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O Banco Mundial faz uma análise das tendências macroeconómicas da atualidade. Como evoluíram essas tendências num futuro próximo?

O Banco Mundial desceu a sua previsão de crescimento económico global para este ano entre um abrandamento assente numa base alargada nos mercados emergentes e uma ligeira melhoria nos EUA.

Na quarta-feira, a instituição de desenvolvimento disse que atualmente previa que a economia mundial iria crescer por 2,8%, 0,2 pontos de percentagem mais lentos do que os valores estimados em janeiro. “O crescimento global voltou a desapontar”, afirmou o economista-chefe do Banco Mundial Kaushik Basu.

No seu relatório Perspetivas Económicas Globais, o banco refere que enquanto no Brasil e na Rússia haverão fortes contrações, assim como um crescimento mais fraco na Turquia, os resultados da Indonésia e de outras economias em desenvolvimento irão compensar um crescimento mais saudável na Europa e no Japão.

O banco espera que o crescimento económico global acelere em 2016 para 3,3%, sem contar com os problemas que os mercados emergentes terão com as intenções do Banco de Reserva Federal de aumentar as taxas de juro. As previsões também incluem recuperações na zona euro e no Japão.

Apesar de a economia dos EUA estar a ganhar terreno, um inverno rigoroso limitou as produções no primeiro trimestre, o que levou o banco a diminuir 0,5 pontos de percentagem as perspetivas em relação à economia norte-americana, ficando apenas 2,7%.

Vários desafios estão a pesar no crescimento de muitas das maiores economias de mercado emergentes mundiais, países esses que contribuíram bastante para a recuperação no início da crise financeira.

“Aproxima-se um abrandamento estrutural”, disse Ayhan Kose, o principal autor do relatório. “Cada vez mais têm perspetivas de dificuldades de crescimento a atravessar-se no seu caminho”.

Muitas dessas economias estão a atingir os limites das suas capacidades para crescer sem o reforço de grandes reformas políticas que abrissem mais os seus mercados, melhorassem o ambiente de negócio e aumentassem a sua produtividade. Seriam necessários biliões de dólares para expandir as artérias do crescimento económico: estradas, caminhos-de-ferro, portos e outras infraestruturas.

Estas economias de mercado emergentes também dependeram das vendas internacionais para impulsionar o seu crescimento na década passada. Mas agora, estes países em desenvolvimento dependentes da exportação estão a debater-se para lidar com a pouca procura geral, enquanto os países ricos continuam a esforçar-se para recuperarem das devastações que a crise económica lhes provocou.

A China, a 2ª economia mundial e o principal mercado exportador para a maioria do mundo, está atualmente a abrandar após duas décadas de crescimento vertiginoso, a um ritmo muito mais rápido do que o esperado. Os preços das mercadorias afundaram no ano passado no meio de um consumo anémico e de excessos de oferta de recursos.

Para além dessas dores de cabeça económicas, os mercados emergentes estão a enfrentar perigosas tempestades devido aos empréstimos que pediram para financiar essas expansões da década passada.

Prevê-se que os custos de empréstimos aumentem enquanto o Banco de Reserva Federal se prepara para aumentar as taxas de juros pela primeira vez em quase uma década. Essa perspetiva também reanimou o dólar, apertando o cerco dos governos e empresas dos países em desenvolvimento que pediram dólares emprestados mas cujo rendimento é em moeda. Os investidores começam a duvidar da sua capacidade para pagar as obrigações crescentes com um crescimento cada vez mais reduzido.

A previsão do banco para uma aceleração do crescimento global de 3,3% no próximo ano assume que não se vai repetir o tipo de volatilidade que atingiu os mercados emergentes em meados de 2013. Além disso, o ex-diretor do Banco de Reserva Federal Ben Bernanke evocou os denominados taper tantrum (retirada gradual de estímulos monetários) que fez disparar as obrigações, ações e selloffs de moedas dos mercados emergentes, quando assinalou a retirada de estímulos do banco central.

No entanto, o Banco Mundial disse que a retirada gradual de estímulos do Banco de Reserva Federal e que o ciclo de aperto monetário a longo prazo juntamente com incertezas internas poderia potenciar oscilações maiores nos mercados financeiros, saídas de capital e contágios nas economias emergentes.

“A nossa base de referência é que será algo suave”, disse Kose numa entrevista. “Contudo, continua a ser uma preocupação bem real e em conjunto com tudo isto, a pergunta é: ‘Será que existe alguma tempestade resultante perfeita?’”

A aceleração do crescimento no próximo ano assume que a recuperação na Europa e no Japão são duradouras, uma perspetiva que ainda é questionável, disse ele.

Esses riscos que os governos de todo o mundo enfrentam são a razão para os economistas do Banco Mundial redobrarem as suas chamadas de atenção para reformas económicas.

“Repetimos muitas vezes que os países devem realizar regularmente ‘reformas estruturais’”, afirmou Kose. “Mas no caso do Banco de Reserva Federal, estas reformas são críticas.”

Os investidores estão a tornar-se cada vez mais cautelosos. O Instituto de Finanças Internacionais – um grupo que representa 500 dos maiores bancos, empresas de seguros, empresas de fundos de cobertura e outras instituições financeiras – prevê que os fluxos de capital nos mercados emergentes vão cair este ano até ao seu nível mais baixo desde a crise financeira.

A queda dos preços do petróleo e as sanções contra a Rússia devido às suas intervenções na Ucrânia forçaram o país a entrar numa recessão profunda. O Brasil, país onde um escândalo de corrupção está a chegar aos níveis mais elevados do governo, está a contrair à medida que os preços das mercadorias estão a cair e os esforços do país reacendem as perspetivas de crescimento. As eleições mais recentes na Turquia, em vez de cimentar o poder do partido dominante, lançaram uma nuvem negra sobre o destino político do país e est a impulsionar as preocupações dos investidores de que o governo não irá decretar as reformas económicas tão necessárias para o país.

Essas reformas estruturais – tais como abrir setores há muito fechados, reformar regulações demasiado onerosas ou desatualizadas e outras políticas que ajudem os mercados a funcionar mais eficientemente – são muitas vezes dolorosas e politicamente controversas no curto prazo. Frequentemente, os resultados não dão os seus frutos durante alguns anos.

Todavia, no contexto dos desafios que essas economias estão a enfrentar e da sua necessidade de investimento “há um efeito de sinalização valioso associado a essas reformas durante esse período de transição de preços de mercadorias baixos e taxas de juros elevadas” referiu Kose.

A Índia é um exemplo disso. O governo prometeu e decretou várias políticas que galvanizaram a confiança dos investidores, incluindo a diminuição de obstáculos burocráticos, o corte de subsídios aos combustíveis e a permissão de mais investimento estrangeiro nalgumas indústrias.

Embora muitos investidores afirmem que ainda há muito trabalho pela frente, o país já ultrapassou a China como o maior mercado emergente com um crescimento mais rápido do mundo, e os economistas, incluindo o Banco Mundial, estão a aumentar as previsões de crescimento para a Índia.

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