Página principal Análise, Brexit

São diversos os cenários possíveis

Os eleitores britânicos optaram pela saída da União Europeia – o que prevê pelo menos dois anos de negociações amargas. Segue-se um roteiro do que se seguirá.

Quanto tempo irá David Cameron permanecer no cargo?

O primeiro-ministro britânico avançou esta manhã que irá manter-se no cargo por pelo menos três meses – para “estabilizar o navio”. Afirmou que a Grã-Bretanha deverá ter um novo líder no momento em que o seu partido se reunir para a conferência anual em outubro – e que deverá ser o próximo primeiro-ministro a iniciar as negociações formais com a UE.

O que acontece depois?

Cameron irá viajar até Bruxelas na próxima semana para informar os líderes da UE quanto à situação do Reino Unido. Os outros líderes nacionais quererão saber que tipo de relação o Reino Unido pretende com a UE. Antes, os seis membros fundadores do bloco irão encontrar-se em Berlim, no sábado. Também poderá verificar-se uma reunião de emergência de ministros das Finanças durante o fim de semana.

Cameron afirmou que não irá desencadear o processo de secessão nos termos do artigo 50 do Tratado da UE – o que caberá ao próximo primeiro-ministro do país.

Assim que o artigo 50 for colocado em prática, o Reino Unido terá formalmente dois anos para negociar a sua saída do bloco. Analistas avançaram ser improvável que surja como tempo suficiente para acordar termos comerciais mais complexos – sendo que as negociações deverão ser mantidas após a saída oficial do Reino Unido.

Quem irá liderar as negociações?

É provável que o sucessor de Cameron seja um dos líderes pela campanha pelo Brexit, como o antigo mayor de Londres, Boris Johnson, ou o secretário da Justiça, Michael Gove. A sua presença poderá endurecer a postura de outros governos da UE. A votação pelo Leave também poderá convidar a uma eleição geral – para se eleger um governo encarregue de negociar com o resto da UE.

Que tipo de acordo o Reino Unido pretende?

Ainda está por decidir. Três questões em particular preocupam investidores e executivos: que novo acordo irá regular os 575 mil milhões de dólares de comércio anual entre o Reino Unido e o resto da UE? Em que termos as empresas do Reino Unido poderão aceder aos 13,6 biliões de dólares do mercado único? E poderão os bancos domiciliados no Reino Unido continuar a conduzir negócios no resto da UE?

Existem três grandes opções:

  • O modelo norueguês. Ao permanecer no Espaço Económico Europeu, o Reino Unido ainda terá acesso ao mercado único da UE e poderá participar da livre circulação de trabalhadores, contribuindo para o orçamento da UE. Os bancos preferem este modelo pois preserva o seu acesso a clientes da UE;
  • Um novo acordo. Negociar o seu próprio acordo de comércio livre limitará a maioria das tarifas comerciais entre o Reino Unido e o bloco de 27 nações – mas será uma medida que levará anos a abranger todo o mercado. O acordo de comércio da UE com o Canadá levou sete anos a ser negociado e ainda não foi ratificado.
  • As regras da Organização Mundial de Comércio (OMC). Negociar com a UE sob as regras da OMC evitará o aborrecimento da criação de um novo acordo complexo e o Reino Unido definirá as suas próprias tarifas comerciais, como a Rússia e o Brasil fazem. No entanto, não terá uma relação favorável com a UE ou qualquer outro país.

O que irá a UE oferecer?

A política interna irá desempenhar o seu papel e os líderes de Helsínquia a Atenas poderão não querer um acordo favorável ao acesso do Reino Unido ao mercado pois tal poderá incentivar movimentos anti-UE semelhantes nos seus próprios países.

A resposta irá cair em dois campos: a abordagem pragmática da Alemanha irá provavelmente reconhecer que o Reino Unido deve permanecer um importante parceiro comercial; e os franceses irão liderar outro grupo, que acredita que a saída não deve ser fácil e que os países fora da UE não merecem as mesmas condições favoráveis que os membros da UE.

Adicione o aumento do sentimento anti-UE na Europa de Leste, um foco numa maior integração da zona euro e alguma simpatia pela decisão do Reino Unido entre os governos nórdicos e parece claro que os próximos anos não serão simples.

O que irá mudar para Bancos e Trabalhadores no Reino Unido?

Bancos

As empresas de serviços financeiros têm uma longa lista de preocupações mas a mais importante é o “passporting”. É o regime legal que permite a um banco domiciliado num país da UE fazer negócios noutro país. Sem o mesmo, os credores internacionais terão provavelmente de mover operações substanciais do Reino Unido para Frankfurt, Dublin, Paris e outros hubs.

Outra questão é a negociação e liquidação em euro – a UE poderá não permitir que essas transações continuem irrestritas e fora do alcance dos seus reguladores. A capacidade para gestores de ativos venderem fundos mútuos em todo o continente é outro privilégio que poderá ser objeto de revisão.

Trabalhadores

Grandes cadeias, grupos de alojamento e retalhistas no Reino Unido dependem largamente de trabalhadores europeus: quase três-quartos dos colaboradores no setor da hotelaria em Londres são estrangeiros.

Com a campanha pelo Leave a prometer acabar com a livre circulação de cidadãos europeus, os setores da hotelaria e retalho terão de encontrar formas de atrair colaboradores britânicos, talvez pagando salários mais elevados.

Apesar de Nigel Farage, líder do Partido da Independência do Reino Unido, ter avançado que aqueles que já se encontram no país devem ser autorizados a ficar, ainda não se sabe quais serão os critérios. A implementação de novas regras irá depender de futura legislação.

Leia também:
Strawberry Cake Media Corp. © 2024 Política de Cookies Equipa editorial Arquivo

O ihodl.com é uma publicação digital ilustrada sobre criptomoedas e mercados financeiros.
Publicamos diariamente conteúdo relevante para quem se interessa por economia.