Para os investidores, o conceito de “classe de ativos de mercados emergentes” está a perder a sua relevância. Que fatores terão erodido o conceito?
O conceito de “classe de ativos de mercados emergentes” pode já não ser uma classificação suficientemente útil e um termo genérico preciso para os investidores. As implicações desta mudança são importantes, tendo em conta a influência generalizada do conceito nas metodologias de afetação de ativos, nas referências e até na forma como as sociedades de investimento (e os seus prestadores de serviço) estão organizados. A categoria também determina a forma como os responsáveis pela afetação de capital reveem as suas decisões de portefólio, especialmente no início de cada trimestre.
Para uma melhor compreensão do porquê do conceito de “mercados emergentes” poder estar a perder a sua importância como ferramenta analítica, comecemos pelos três elementos que normalmente definem uma classe de ativos:
1. Os seus componentes partilham características semelhantes
Por exemplo, a localização geográfica, ou ainda mais importante para propósitos de investimentos, as condições económicas e financeiras comuns. Estas semelhanças permitem criar investimentos modelados de forma relativamente coerente para se conseguir obter os rendimentos esperados, a volatilidade e as correlações com outras classes de ativos. Contudo, estes ativos não são totalmente homogéneos ao ponto de poderem ser reproduzidos por um único instrumento, o que também abre a possibilidade para um melhor desempenho graças à gestão ativa.
2. Os componentes da classe de ativos são sensíveis às influências
A maioria dos componentes da classe de ativos são sensíveis às influências externas fortes e abrangentes o suficiente para terem um impacto parecido em todas as diretorias. Essas influências podem ser uma única variável, tal como o preço do petróleo imposto pelos produtores, ou pode estar ligada a uma política, tal como o efeito do plano de flexibilização quantitativa do Banco Central Europeu nas obrigações do Estado.
3. As ações dos investidores impõem uma consistência reforçativa para que todos os elementos da classe de ativos se relacionem uns com os outros
Poderá ser o caso de, por exemplo, quando a maioria dos investidores utilizam uma abordagem predominantemente descendente – que considera a classe de ativos não como individuais mas sim como um todo – ou quando os mercados são esmagados por marés de capital, sejam elas cheias ou vazias.
O conceito de mercado emergente cresceu de forma acentuada desde os seus relativamente modestos primórdios, e atualmente contém demasiada diversidade para satisfazer o primeiro requisito das características partilhadas. Já não se qualifica para o segundo critério, especialmente agora que os comentários e ações de um único órgão responsável pela definição de leis, tal como o Fundo Monetário Internacional, já não fazem mover os mercados como dantes. A terceira característica – a propensão dos investidores para ver essas classes de ativos como um todo e não como a soma das suas partes – ainda tem alguma relevância, fazendo surgir dinâmicas interessantes.
As grandes decisões para afetar ou retirar capital dos mercados emergentes – especialmente por meio de índices ou semelhantes – têm tendência para ser condutores significativos de rendimentos, volatilidade e de comportamentos de correlação, que muitas vezes levam às valorizações dissociadas de cada dado económico fundamental. As ultrapassagens resultantes – seja no movimento ascendente ou descendente – criam riscos e oportunidades não só para os investidores mas também para as entidades emissoras de um valor mobiliário que negoceiam.
É importante salientar que estas distorções não são causadas por irracionalidade ou disfunção dos mercados. Em vez disso, refletem a evolução de uma classe de ativos que, aquando a sua criação, foi apoiada pelo comportamento dos investidores figurado em função de atributos económicos e financeiros comuns. Desde então que não tem conseguido acompanhar as crescentes realidades diversificadas e divergentes na área.
No caso dos mercados emergentes, este fenómeno amplia-se à medida que a influência do mercado de uma base relativamente pequena de investidores dedicados é sujeita aos caprichos de fundos público-privados menos bem informados (ou seja, “capital turista” que, em vez de ser atraído pelos atributos da própria classe de ativos, são levados a investir pelas circunstâncias variáveis no país de origem, sendo assim muito menos estáveis).
