A blockchain representa uma importante mudança tecnológica — e as empresas que demorarem a responder a essa inovação poderão se ver prejudicadas pela mesma
A blockchain, a tecnologia que alimenta as criptomoedas como a Bitcoin, é um dos atuais jargões favoritos da indústria da tecnologia. Pequenas empresas acrescentaram o termo blockchain às suas designações para atrair investidores ingênuos e grandes empresas lançaram experiências relacionadas com a blockchain que causaram manchetes — mesmo que pouco relacionadas com a sua principal atividade.
Porém, se filtrarmos todo esse ruído vamos notar que a blockchain representa uma importante mudança tecnológica.
Em que consiste a blockchain?
A blockchain é um “livro razão” de dados, descentralizado, que se encontra disperso por vários locais em uma rede (conhecidos como “nós”) em vez de se encontrar em um servidor central. Estes dados se encontram protegidos por “blocos” encriptados — acessíveis através de uma rede peer-to-peer (P2P). As transações de criptomoedas são registradas na rede P2P que permite pagamentos entre usuários, sem serem necessários intermediários como bancos. O criador de uma criptomoeda depende de mineiros — computadores poderosos — para a verificação das transações na rede blockchain. Os mineiros são, de seguida, recompensados pelos seus serviços com criptomoedas.
Porém, se olharmos além das criptomoedas percebemos que a tecnologia blockchain pode ser aplicada a outras indústrias que beneficiarão de uma rede P2P descentralizada e encriptada. Porém, se destaca que as empresas que demorarem a responder a essa inovação poderão se ver prejudicadas pela mesma.
Chipotle
A Chipotle tem enfrentado problemas relacionados com segurança alimentar na última década, com surtos de hepatite A, norovírus, campilobacteriose, E-coli e salmonelas enviando clientes para o hospital.
Críticos da Chipotle têm afirmado repetidamente que a sua insistência em servir apenas carne “alimentada naturalmente” e ingredientes não-OGM “de origem local” torna difícil a monitorização adequada da segurança alimentar da sua cadeia de fornecimento.
Se a Chipotle começar usando uma rede blockchain para monitorizar o seu abastecimento de alimentos poderá melhorar os seus registros. No ano passado, Frank Yiannas, líder de segurança alimentar da Walmart, demonstrou que ao recorrer à plataforma da IBM na blockchain podia monitorizar a condição e origem de qualquer produto alimentar em 2,2 segundos — um processo que teria levado quase uma semana com outros métodos.
Se os restaurantes seguirem o exemplo da Walmart poderão enfrentar muito menos problemas de segurança alimentar como os sentidos pela Chipotle. Se a Chipotle não aplicar a tecnologia blockchain à sua cadeia de fornecimento poderá continuar enfrentando desastres a este nível.
eBay
Como plataforma de comércio eletrônico cliente-para-cliente (C2C) a eBay gera receita agindo como intermediária entre o comerciante e o cliente. No entanto, são várias as start-ups — como a OB1, a Listia e a BitBoost — criando mercados C2C apoiados na descentralizada blockchain para cortar o intermediário, como a eBay.
A OpenBazaar da OB1 é um mercado descentralizado que permite pagamentos em Bitcoin. A Ink Protocol da Listia proporciona a utilização das suas próprias criptomoedas XNK para pagamentos e a The Block da BitBoost recorre à Ethereum.
Estes mercados oferecem todos elevada privacidade e segurança e baixas comissões. Gee Huang, diretor executivo da Listia, falou com a Coindesk e declarou que o objetivo da sua empresa passa pela “descentralização dos mercados peer-to-peer, afastando o poder das empresas que os gerem e o devolvendo a compradores e vendedores.”
É pouco provável que estes mercados-nicho eliminem a eBay. Porém, o crescimento de mercados P2P descentralizados poderá prejudicá-la no longo prazo. A eBay se encontra, alegadamente, avaliando a integração de pagamentos com Bitcoin na sua plataforma, mas é pouco provável que venha a descentralizar toda a plataforma em breve.
Uber e Airbnb
A Uber causou disrupção na industria de táxis permitindo que qualquer um se torne motorista pago — enquanto a Airbnb fez o mesmo com a indústria hoteleira permitindo que qualquer um arrende a sua própria casa. Tal como com a eBay, ambas as empresas geram receita agindo como intermediárias das transações conduzidas. No entanto, o seu estatuto de empresas em crescimento também as deixa vulneráveis a regulamentação governamental.
Entretanto, um sistema de solicitação de viagens baseado na blockchain poderá eliminar o intermediário, permitindo que os motoristas se liguem diretamente a passageiros — enquanto uma plataforma de arrendamento baseada na blockchain poderá proporcionar o mesmo a senhorios e inquilinos. A elevada privacidade e segurança que a blockchain proporciona poderá proteger essas plataformas de regulamentação governamental.
Na verdade, já começaram aparecendo start-ups com estes projetos: a Arcade City no que a viagens diz respeito e a Rentberry e a Stayawhile ao nível do arrendamento, as três com soluções baseadas na blockchain. Poderá ser apenas uma questão de tempo até as disruptoras se tornarem alvo de disrupção também.