Refugiados abandonam campo de Idomeni na Grécia
Yannis Kolesidis/ANA-MPA via AP
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As autoridades gregas ordenaram aos 8.000 refugiados presentes no maior campo (informal) de refugiados da Europa que abandonassem o mesmo esta terça-feira

Mais de um milhão de migrantes entraram na União Europeia através da Grécia desde o início do ano passado, colocando bastante pressão sobre o país – que tenta lidar com o fluxo de refugiados enquanto procura colocar a sua economia em ordem.

Mais recentemente, o encerramento de uma passagem crucial na principal via para a Alemanha – com uma política de portas abertas, o que a tornou o país de eleição para os refugiados – manteve mais de 50.000 refugiados na Grécia – e hoje, as autoridades gregas procuraram “libertar” o maior campo de refugiados informal da Europa, onde permaneceram milhares de refugiados ao longo dos últimos meses.

O mesmo encontra-se em Idomeni, próximo da fronteira entre a Grécia e a Macedónia. A operação teve início às 6 da manhã, hora local, desta terça-feira com as autoridades a conduzirem os refugiados para autocarros para acampamentos oficiais, geridos pelo governo, perto de Thessaloniki – a segunda maior cidade da Grécia.

A entrada foi impedida a jornalistas e ativistas mas testemunhas avançaram que cerca de 400 policias entraram no campo na madrugada desta terça-feira para ordenarem aos cerca de 8.000 refugiados presentes que saíssem. Muitos saíram voluntariamente em autocarros. Não foram avançados quaisquer relatos de violência.

Idomeni foi o ponto de passagem informal através do qual centenas de milhares de refugiados entraram na Macedónia em 2015. Os refugiados começaram a acampar no local quando o governo da Macedónia começou a fechar a fronteira a certas nacionalidades em novembro passado. Assim que a fronteira encerrou totalmente em março, o local tornou-se um campo de refugiados de larga escala – e um emblema do fracasso europeu quanto à gestão da crise dos refugiados.

Não acolher migrantes sairá caro aos países da UE

As autoridades gregas tentaram durante semanas transferir os refugiados de Idomeni para campos formais em antigas bases militares. No entanto, muitos mostraram-se relutantes a sair pois estavam esperançosos quanto à possibilidade da fronteira reabrir; outros pretendiam passar com a ajuda de contrabandistas; e outros tinham receio de ficar bloqueados em centros administrados pelo governo.

Nos termos de um acordo firmado no verão passado os refugiados devem ser deslocados para outros países da Europa – no entanto, até agora, os membros da UE têm falhado quanto ao cumprimento das suas promessas.

Com o governo a prometer não utilizar a força em Idomeni, voluntários duvidam que o campo fique totalmente desocupado esta terça-feira. De acordo com os Médicos Sem Fronteiras, com presença em Idomeni desde há mais de um ano, não se verificou qualquer violência até ao momento:

“Até agora tem sido pacífico e as pessoas estão simplesmente saindo.” – Afirmou Loic Jaeger, chefe da missão da organização na Grécia.

Jaeger também argumentou que a evacuação constitui o fracasso da solidariedade europeia:

“Estão todos muito entusiasmados com a evacuação – se é violenta ou não – mas não é essa a questão. (...) A questão é que [os refugiados] deveriam estar num apartamento em qualquer ponto da Europa: são apenas 8.000. Por que é que os estamos a colocar em autocarros que seguem para campos semi-acabados na Grécia, quando a Europa se comprometeu a acolhê-los?”

Katy Athersuch, técnica de comunicação da Médicos Sem Fronteiras, avançou apreensão quanto à ausência de partilha de informação relativamente ao futuro dos refugiados:

“Estas pessoas estão neste campo há dois meses e meio e agora estão sendo colocadas num autocarro sem grande explicação sobre o que está acontecendo. Estão assustadas.”

Noutros pontos da Europa, cerca de 50.000 refugiados encontram-se num limbo desde março – quando os países dos Balcãs fecharam o corredor humanitário que conduziu centenas de milhares de requerentes de asilo a países como a Alemanha e a Suécia em 2015.

Milhares estão presos em condições miseráveis em centros de detenção nas ilhas Gregas, onde dezenas estão em greve de fome para protestar contra o tratamento recebido.

“Este é o meu sétimo dia de greve de fome.” – Afirmou Wassim Omar, professor sírio detido na ilha de Chios. “Não queremos passar as nossas vidas aqui.”

A maioria dos refugiados pretende prosseguir viagem para países mais ricos – alguns ainda tentam chegar à Alemanha com a ajuda de contrabandistas. Tal como Abdo Raja, refugiado de 22 anos em Idomeni, avançou à Associated Press esta segunda-feira:

“Ouvimos falar que amanhã vamos todos para campos. (...) Eu não me importo mas o meu objetivo não é chegar aos campos, é ir para a Alemanha.”

No entanto, nações como a Alemanha e a Suécia tendem também a reforçar as suas fronteiras, com controlos mais rigorosos que poderão permanecer por mais seis meses.

A terrível situação humanitária na Grécia, juntamente com o encerramento da fronteira e a ameaça de deportação para a Turquia (no seguimento de acordo firmado entre a UE e o país em março deste ano), resultou na redução do número de refugiados a chegar à Grécia nas últimas semanas.

Permanecem temores, no entanto, de que o acordo venha a ser prejudicado por tensões entre Ancara e a União Europeia quanto à relutância de Ancara para – entre outras medidas – alterar as suas leis anti-terrorismo.

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