A partir de domingo, o resort turco de Antália irá acolher a cimeira do Grupo dos 20. Que desenvolvimentos podemos esperar do encontro?
O mandato do Grupo dos 20 é contribuir para a estabilidade económica e financeira, enquanto a agenda do governo turco em 2015 pode ser resumida como o "fortalecer da recuperação global", bem como o aperfeiçoamento da regulação do mercado, a política energética e a luta contra as mudanças climáticas. No entanto, para muitos participantes da cimeira, a prioridade é ainda a guerra na Síria e o fluxo dos refugiados que vêm para a Europa através da Turquia.
A Antália é equidistante tanto do território controlado pelo ISIS, como daquela parte do Mar Egeu onde os sírios se afogam tentando fugir à guerra. No período que antecede a cimeira, as autoridades turcas colocaram mais policiamento na cidade; e estão a ser efetuadas incursões as casas de suspeitos de militância extremista e seus apoiantes.
Vamos ver que acontecimentos importantes irão ter lugar durante este encontro de dois dias.
Obama e Putin
Há apenas dois meses atrás os dois presidentes reuniram-se em Nova Iorque para falar sobre a guerra civil na Síria. Na época Obama ainda não sabia que o seu homólogo iria realizar a maior campanha militar russa fora do espaço da antiga União Soviética das últimas duas décadas, enviando aviões de combate para a Síria para apoiar Bashar al-Assad.
Durante a cimeira do Grupo dos 20 no ano passado em Brisbane, Austrália, na sequência das críticas duras pela participação no conflito da Ucrânia, Putin abandonou o evento muito cedo. Talvez desta vez Obama e seus aliados tratem-no de um modo diferente. No fim de semana passado discutiu-se em Viena o plano de regulação política proposto pela Rússia para o período de um ano e meio.
Todos ainda se lembram do recente acidente de avião. Em 2014, o Boieng malaio foi abatido sobre a Ucrânia, e os separatistas pró-Rússia foram acusados. Hoje está a ser investigada a queda do avião russo no Egito, e ainda não se tem a certeza se foram os terroristas islâmicos que o derrubaram.
"É necessária uma ajuda," disse Fyodor Lukyanov, o chefe do Conselho de política externa e de defesa de Moscovo, um assessor do governo russo. "Obviamente a atmosfera da cimeira não será igual à do ano passado."
Merkel, Erdogan e os refugiados
Angela Merkel está na vanguarda dos eventos relacionados com os refugiados sírios.
A chanceler da Alemanha foi criticada várias vezes pela política de "portas abertas" pelos membros do seu próprio partido.
Merkel precisa que o presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan, com o apoio do seu partido que conseguiu a maioria parlamentar, contribua mais para controlar o fluxo dos refugiados.
No mês passado os dois líderes reuniram-se em Istambul, onde Merkel falou do apoio financeiro e laços mais estreitos com a União Europeia em troca da ajuda com os migrantes. Erdogan que luta com os separatistas curdos e militantes do Estado Islâmico quer mostrar que é o parceiro que todos precisam para servir de "ponte" entre o Médio Oriente e o Ocidente.
"O problema dos refugiados não é desmesuradamente grande e pode ser resolvido,'' segundo Simone Filippini, o diretor executivo da Organização de Desenvolvimento Cordaid em Haia. O que é necessário é uma "visão, coordenada, compreensiva e estruturada a longo prazo sobre diferentes facetas do assunto".
Economia
Claro que os assuntos económicos não podem deixar de interessar aos líderes do Grupo dos 20. Só neste mês a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico em Paris diminuiu a previsão do crescimento global pela segunda vez consecutiva em três meses.
Na China, depois da recente queda do mercado de ações, o crescimento abrandou, e a Argentina está a passar por uma crise na véspera das eleições presidenciais que terão lugar a 22 de novembro. O rei da Arábia Saudita deve estar a pensar em como sobreviver com o preço do petróleo menos de $50 por barril, e a presidente do Brasil Dilma Rousseff está a tentar manter-se no poder nas condições da recessão profunda e inflação galopante.
Os investidores também estão a observar atentamente a discussão do estatuto do yuan como uma moeda de reserva do Fundo Monetário Internacional e tentam adivinhar como isto pode alterar o seu valor. (A Turquia manifestou o seu apoio à posição da China.)
Regulação dos grandes bancos
Nesta área vemos um certo progresso. Depois de alguns anos de trabalho nos resultados da crise mundial, o Conselho de Estabilidade Financeira do G20 publicou esta semana um plano, segundo o qual os bancos gigantes, que são "demasiado grandes para falir" podem ser recapitalizados sem usar o dinheiro dos contribuintes.
Espera-se que estas sugestões recebam luz verde, o que significa que os maiores bancos do mundo terão que atrair 1,2 mil milhões de dólares em conjunto, para corresponder às regulações.
Irão
O Irão, que fechou o acordo nuclear com as potências ocidentais em julho, não está incluído no Grupo dos 20, mas devido ao apoio de Assad na Síria está invisilmente presente na reunião.
"O acordo nuclear mostrou que a diplomacia internacional e os esforços comuns de muitos países ajudam a alcançar os objetivos," disse Paul Salem, o vice-presidente do Instituto do Médio Oriente em Washington. "Talvez esta atitude ajude-nos também a ultrapassar a crise na Síria que afetou muito o Médio Oriente e a Europa."