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Os Estados Unidos têm assistido à valorização do dólar face a outras moedas quase impávidos. Porém, as críticas dos grandes exportadores norte-americanos podem contribuir para uma mudança de atitude por parte da Reserva Federal. Estarão os Estados Unidos prestes a assumir uma postura mais agressiva?

Quando, durante a próxima semana, os chefes de estado do G-20 se reunirem na Turquia, o cada vez maior conflito cambial irá sem dúvida ser uma razão para atritos. A questão que se coloca é, irão os Estados Unidos finalmente fartar-se de ser a vítima destas escaramuças constantes?

Países como o Canadá e a Austrália, a China e a Dinamarca têm surpreendido os investidores durante as ultimas semanas ao efetuarem cortes nas suas taxas, todos numa corrida em direção ao fundo, desvalorizando as suas moedas de modo a estimular as exportações e o crescimento. Todos quer dizer, com exceção dos Estados Unidos.

No último ano, o dólar dos Estados Unidos explodiu relativamente ao valor da moeda dos seus parceiros comerciais. Encontra-se acima de 16% relativamente ao índice ponderado de 26 outras moedas da Reserva Federal, que vão desde o euro (que corresponde a 16%) até a Suíça (1.7%) e á Colômbia (0.66%).

Sem surpresas, os exportadores dos Estados Unidos estão a fazer barulho. A “Procter & Gamble”, o maior fabricante de bens de consumo, culpou na semana passada a sua queda de 31% nos lucros do segundo trimestre, ao que chamou de, uma pressão nos mercados cambiais “sem precedentes”.

“Virtualmente, todas as moedas do mundo desvalorizaram relativamente ao dólar dos Estados Unidos,” reclamou o diretor executivo A.G. Lafley.

Aqui fica a tabela com o desempenho dos rivais do dólar no último ano.

Tony Sagami, da firma Mauldin Economics argumentou que, os membros do índice “Standard & Poor 500” contam com 46% de vendas internacionais para o seu rendimento, e quase metade dos seus lucros. Companhias como a Pfizer, McDonalds, DuPont e Microsoft já se estão a queixar dos estragos causados nos seus ganhos; até a poderosa Apple, que é cada vez mais pró-ativa em precaver-se das variações cambiais, teria tido melhores lucros não fosse a “inexistência feroz de volatilidade nos mercados cambiais,” segundo o CEO Tim Cook.

A incipiente recuperação da economia Americana, uma das únicas luzes num cada vez mais sombrio ambiente económico, arrisca-se a ser abafada se um dólar em ascensão esmagar as exportações. O défice de comércio dos Estados Unidos já cresceu até ao ponto mais alto em dois anos, com os números desta semana a mostrar que se expandiu 17.1% em Dezembro, alcançando 46.6 mil milhões de dólares.

O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jack Lew, disse esta semana que estava pronto para retaliar, se visse que outros países estavam a seguir políticas monetárias que ele considera desleais. Mas, a simpatia pelos Estados Unidos parece não abundar. Raghuram Rajan, chefe do banco central da Índia, disse esta semana que, com a Reserva Federal aparentemente a ser o único banco central com aspiração a levantar as taxas neste ano, os Estados Unidos “vão ter de aceitar alguma valorização do dólar simplesmente por este ser o único inconformado.”

Em 1971, John Connaly, o Secretário do Tesouro de Richard Nixon, disse ao mundo:

“É a nossa moeda, mas é problema vosso.”

Mais de quatro décadas depois, a moeda dos Estados Unidos é agora um problema dos Estados Unidos. Dependendo de como o país vai reagir, a guerra cambial poderá estar só no começo.

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