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O vice-presidente assume automaticamente o poder se a presidente for destituída do cargo

Apenas há alguns meses Michel Temer descartou a hipótese da presidente Dilma Rousseff vir a ser acusada.

“Penso que isso não irá muito longe.” – Avançou o vice-presidente brasileiro ao Financial Times, em dezembro, antes de mudar rapidamente de assunto.

Hoje, Rousseff enfrenta a votação do Senado – que deverá apoiar a moção de impeachment – e Temer, de 75 anos, está à beira de se tornar presidente.

A votação no Senado ainda poderá enfrentar obstáculos – apesar do chefe interino da câmara baixa do Congresso brasileiro ter revertido a decisão de suspensão do movimento contra Rousseff, que é acusada de ter utilizado fundos estatais de forma ilegal para tapar um buraco no orçamento – acusações que tanto Dilma como o seu partido avançaram ser motivadas por questões políticas.

Presidência do Brasil: otimismo e hesitação quanto a Michel Temer

Contrariando quaisquer outras surpresas, o advogado constitucional e ator político irá assumir a tarefa de resgatar a maior economia da América Latina de uma recessão profunda e de restaurar a confiança pública numa classe política devastada pelo escândalo de corrupção na Petrobras (NYSE: PBR), a empresa de petróleo do Estado.

O filho mais novo de uma família libanesa – que deixou a sua aldeia natal de Btaaboura em 1925 – nasceu em Tietê, no estado de São Paulo, numa família de produtores de arroz e café. Entretanto, Btaaboura nomeou a sua principal rua como “Rua Michel Tamer, vice-presidente do Brasil” em homenagem ao mesmo.

Depois da faculdade de Direito trabalhou como professor durante as duas décadas de ditadura militar no Brasil – antes de entrar na política nos anos 1980. Em 2001, assumiu a liderança do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, atualmente o maior no Congresso.

Temer passou anos no labirinto da política brasileira. O PMDB aliou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Rousseff em 2007 e Temer foi escolhido como seu vice-presidente quando foi eleita em 2011.

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Os primeiros anos passaram-se tranquilamente, até as tensões com Dilma se terem tornado públicas – quando uma carta de Temer (que se tornou pública no ano passado) revelou a sua frustração quanto ao facto da presidente o manter a si e ao seu partido fora da tomada de decisões.

Num documento semelhante a um anúncio de divórcio denunciou que tinha sido tratado como vice-presidente “decorativo”, mantido fora de importantes reuniões com pares – como Joe Biden, vice-presidente dos EUA – ignorado quando sugeria compromissos e tratado com “absoluta falta de confiança”.

As suas diferenças face a Rousseff foram sublinhadas num plano económico que publicou no ano passado – e que previa reformar muitos Santos Graal de esquerda, como as pensões e leis trabalhistas. Até introduziu uma medida que iria exigir que todas as despesas do governo fossem justificadas a cada ano.

Manteve-se discreto quando Eduardo Cunha, representante da câmara baixa, lançou a moção de impeachment. Como beneficiário do movimento – o vice-presidente assume automaticamente o poder se a presidente for destituída do cargo – não quis ser visto como estando atrás do poder.

No entanto, cometeu algumas gafes. Foi divulgado online um vídeo do mesmo, em abril, a praticar o seu discurso de aceitação do cargo no caso de Rousseff ser afastada – reforçando as seguintes palavras de Dilma quanto ao mesmo: “conspirador” e “usurpador”.

Temer é considerado agradável – e eficiente – e vislumbres da sua vida privada revelam o lado emocional do homem que poderá ser o 40º presidente do Brasil.

É autor de numerosos livros sóbrios sobre direito constitucional – contudo, um dos seus trabalhos mais recentes tratou-se de uma coleção de poesia.

Numa entrevista à revista brasileira TPM a sua mulher revelou:

“Para mim é como se ele tivesse 30 [anos].” – Afirmou quanto à sua diferença de idades, acrescentando que o achou “extremamente encantador” no primeiro encontro de ambos.

Se, como esperado, Michel Temer assumir a presidência do Brasil esta semana, terá de utilizar esse charme para lidar com um país ferido com a recessão económica e dividido pelo ódio político.

No entanto, poderá ver-se arrastado para o escândalo com a Petrobras – tendo sido mencionado por algumas das testemunhas da investigação, embora não se encontre oficialmente sob investigação e tenha negado quaisquer irregularidades.

No entanto, não se espera que permaneça como presidente por muito tempo – tendo avançado ao Financial Times em dezembro que não irá concorrer às eleições previstas para 2018.

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