Maria Sílvia Bastos Marques é CEO do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) do Brasil
A nova líder do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social – está reforçando a confiança nos esforços do governo para reanimar a economia brasileira.
O BNDES, como o banco é conhecido, está cerceando o crédito subsidiado concedido às maiores empresas do Brasil para se concentrar no financiamento a parcerias público-privadas e pequenas empresas que de outra forma terão dificuldade em obter empréstimos. Os esforços são conduzidos por Maria Sílvia Bastos Marques, de 59 anos, que foi nomeada CEO em maio.
Bastos Marques foi apelidada de “Dama de Ferro” pelos media locais pela forma como liderou a siderúrgica Companhia Siderúrgica Nacional entre 1999 e 2002.
O seu compromisso de apertar os cordões à bolsa do BNDES surge depois do seu antecessor, Luciano Coutinho, ter supervisionado a quadruplicação da carteira de crédito do banco durante o seu mandato de nove anos, com o governo a procurar impulsionar o crescimento económico. Apesar do aumento dos empréstimos ter sido uma bênção para as empresas, como a JBS SA e a Petróleo Brasileiro SA, os críticos avançam que distorceu os mercados de crédito e contribuiu para obrigações crescentes – em um país que procura agora reconquistar a sua classificação de crédito de investimento depois do corte do ano passado para lixo.
De acordo com João Augusto Frota Salles, analista na consultora Lopes Filho Consultoria de Investimentos SA no Rio de Janeiro, que trabalhou com Bastos Marques na CSN nos anos 2000:
“Ela está deixando claro que o banco não pode ser usado como Brasília quer. (...) É uma grande mudança para o banco.”
Os investidores de títulos parecem apoiar os seus planos, com 1,1 bilhões de dólares com vencimento em 2023 a ganharem 5,5% desde maio de 2016, quando Bastos Marques foi nomeada CEO. Quase três vezes a média para títulos de empresas financeiras de mercados emergentes.
Bastos Marques chamou a atenção como CEO da empresa siderúrgica ao usar o mesmo uniforme que os trabalhadores das fábricas da empresa. De acordo com Salles: “Gostaria de ser vista como uma colaboradora normal.”
Também dirigiu o comitê dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro entre 2011 e 2014 e serviu como CEO da Icatu Seguros SA, companhia de seguros.
A sua promessa de reduzir os empréstimos do BNDES está em linha com os esforços do presidente em exercício, Michel Temer, de restaurar a confiança na maior economia da América Latina. Temer assumiu o cargo mais elevado da nação há dois meses quando Dilma Rousseff deixou o cargo – temporariamente – na medida em que se prepara para enfrentar um processo de impeachment por alegadamente ter manipulado números do orçamento de estado. As ações, obrigações e moeda do Brasil estão entre aquelas com melhor desempenho do mundo este ano – fruto da esperança de que Temer venha a reduzir o défice e a retirar o país da recessão.
Sob a gestão de Coutinho, o BNDES foi uma das ferramentas mais importantes de Rousseff e do seu antecessor, Lula da Silva, para estimular o crescimento. As empresas responsáveis por classificação de crédito citam a rápida expansão do crédito, financiado principalmente por injeções do governo federal, como uma das causas por detrás do aumento da dívida pública bruta do Brasil e da deterioração das suas contas fiscais.
Em um discurso em 1 de junho no Rio de Janeiro, Bastos Marques avançou que o BNDES irá vender bens de capital e considerar privatizações na medida em que procura atrair investimento externo para financiar projetos de infraestruturas no Brasil. O BNDES “não terá um ano brilhante” em termos de desembolsos, acrescentou Marques, notando que o banco irá analisar quando irá vender alguns dos ativos detidos pelo seu segmento de investimentos, incluindo participações minoritárias em mais de 100 empresas.
A carteira total de empréstimos do BNDE aumentou para 695 bilhões de reais no ano passado de 165 bilhões em 2007. A maioria dos empréstimos do banco são baseados na taxa TJLP, subsidiada, que se encontra 6,75 pontos percentuais abaixo da taxa de referência do Brasil. A sua carteira de crédito contraiu 3,6% no primeiro trimestre, para 670 bilhões de reais, de acordo com o avançado pelo banco na sua divulgação de resultados.
De acordo com Bruno Carvalho, da corretora Guide Investimentos SA Corretora de Valores em São Paulo:
“Vemos o BNDES se tornando um banco com uma mentalidade mais pró-mercado, procurando formas de ajudar a impulsionar o crédito privado no Brasil. (...) Muitas empresas estavam habituadas ao seu empréstimo barato. Isso está mudando agora.”