A zona Euro conseguiu resistir à última crise económica. Porém os países do Euro apresentam ainda grandes fragilidades estruturais. Conseguirá a Europa resistir a outra crise?
Outrora bastante dura e imovível, a postura inicial que se registou dos dois lados da barricada acerca da dívida da Grécia já está a tomar uma posição mais moderada. A mais recente crise europeia pode ser resolvida e muito provavelmente é isso que irá acontecer. Ainda assim, não estejam demasiado otimistas acerca das hipóteses de sobrevivência a longo prazo da zona euro. Toda a comoção provocada pela União Europeia acerca desta recente emergência grega, uma questão relativamente pequena e resolúvel, diz-nos que essa probabilidade não é a melhor.
Imaginemos outra recessão grave. Na sua presente forma, a zona euro não poderia ter quaisquer esperanças de sobrevivência. Ainda agora, mesmo após tudo o que aconteceu, os líderes europeus não conseguem sequer pensar nisto. Talvez estejam a assumir que uma recessão tão grave nunca mais irá acontecer. Foi esse tipo de visão a longo prazo que contruiu a moeda única.
A Grécia não é o problema; ou, pelo menos, não deveria ser. É uma questão que pode ser resolvida porque trata-se de um país pequeno e porque nenhum outro país membro da UE está numa posição tão problemática.
Os recursos necessários para restaurar as suas perspetivas de futuro são relativamente reduzidos, e um novo acordo de dívida para a Grécia não terá necessariamente de ser seguido com outros países que venham pedir semelhantes perdões da dívida. A Grécia pode, justificadamente, ser apresentada como uma vez sem exemplo.
De fato, existem boas razões para isso. A anterior reestruturação da dívida esteve longe de ser perfeita. Não foi suficientemente grande para restaurar solvência – a dívida do Governo grego é ainda 170% superior ao PIB – e o alívio da dívida trouxe consigo condições fiscais draconianas que esmagaram uma economia já de rastos. O acordo grego que se aproxima deve ser encarado como uma correção desses erros, uma secunda oportunidade de acertar as contas e não como uma novidade que irá causar precedentes.
Assim que os líderes europeus tiveram ultrapassado o problema grego, a perspetivas a curto prazo para a zona euro não são animadoras: crescimento abaixo da média, inflação perigosamente baixa e elevadas taxas de desemprego. A adoção da política de quantative easing pelo Banco Central Europeu foi um passo positivo (ainda que absurdamente demorado), mas esta estratégia não será tão efetiva na zona euro como foi nos Estados Unidos. E a política fiscal mantém-se apertada, especialmente nas economias europeias mais fracas, à medida que os governos tentam reduzir as suas dívidas através de receitas fiscais extraordinárias. Claro que, em parte, isso derrota o seu propósito, visto que a austeridade atrasa o crescimento.
E se a Europa entrar numa recessão?
Agora suponham que outra crise severa se abate sobre esta tendência de estagnação. É totalmente possível. O sistema financeiro europeu continua frágil, e os seus projetos para a criação de uma coligação bancária e de um mercado de capital devidamente integrado avançam devagar, no primeiro caso, ou não avançam de todo, como no segundo. Isto expõe a UE a acidentes financeiros, correndo riscos acima do habitual.
Tal como as coisas estão, as opções seriam limitadas. As taxas de justo já estão a zero. Apesar do recente avanço para o quantitative easing, o BCE é um banco central mais inibido que, por exemplo, a Reserva Federal norte-americana, e está impedido de incorrer em financiamento monetário direto a qualquer governo. Finalmente decidiu testar os limites dessa proibição, mas outras formas mais efetivas para gerar dinheiro novo, como a chamada estratégia de helicopter money, são expressamente proibidas.
Os estímulos fiscais, por outro lado, estão fora de questão devido a uma sinistra combinação entre a incapacidade institucional e a animosidade mútua. Ainda assim, a zona euro, como um todo, não tem problemas com a capacidade fiscal. A dívida governamental da zona euro é menor que a dívida pública dos EUA. Não há qualquer razão económica para que a Europa não contraia um empréstimo (com taxas de juro extremamente baixas) e gaste o dinheiro em investimentos para infraestruturas de grande escala, por exemplo. Mas quando a Europa criou a sua união monetária, esqueceu-se de planear a mais básica união fiscal, que, como já vimos, é necessária para os grandes empreendimentos.
Então por que não começar a construir essa coligação? Em parte porque iria requerer um novo tratado europeu, que por sua vez necessitaria do consenso popular. A UE, e o seu desempenho, são bastante impopulares neste momento, por isso os governos tremem só de pensar nesse processo. Fundamentalmente, o compromisso para uma solidariedade europeia, invocada anos a fio para motivar todo o processo, desapareceu quase por completo. Longe de pensarem “estamos juntos nisto”, a Alemanha vê a Grécia como uma nação de pedintes e ladrões, enquanto a Grécia vê a Alemanha como uma nação de opressores atávicos.
O cenário otimista é o de prolongada estagnação, a não ser que esta união falhada seja profundamente reestruturada. O cenário pessimista é o de colapso político, seguido por uma total incerteza. Onde estão os líderes europeus dispostos a agarrarem este desafio?