O New York Times fez uma reportagem sobre Jun, cidade espanhola que tem recorrido ao Twitter para promover interação entre moradores e serviços públicos
Quando Martina, a filha de José Salas, nasceu em abril o mesmo – tal como muitos pais orgulhosos – virou-se para as redes sociais para partilhar a notícia.
No entanto, José Salas – presidente da Câmara de Jun, uma pequena cidade perto de Granada, no sul de Espanha – não publicou a mensagem na sua conta de Twitter (NYSE: TWTR). Em vez disso, escreveu a mensagem em @martinajun, a conta de Twitter que criou para a sua recém-nascida. A mensagem dizia “Acabei de nascer.”
Acabo de nacer a las 3.55 con 3 kilos y 110 gramos
— Martina RM (@martinajun) April 4, 2016
Para os mais de 400.000 seguidores de Salas na rede social a sua ação não foi uma surpresa – pois o político espanhol tem passado grande parte dos últimos cinco anos a transformar Jun, cuja população ronda 3.500 habitantes, para uma ativa utilização do Twitter.
Para os moradores – mais de metade tem conta no Twitter – a principal forma de comunicação com funcionários do estado é agora a rede social. Precisa de ir ao médico local? Envie uma rápida mensagem pelo Twitter para marcar uma consulta. Viu algo suspeito? Informe a polícia de Jun com um tweet.
A população de Jun ainda pode utilizar métodos tradicionais, como preencher formulários, para obter serviços públicos. No entanto, José Salas avançou que ao lidar com a maioria da comunicação através do Twitter não só poupou uma média de 13% – cerca de 380.000 dólares – do orçamento local a cada ano desde 2011 mas também criou uma democracia digital em que os moradores interagem quase diariamente com funcionários da Câmara.
De acordo com Salas:
“Qualquer pessoa pode falar com outra pessoa, quando quiser. (...) Estamos no Twitter pois é onde as pessoas estão.”
Enquanto políticos como o presidente Obama e o primeiro-ministro da Índia Narendra Modi publicam regularmente mensagens no Twitter para os seus milhões de seguidores, Jun utiliza a rede social para algo diferente.
Ao incorporar o Twitter em cada aspeto da vida diária – até mesmo o menu de almoço da escola local é divulgado através da rede social – esta cidade espanhola tornou-se um exemplo-piloto de como as cidades poderão utilizar as redes sociais para oferecer serviços públicos.
A adesão de Jun ao Twitter não se deu da noite para o dia
Salas, político de carreira, foi eleito presidente da Câmara de Jun em 2005 – um ano antes do Twitter ter sido criado – depois de ter servido como vice-presidente. Em 2011, pediu aos seus funcionários – do vice-presidente ao varredor de rua – para criarem contras no Twitter e publicarem mensagens sobre as suas atividades diárias.
O objetivo passava por criar maior responsabilização e transparência quanto à forma como Jun era gerida. Salas acrescentou que escolheu o Twitter em detrimento do Facebook pois o Twitter permite interações mais rápidas.
Os funcionários da Câmara também começaram a pedir aos moradores para verificarem as suas contas no Twitter na Câmara – um processo relativamente simples para verificar as suas identificações e perfis online e garantir que as suas preocupações estavam a ser respondidas (online).
Os funcionários começaram por solicitar informação quanto a serviços básicos – como manutenção pública – convidando a tweets quanto a postes quebrados ou ruas a precisar de limpeza.
Salas avançou que essas atividades contribuíram para a boa vontade dos residentes, que começaram a abrir contas. Desde 2013 a atividade online tornou-se quase universal com os moradores a perceberem como é que os seus vizinhos recorriam ao serviço.
María José Martínez, diretora de tecnologias de informação em Jun, promoveu cursos no centro comunitário para ensinar Twitter 101 – envio de mensagens diretas ou utilização de hashtags.
Salas avançou que as interações têm tornado a cidade mais eficiente na medida em que o orçamento da mesma – tal como em muitas cidades espanholas – se encontra sob pressão. Os seus funcionários raramente recebem chamadas ou visitas de moradores em busca de ajuda.
Utilizar o Twitter também reduziu a necessidade de determinados postos de trabalho. Jun cortou a sua força policial em três quartos, com os moradores a tweetarem potenciais problemas.
“Não temos um polícia. (...) Temos 3.500.” – Afirmou Salas.
Jun não tem passado despercebida ao Twitter. Dick Costolo, CEO da empresa até 2015, visitou-a no verão passado e o MIT analisou como é que os moradores têm beneficiado com a utilização da rede social. Jun não recebe dinheiro do Twitter por utilizar o serviço.
Para Justo Ontiveros, o único polícia de Jun, os benefícios são próximos e pessoais. Recebe cerca de 20 mensagens de moradores por dia com pedidos de ajuda para o preenchimento de formulários ou relatos de crimes como excesso de velocidade.
Ontiveros avançou que as interações diárias no Twitter lhe dão maior visibilidade dentro da comunidade e maior nível de satisfação pessoal, com os vizinhos a falarem com o mesmo na rua para discutir coisas que publicou no Twitter.
“Oferece mais espaço às pessoas para me falarem sobre os seus problemas.” – Ontiveros.
Ainda assim, a confiança de Jun no Twitter não foi universalmente aceite.
Diversos moradores avançaram preferir que os funcionários se concentrem na prestação de serviços públicos em vez de se promoverem na rede social.
Também não é claro se as lições de Jun poderão ser replicadas a uma escala maior.