Os valores do PIB indiano recentemente publicados mostram que este país continua tendo o crescimento mais rápido das maiores economias mundiais
Durante mais ou menos a última década, estes números precipitaram-se e tremeram um pouco – desde os anos de expansão econômica de meados da década de 2000, quando o dinheiro fácil e a procura estrondosa impulsionaram o crescimento para quase dois dígitos, à paragem brusca na altura da crise financeira de 2008, à recuperação dramática e derivada de estímulos logo após a crise, e finalmente, o declínio inexorável todos os trimestres, assim que o estímulo começou a perder força.
Agora, a Índia parece se encontrar num nível estável. Os seus valores macroeconômicos são fortes e o crescimento parece sólido, se bem que mais lento do que o esperado. O governo indiano – dirigido pelo primeiro-ministro Narendra Modi – já repetiu esta mensagem várias vezes. O que os dirigentes não vão dizer é que a qualidade do crescimento da Índia é mesmo muito fraca. Faça uma análise mais aprofundada e vai constatar que a economia da Índia não se parece nada com as boas notícias que têm andado a apregoar ao mundo.
Aliás, os níveis de crescimento atuais parecem completamente insustentáveis. São derivados pela errada convicção do governo de que pode reforçar as suas próprias despesas com a compensação de um setor privado que ainda não está otimista o suficiente para investir. De fato, nos últimos dois anos, o crescimento da Índia ficou em uma situação de dependência perigosa de um estado sobrecarregado.
O PIB cresceu cerca de 7,1% no primeiro trimestre do Exercício deste ano (o Exercício da Índia começa no dia 1 de abril) em relação ao trimestre equivalente do ano passado. Foi uma taxa de crescimento mais lenta do que a do trimestre anterior – 7,8% – mas mesmo assim foi surpreendente o suficiente dada a lentidão que se verifica no resto do mundo. O valor acrescentado da produção do setor privado aumentou quase 12% entre abril e junho e o setor de referência das tecnologias de informação teve um crescimento de 9,6%. Até aqui tudo bem!
No entanto, este crescimento não está sendo impulsionado por uma procura robusta. Um outro indicador que o governo exclui – o índice de produção industrial (IPI) que mede a produção efetiva – mostra que está na verdade diminuindo: entre abril e junho deste ano, o IPI foi 0,7% mais baixo do que no ano passado.
Outros indicadores da atividade económica real também parecem fracos. Por exemplo, o consumo de aço cresceu apenas 0,3%. Mas os dados mais assustadores são talvez os referentes à quantidade de carga transportada pelos meios ferroviários: o transporte ferroviário de mercadorias desceu quase 9% em relação ao ano passado, quando medido em termos de toneladas por quilómetros. Por outras palavras, embora o balanço das empresas indianas pareça bom, estas simplesmente parecem não estar produzindo ou comercializando o suficiente.
O governo parece assumir que as despesas públicas podem compensar, com uma parte das despesas do governo, no aumento do PIB. Mas esta é uma tendência perigosa, entrando em conflito com a promessa do governo de reduzir dentro de alguns anos o seu défice fiscal para 3% do PIB. Um crescimento que dependa das despesas públicas é sempre de má qualidade e insustentável a longo prazo. Não se assemelha em nada ao elevado crescimento da década de 2000. Parece sim com o breve crescimento influenciado pelo governo que se viveu depois da crise financeira.
Até o governo de Modi admite que o crescimento sustentável não vai voltar a menos que o setor privado comece a investir. O seu argumento é que o investimento público, juntamente com as despesas totais do governo, está aumentando e esta “boa despesa” vai levar a mais investimento privado. Contudo, o investimento na Índia está diminuindo cada vez mais rápido, 1,9% nos meses de janeiro a março, e depois 3,1% nos três meses seguintes.
Por isso, quando o governo – ou instituições multilaterais que já deviam ter ganho mais experiência, como por exemplo o FMI – promove a Índia como um porto seguro e brilhante para o crescimento global, os investidores devem perguntar-se estas difíceis questões. Primeiro de tudo, se as coisas estão correndo assim tão bem para este país, por que é que as empresas indianas não estão investindo? Por que deve imaginar o capital estrangeiro que vai conseguir obter retornos sustentáveis por parte da Índia quando o capital nacional está inativo? Se as empresas indianas não conseguem identificar bons projetos com retornos sustentáveis, como vão as empresas estrangeiras conseguir o fazer?
Existem alguns sinais de que o crescimento pode vir a melhorar nos próximos meses. Por uma vez, a monção foi melhor este ano do que no ano anterior, e o setor agrícola indiano tão dependente da chuva poderá expandir-se um pouco, o que por sua vez, pode ajudar na recuperação da procura de produtos rurais no país. E a procura urbana receberá um estímulo pela decisão do governo de dar aos seus funcionários um farto aumento.
Mas mais uma vez, isso vai colocar as despesas do governo no cerne da história do crescimento da Índia.
Um crescimento milagroso dependente da meteorologia e das despesas do estado não é lá grande milagre.
É verdade que os valores de crescimento da Índia parecem fantásticos. No entanto, também revela uma economia que está acumulando graves problemas, com pouca procura e investimentos desastrosos sustentados pela generosidade do governo. Vendo por esta perspetiva, a Índia já não parece tanto uma exceção na história melancólica dos mercados emergentes.