O comércio global está demasiado fraco
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O comércio global está a crescer a um ritmo notoriamente fraco. Quais serão as causas e as consequências de tal fenómeno?

O comércio mundial está a crescer mais devagar do que nunca exceto os tempos de recessão. Nos anos 1980 e 1990 o crescimento do comércio chegou a ultrapassar o crescimento do PIB mundial, mas hoje o primeiro está abaixo do segundo, e tal pode acarretar graves consequências.

Esta tendência é descrita por Ian Stewart, o economista-chefe da empresa Deloitte, no seu recente artigo semanal. Ele refere que de 2012 a 2015 o volume do comércio internacional cresceu em média 3,2%, um pouco menos do crescimento anual do PIB mundial; enquanto antes, nas mesmas condições, podia-se esperar um crescimento de 6 ou 7%.

O que é que está a se passar? Por que é que os empresários de repente perderam o interesse no comércio entre países? Ficam aqui três explicações.

A primeira é a própria crise financeira e a tendência de inversão da globalização das finanças. Até 2008 foram cometidos vários erros nas áreas financeira e monetária, mas muitas das reformas realizadas mais tarde levaram ao crescimento do isolamento económico e diminuiram o fluxo do dinheiro entre os países.

Os reguladores nacionais têm medo que grandes empresas que funcionam no estrangeiro lhes possam trazer problemas, ou que o dinheiro dos contribuintes tenha de ser utilizado para ajudar tais empresas. Como resultado, muitas empresas precisam de manter grandes reservas de acordo com as leis, e os empréstimos tranfronteiriços são considerados como um risco muito maior.

Esse está longe de ser o cenário ideal. Seria mais certo tirar da crise outras lições e criar um sistema internacional de resolução, mantendo as vantagens da globalização e livrando-se dos seus defeitos.

Em vez disso, agora temos menos globalização, um comércio global mais pequeno, uma intervenção estatal maior e ainda não há clareza sobre se os governos salvariam um banco que está com problemas ou como o fariam.

Por exemplo, o que acontecerá se um grande banco europeu, com subsidiárias em todo o mundo, entrar em falência? Umas partes receberão apoio e outras serão fechadas? Ou todo o banco será salvo? Em 2013, durante a crise bancária de Chipre, sugeriu-se pagar uma compensação parcial aos portadores dos depósitos sem seguro, mesmo nos casos em que o banco fazia parte de um grupo bancário internacional.

Como resultado, o problema foi resolvido por conta do dinheiro privado, no entanto a situação foi marcada por politiquices. Infelizmente, os fluxos financeiros estão a tornar-se cada vez mais locais, o que não é nada bom, principalmente levando em conta a sua importância para o comércio e gobalização.

A segunda explicação dada por Stewart é que a industrialização da Ásia, que era uma força motriz das mudanças nos últimos 60 anos, está a desacelerar.

Consequentemente, a procura asiática por meios de produção, que era um componente chave do comércio mundial durante muitos anos, também está a cair.

Outra consequência foi o crescimento das economias asiátias, tais como o Japão, Hong Kong, Singapura, Taiwan e China, que seguiram o mesmo padrão: criavam ramos de exportações eficazes com base nas mercadorias de consumo e mão-de-obra muito barata.

Pouco a pouco os consumidores ocidentais passaram das mercadorias nacionais às importações baratas, o que contribuiu bastante para o comércio mundial. Se esta tendência está agora a chegar ao fim — e muitos mercados ocidentais estão alagados de importações e não há mais espaço para que as mesmas cresçam — não é de surpreender que o comércio tenha abrandado. Entretanto, ainda há países emergentes que estão prestes a substituir os países asiáticos anteriormente baratos.

Quanto à China, o país precisa de mais bens e serviços estrangeiros, enquanto se está a desenvolver — esta tendência é acompanhada pela diminuição dos investimentos, crescimento de consumo e liberalização da economia.

A terceira explicação consiste no facto de a queda dos limites a caminho de um comércio livre ter desacelerado. Os países em desenvolvimento reduziram os impostos sobre produtos manufaturados de 37% em 1980 para menos de 10% em 2010, por isso as possibilidades restantes para uma liberalização contínua não são muito grandes. Tal argumento é razoável, mas o setor dos serviços ainda tem muita margem de liberalização pela frente.

De certa forma, o comércio internacional é um conceito sem sentido. O que importa é o comércio entre as pessoas físicas e empresas independentemente de onde ficam, sendo “comércio internacional” apenas um rótulo. Quanto mais pessoas negoceiam, maior será a divisão do trabalho e a produtividade da mão-de-obra. Porém, na prática, derrubar barreiras internacionais é uma das fontes mais simples e rápidas de crescimento económico.

O fator mais preocupante, relacionado com o abrandamento do crescimento do comércio global é a menor globalização do setor financeiro.

No entanto, as tecnologias facilitam o comércio de muitos serviços, embora nem tudo seja registado em dados oficiais. Por exemplo, graças ao Skype as aulas educacionais estão a tornar-se cada vez mais fáceis de vender, os programadores independentes da Europa de leste prestam serviços para pessoas de todo o mundo, e os arquitetos britânicos fazem projetos de arranha-céus tanto para a América Latina, como para o Médio Oriente.

A natureza do Facebook, LinkedIn e Google é global, e estas empresas ligam milhões de pessoas entre si e derrubam barreiras comerciais, especialmente na área dos serviços. Não entre em pânico: o comércio global está a abrandar, mas não a morrer.

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