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Os fortes laços da Arábia Saudita com a Rússia explicam o declínio da influência regional dos EUA.

Depois do Rei Salman da Arábia Saudita ter subido ao trono em 2015 e ter dado permissão ao seu filho preferido – e vice-príncipe herdeiro ao trono – Mohammed bin Salman, para tomar as rédeas do poder do reino, o país embarcou numa política regional e estrangeira assertiva. O filho do rei, que se encontra cada vez mais frágil e envelhecido, sobrepôs-se ao príncipe herdeiro ao trono, próximo na linha de sucessão: o Ministro do Interior Mohammed bin Nayef. Até aí as opiniões estão quase todas de acordo.

O Príncipe Mohammed bin Salman acumulou um poder surpreendente, num sistema em que a família regente tenta estabelecer um equilíbrio cuidadoso entre fações. MbS, a sua abreviação em contextos diplomáticos, com apenas 30 anos, assumiu o poder num regime há muito regido por homens com 70 e 80 anos. É Ministro da Defesa, czar da economia e lidera as áreas associadas à política externa e ao petróleo.

Um resumo linear da sua política de defesa – e da sua política externa – no seu primeiro ano de mandato provavelmente salientaria os seguintes pontos:

  • a guerra aérea liderada pelos sauditas contra os rebeldes Houthi do Iémen apoiados pelo Irão, que teve início no mês passado
  • o aumento do apoio aos rebeldes sunitas a lutar contra o regime de Bashar al-Assad na Síria, que recebe apoio do Irão, do Hezbollah, das forças paramilitares xiitas libanesas e da Rússia
  • a rutura das relações diplomáticas entre Riade e Teerão
  • e, nas últimas semanas, o rompimento de relações com aliados políticos e militares sauditas no Líbano.

Por outro lado, provavelmente não incluiria a crescente distensão entre o reino e a Rússia de Vladimir Putin, que é aliada daqueles que a Arábia Saudita mais renega na região – o Irão, o Hezbollah e o regime de Assad.

As alianças por conveniência não são algo propriamente novo no Médio Oriente. A sede de poder dos regimes enraizados coexiste na maioria dos casos com pragmatismo – e criam-se relações de amizade entre os piores inimigos. No entanto, as atuais guerras por procuração entre os sunitas da Arábia Saudita e os xiitas do Irão atingiram altitudes pouco comuns de antagonismo visceral e violento, especialmente na Síria. Mas antes de mais, vejamos o que a Arábia Saudita tem andado a fazer.

Riade tem vindo a assinalar a sua retirada da guerra do Iémen. Os dirigentes sauditas afirmam que destruíram uma ameaça de míssil contra o reino – da parte do seu desordeiro vizinho do sul. Mas na opinião de muitos parece que MbS teve mais olhos que barriga.

Apesar de Riade ter revelado uma aliança com mais de 30 nações sunitas para enfrentar o Irão, o Egito e o Paquistão, que são os países com os maiores exércitos, estas recusaram manifestamente proporcionar forças terrestres para a guerra aérea saudita. Uma ameaça avançada pela Arábia Saudita à Síria – quanto ao envio de tropas para apoiar rebeldes sunitas – acabou por nunca acontecer.

A rutura diplomática da Arábia Saudita com o Irão e com o Líbano deu-se depois da execução, em janeiro, do Xeque Nimr al-Nimr, um clérigo xiita dissidente. Depois da embaixada saudita em Teerão e do consulado em Mashhad terem sido alvo de ataques por parte da população, Riade reagiu.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, um cristão associado ao Hezbollah, recusou condenar os acontecimentos – assumindo uma atitude mais papista do que o próprio Papa, tendo em conta que o próprio governo do Irão o fez. Os sauditas cancelaram um fundo de apoio ao exército libanês, de $3 mil milhões, deixaram de pagar aos aliados sunitas no local e fecharam as instalações da Al Arabiya, uma rede de televisão pertencente aos membros da família real.

E, no entanto, o Príncipe Mohammed bin Salman forjou ao mesmo tempo aquilo que os dirigentes árabes descrevem como uma relação “funcional e substantiva” com o Presidente Putin, abrangendo a Síria, possíveis aquisições de armamento e investimento por parte da Arábia Saudita na Rússia e tentativas conjuntas para estabilizar os preços do petróleo a partir da redução da extração.

Os esforços de paz dos EUA e da Rússia na Síria continuam a ser travados – com a insistência de Moscovo de que o Presidente Assad deve ficar fora da guerra, algo a que Washington e Riade estão a resistir.

Entretanto, voltando um pouco atrás no tempo: segundo um oficial árabe em contacto com o vice-príncipe herdeiro, quando MbS se encontrou com Putin em outubro do ano passado no Grande Prémio da Rússia em Sochi, disse-lhe:

“Não queremos saber dos Assad, importamo-nos é com o Irão”.

Sergei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, terá dito depois: “Agora temos uma visão mais clara sobre como seguir pelo caminho da solução política”.

É pouco provável que se chegue a essa solução política tão cedo. Apesar da saída parcial de Putin da Síria no mês passado, as forças militares de Assad apoiadas pela Rússia ainda estão na ofensiva – não só contra os rebeldes apoiados pelos sauditas como agora também contra os jihadistas do Estado Islâmico, de quem conseguiram recuperar a cidade de Palmira.

Algumas fontes árabes dizem mesmo que o líder russo informou MbS sobre a sua nova política na Síria antes de informar Assad.

Putin poderá estar a dar o sinal a Assad de que, a menos que este se envolva nos planos em desenvolvimento para terminar a guerra na Síria, Moscovo poderá vir a abandoná-lo. A Rússia, que se encontra na linha da frente no eixo apoiado pelo Irão na Síria e no Iraque, também está neste momento a intersetar-se com a coligação liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico. Ambas as coligações estão a apoiar as milícias sírias curdas na luta contra o Estado Islâmico no norte da Síria. O Irão, aliado da Rússia, está realmente a trabalhar com os EUA no Iraque.

Os fortes laços da Arábia Saudita com a Rússia explicam o declínio da influência regional dos EUA, com quem o reino tem uma aliança há 70 anos. Após Barack Obama ter dado início ao degelo nas relações dos EUA com o Irão através do acordo nuclear do ano passado e Putin ter entrado numa guerra que o presidente dos EUA tentou evitar, parece que os sauditas decidiram cooperar com Moscovo, acreditando que talvez conseguissem exercer alguma influência sobre Teerão. A Síria, em toda a sua essência, tornou-se o campo de batalha do Médio Oriente de hoje.

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