga a alguns metros da base de Joboti, que reclama que os EUA dão melhores armas aos iraquianos.
Provavelmente está certo. Chris Hamer, analista sénior do Institute for the Study of War baseado em Washington avança que os EUA continuam a dar prioridade ao exército nacional iraquiano, com o qual já gastaram milhares de milhões de dólares, com a “ilusão, delírio ou otimismo de que o Iraque é ainda um estado-nação unitário.” – Avançou. Afirma ainda que colocar os curdos peshmerga no comando seria admitir que o Curdistão é funcionalmente independente.
No entanto, as tensões entre curdos iraquianos e iraquianos poderá aumentar num campo de batalha desigual. Makhmour é uma área disputada, reivindicada tanto pelo governo central de Bagdad como pelo Governo Regional do Curdistão baseado em Erbil (em junho de 2014, a área encontrava-se povoada por curdos e árabes sunitas). Erbil tem sido clara quanto à sua intenção de manter a área, o que torna a base do exército iraquiano um ponto de discórdia.
As forças curdas estão também a fomentar a desconfiança da oposição armada ao Estado Islâmico. Do outro lado da base encontram-se quase 2.000 pessoas reunidas num centro de juventude – na sua maioria árabes sunitas, deslocados na primeira fase da operação Mosul. Os homens são mantidos numa tenda separada, guardada por peshmerga que permitem a sua saída aos pares, para idas à casa de banho e obtenção de alimentos.
“É importante por questões de segurança.” – Avança um dos peshmerga a guardar o abrigo. “Não têm telemóveis.” Os homens árabes sunitas são levados em grupo para interrogatório por parte de agentes de informações curdos, que temem que os mesmos possam ser membros do Estado Islâmico ou informadores.
Se se verificar o “levante” de Jobori, no entanto, será necessário o apoio dos sunitas locais que as forças curdas estão agora a manter sob guarda apertada. Líderes tribais avançam estar ansiosos por desempenhar um papel na luta contra o Estado Islâmico, para retomarem a suas próprias aldeias – no entanto afirmam que estão a ser colocados de parte e que não têm recebido armas ou apoio suficiente.
“As tribos sunitas devem ser envolvidas nesta operação – ou, pelo menos, deve ser aberta a porta a esses jovens. Serão combatentes muito eficazes contra o Estado Islâmico.” – Afirma Hassan Sabawi, membro do conselho provincial de Nineveh, cujo território se encontra sob controlo do Estado Islâmico.
A menos que todas estas forças rebeldes encontrem uma forma de trabalhar em conjunto é difícil ver como o exército iraquiano irá realizar progressos significativos na recuperação de Mosul.
“O [exército iraquiano] é a organização militar de menor qualidade no Iraque.” – Avança Harmer. “Irá precisar de toda a ajuda que conseguir obter.”