O que isso significa para investidores
Desta forma, tanto os investidores como as entidades emissoras devem esperar pelas valorizações para continuar a dissociar por períodos de tempo mais prolongados do que se fossem garantidos por dados económicos fundamentais. Também têm de anexar margens de erro maiores às suas previsões da rentabilidade ajustada ao risco esperada e, no caso dos mutuários, ao custo de capital e à facilidade da emissão.
Com o posicionamento estratégico a longo-prazo em mente, os investidores precisam igualmente de tomar uma abordagem mais tática para gerir a sua exposição em relação aos seus portefólios estratégicos com base em dados económicos fundamentais. Os mutuários devem fazer o mesmo quando emitem novas obrigações.
Atualmente, isso significa reconhecer que os mercados emergentes são uma fase técnica de volatilidade instável. Também significa que cada componente de uma classe de ativos terá tendência para ser negociado a um preço mais barato do que os seus valores intrínsecos. Entretanto, as atitudes dos investidores terão tendência para serem mais influenciadas, para o melhor e para o pior, pelas notícias de uns poucos grandes mercados (vêm à memória o Brasil e a Rússia), assim como pelo impacto dos bancos centrais de países mais avançados em termos de capital turista. Por vezes, os mercados sólidos serão contaminados pelas tendências mais gerais, mesmo quando os seus dados económicos fundamentais forem bons.
No entanto, os mercados emergentes estão ainda atraentes
As moedas dos mercados emergentes conseguiram uma subida durante cinco semanas e as ações da Rússia e da Índia melhoraram com o maior número de vendas de petróleo e os dados desapontantes em relação aos empregos nos EUA levam a querer que o Fundo de Reserva Federal vai atrasar o aumento das taxas de juro.
O valor do rubro russo aumentou por um quarto dia em relação ao dólar, fomentando a maior valorização a nível global deste ano, à medida que o petróleo bruto recupera 3,6% do seu valor, ficando nos $56,90 por barril. O OAO OAO Sberbank aumentou o valor das ações em Moscovo, enquanto a Saudi Basic Industries Corp em Riyadh teve pela primeira vez em três dias um crescimento. O ringgit malaio teve um aumento de 1%. A Samsung Electronics Co foi a empresa de tecnologia que teve mais rendimento. A Sun Pharmaceutical Industries LTD teve um aumento recorde em Mumbai.
Um índice que mede os câmbios de 20 países em desenvolvimento adicionou 0,2% pelas 11:37 em Londres. A medida deu um salto para 1,2%, representando o seu segundo melhor desempenho num ano e meio, após os dados das folhas de pagamentos se tornarem nas estatísticas mais recentes dos EUA para calcular as estimativas, contribuindo para impulsionar o apetite pelos ativos mais arriscados. Os empregadores dos EUA somaram o menor número de empregos desde dezembro de 2013.
O diretor de investimentos da Gestão de Capital Raiffeisen em Moscovo Vladimir Vedeneey disse:
“Os fracos dados macroeconómicos dos EUA deram esperança aos investidores de que o Fundo de Reserva Federal não irá aumentar tão cedo as taxas. Estamos a ver um retrocesso das fortes saídas de capital dos mercados emergentes nos ativos dos EUA. O petróleo parece ter encontrado um equilíbrio frágil, o que é bom sinal”.
Segundo os dados recolhidos pela Bloomberg, os investidores acrescentaram $561,5 milhões aos fundos de índices dos EUA que compram as ações e obrigações de mercados emergentes pela terceira semana consecutiva, impulsionados pela aceleração dos fluxos na China e Hong Kong. No primeiro trimestre, os fundos perderam $1,6 mil milhões.
A tentação em adquirir ações dos mercados emergentes, orientando-se nos índices, pode acabar com a importância das diferenças fundamentais que inevitavelmente vão se revelar no futuro e se tornar um fator relevante para os investimentos efetivos.