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O Facebook (ou os seus colaboradores) decide(m) o que os utilizadores leem

Colaboradores do Facebook (NASDAQ: FB) omitiram notícias, de forma rotineira, da secção de “Trending” da rede social (“Populares” em português, funcionalidade do Facebook ainda não disponível em Portugal – que surge do lado direito do ecrã e apresenta notícias com elevada divulgação/discussão) – de acordo com um antigo jornalista que trabalhou no projeto. Este indivíduo afirmou que diversos colaboradores impediram que histórias sobre determinados temas – nomeadamente conservadores – aparecessem na secção em questão, embora as mesmas tivessem destaque (de forma orgânica) nos sites originais.

Diversos antigos “curadores de notícias” do Facebook – como são conhecidos internamento – avançaram ao Gizmodo que foram instruídos a “injetar” artificialmente histórias no módulo de Trending, mesmo que não fossem suficientemente populares para justificar a inclusão. Os antigos curadores, que trabalhavam como contratados, também afirmaram que foram orientados a não incluir notícias sobre o próprio Facebook.

Por outras palavras: a secção de notícias do Facebook funciona como uma redação tradicional, refletindo os preconceitos dos seus colaboradores e os imperativos institucionais da empresa. A imposição de valores quanto à lista de tópicos do Trending contrasta com as alegações da empresa de que o módulo de notícias “simplesmente apresenta tópicos que se tornaram populares no Facebook”.

Estas novas alegações surgem depois da Gizmodo ter divulgado detalhes sobre o funcionamento interno da equipa de notícias do Facebook – um pequeno grupo de jovens jornalistas, formados principalmente na Ivy League ou em universidades privadas da costa leste dos EUA. Os curadores têm acesso a uma lista de tópicos-tendência trazidos à tona pelo algoritmo do Facebook – que prioriza as histórias que devem ser apresentadas aos utilizadores na secção de Trending. Os curadores escrevem títulos e sumários para cada tópico e incluem links para os respetivos sites. A secção, que foi lançada em 2014, ajuda a ditar que notícias os utilizadores do Facebook leem em determinado momento. [Relembra-se que a ferramenta Trending (Populares) ainda não está disponível em Portugal].

De acordo com um antigo curador (que solicitou anonimato, com receito de potenciais represálias da empresa):

“As notícias ou eram consideradas tendência ou eram colocadas na lista negra – consoante quem se encontrava a trabalhar.”

Outro antigo curador confirmou que se verificava alguma aversão a fontes de direita/conservadoras:

“Era absolutamente tendencioso. Era algo que fazíamos de forma subjetiva. Dependia apenas de quem o curador era.”

As histórias cobertas por meios conservadores (como o Breitbart, Washington Examiner e Newsmax) e que eram suficientemente populares para serem selecionadas pelo algoritmo do Facebook eram excluídas – a menos que meios mainstream como o New York Times, BBC e CNN cobrissem as mesmas histórias.

Outros antigos curadores negaram a omissão consciente de notícias orientadas à direita. Também não é claro que tópicos de notícias de esquerda ou fontes foram omitidos. Um dos curadores entrevistados descreveu que as omissões se davam em função das decisões dos seus colegas – não há evidência que a gestão do Facebook tenha orientado essas iniciativas (ou que estivesse ao corrente de qualquer enviesamento das notícias por parte das suas equipas).

No entanto, os responsáveis por estas equipas instruíram a manipulação artificial das tendências de uma forma diferente: de acordo com o avançado por diversos antigos curadores, quando os utilizadores não liam histórias que a gestão considerava importantes os curadores colocavam-nas à mesma no Trending. Diversos curadores avançaram ter utilizado a “ferramenta de injeção” para colocar tópicos – que não estavam a ser partilhados ou discutidos de forma orgânica – no Trending: colocando os títulos à frente de milhares de utilizadores em vez de deixarem as histórias fluir naturalmente. Em alguns casos, depois de determinado tópico ser “injetado”, o mesmo acabava por se tornar tendência número um no Facebook.

De acordo com outro antigo curador:

“Disseram-nos que se víssemos alguma coisa, uma notícia na primeira página de alguns sites – como o CNN, New York Times e BBC – podíamos injetar o tema. (...) Se parecesse que muitos sites estavam a cobrir a história podíamos injetá-la – mesmo que não fosse uma tendência de forma orgânica.”

SFIO CRACHO/Shutterstock.com

Por vezes eram injetadas notícias de última hora – pois não estavam a atrair massa crítica rápido o suficiente para serem consideradas “tendência” pelo algoritmo. Antigos curadores citaram o desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines e os ataques contra o Charlie Hebdo em Paris como dois exemplos de histórias não-tendência-imediata que foram forçadas no módulo de notícias – Trending. O Facebook tem procurado competir com o Twitter quanto à partilha de notícias em tempo real; e a ferramenta de injeção poderá ter sido desenhada para corrigir, de forma artificial, essa deficiência da rede social.

“Gritavam connosco se a notícia estivesse a correr no Twitter e não no Facebook.” – Afirmou um antigo curador.

Noutras situações os curadores injetavam uma história – mesmo que não estivesse a ser amplamente discutida no Facebook – pois era considerada importante para que a rede social fosse considerada um espaço de conversa sobre assuntos sérios. De acordo com um antigo curador:

“As pessoas deixaram de se preocupar com a Síria (...) [e] se não fosse uma tendência no Facebook faria com que o mesmo parecesse mal.”

Quando histórias sobre o próprio Facebook se tornavam tendência na rede social – de forma orgânica – os curadores recorriam a menos discrição – não incluíam essas histórias de todo. De acordo com um antigo curador:

“Quando se tratava de uma história sobre a empresa (...) tinha de ser aprovada, mesmo que estivesse a ser bastante partilhada."

E de acordo com outro antigo curador:

“Éramos sempre cautelosos quando se tratava de cobrir o Facebook (...). Esperávamos sempre até termos aprovação superior antes de tornarmos algo sobre o Facebook uma tendência. Normalmente tínhamos autorização para trabalhar autonomamente [mas] quando se tratava de algo relacionado com o Facebook o gestor de copy falava com o seu gestor – que poderia consultar alguém hierarquicamente superior – antes de aprovar o tópico.”

Diversos curadores avançaram que à medida que o algoritmo de tendência melhorava, havia menos histórias a serem injetadas. Também afirmaram que o processo estava constantemente a ser alterado – logo não existe forma de saber como é gerido agora. No entanto, as revelações minam a presunção de que o Facebook surge como neutro aquando da divulgação de notícias – ou de que a divulgação de notícias é gerada por uma lista criada por um algoritmo.

Em vez disso os esforços da empresa revelam que a mesma é muito parecida aos meios de comunicação: um grupo de profissionais com sensibilidade orientada para o centro-esquerda. No entanto, apresenta-se como reflexo neutro da vox populi – com poder para influenciar o que milhares de milhões de utilizadores veem.

Um porta-voz do Facebook enviou a seguinte declaração a meios como a BuzzFeed e a TechCrunch:

“Encaramos as alegações de parcialidade muito a sério. O Facebook é uma plataforma para pessoas e perspetivas de todo o espectro político. O Trending Topics apresenta os tópicos e hashtags mais populares no Facebook. Existem orientações rigorosas para que a equipa de revisão garanta consistência e neutralidade. Essas orientações não permitem a omissão de notícias tendo por base orientações políticas. Nem permitem a priorização de determinado ponto de vista sobre outro ou de uma fonte sobre outra.”

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