O aplicativo georreferencia os utilizadores que se encontram perto de potencial ataque e envia-lhes um alerta com instruções de segurança
O governo francês lançou um aplicativo para smartphone para alertar os utilizadores de possíveis ataques terroristas e fornecer orientações para a manutenção de segurança – no âmbito do Euro 2016, que tem início amanhã, sexta-feira.
O aplicativo, designado SAIP (sistema de alerta e de informação à população na sigla francesa), faz parte dos esforços do país para melhorar a segurança na competição da UEFA. O campeonato, o maior evento desportivo do continente europeu, deverá atrair milhares de pessoas ao país.
A SAIP georreferencia os utilizadores que se encontram perto de potencial ataque e envia-lhes um alerta com instruções de segurança – de acordo com o avançado pelo ministro do Interior francês na passada quarta-feira. Destina-se aos fãs que assistem jogos nos estádios e em locais para fãs – zonas ao ar livre onde os jogos são transmitidos em ecrãs gigantes – bem como a pessoas que vivem perto de locais onde se realizarão jogos de futebol. Os utilizadores que optarem por ficar de fora da capacidade de geolocalização do aplicativo poderão configurar a mesma para detetar possíveis ataques em oito códigos postais diferentes – de acordo com o avançado pelo ministro.
O governo francês está a enfrentar um enorme desafio ao nível da segurança para o Euro 2016, o primeiro grande campeonato de futebol realizado na Europa Ocidental em oito anos. Milhões de pessoas preparam-se para assistir aos jogos em estádios franceses por todo o país – e preparam-se para encontros em zonas de adeptos no centro das cidades.
O campeonato será composto por 51 jogos em 10 cidades diferentes – de 10 de junho a 10 de julho. Terá lugar quase sete meses após os ataques terroristas em Paris – que vitimaram 130 pessoas em restaurantes, num concerto de rock e no Stade de France, o maior estádio do país.
Investigadores da polícia avançaram que os terroristas do Estado Islâmico responsáveis pela morte de 32 pessoas nos ataques suicidas de Bruxelas, em março, também planeavam ataques em França, inclusivamente no campeonato de futebol. Em novembro, bombistas suicidas detonaram bombas fora do Stade de France enquanto a seleção nacional francesa jogava contra a Alemanha.
Na segunda-feira, autoridades ucranianas prenderam um cidadão francês por alegadamente reunir armas – incluindo rifles de assalto e foguetes lançadores de granadas – para um potencial ataque no Euro 2016.
No entanto, os organizadores do campeonato têm recorrido a um tom tranquilizador:
“Não estamos ao corrente de qualquer ameaça precisa, concreta ou direcionada ao Euro 2016 – contra um estádio em particular ou determinado jogo.” – Afirmou Jacques Lambert, chefe do comité organizador do Euro 2016.
As autoridades francesas estão também a conciliar a segurança do Euro com a agitação social relacionada com greves e protestos quanto a planos do governo francês para reformular o mercado de trabalho. Além de protestos mais amplos, os trabalhadores da SNCF – empresa ferroviária estatal – continuam em greve devido às condições de trabalho e pilotos da Air France estão a planear uma greve com início para sábado, o segundo dia do campeonato.
Os cancelamentos por toda a rede ferroviária em França já levaram a UEFA a alterar planos de transporte para funcionários. A greve dos pilotos provocará um caos ainda maior.
De acordo com Lambert, numa conferência de imprensa no Stade de France:
“Não se trata de uma boa situação para nós. E lamento isso. Infelizmente não temos controle sobre essas greves.”
As ameaças combinadas que pairam sobre o campeonato – incluindo mau tempo e inundações – têm levado a UEFA a preparar planos de contingência. Tal poderá envolver jogos à porta fechada, de acordo com Lambert.
“Há um plano B e até mesmo um plano C e D para lidar com todas as eventualidades.”
O governo francês afirmou estar consciente do risco associado ao lançamento de um aplicativo de alerta de terrorismo – que poderá alimentar temores entre os fãs que pretendem assistir ao Euro 2016. No entanto, o porta-voz Stéphane Le Foll, avançou que surge como uma ferramenta útil para lidar com a ameaça.
“A ameaça terrorista existe. Não deve ser sobrestimada mas acima de tudo não deve ser subestimada.”
O ministro avançou que a SAIP está projetada para dispersar informação oficial e fiável pelas redes sociais, ajudando a prevenir que as linhas diretas de emergência fiquem sobrecarregadas.
O governo está a trabalhar numa segunda versão do aplicativo para alertar os utilizadores de outros potenciais riscos como inundações, terramotos e avalanches. As autoridades comprometeram-se a proteger a privacidade dos utilizadores.