A economia global está entrando em território inexplorado e perigoso
Damir Sagolj/Reuters
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O diretor do Conselho Económico Nacional dos EUA, Lawrence Summers, explica em que direção deve seguir a economia global nas condições atuais

O clima nos encontros dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais na semana passada, em Washington, foi sombrio. O espectro de estagnação secular e crescimento económico insuficiente de um lado e o ascendente populismo e desintegração global do outro têm causado apreensão generalizada. Ao contrário de 2008 (em que a crise pós-Lehman Brothers foi uma preocupação) ou 2011 e 2012 (em que a possibilidade do sistema ao redor do euro entrar em colapso ocupava as mentes), não se verifica uma crise iminente. Em vez disso, a preocupação generalizada prende-se com o fato das ideias tradicionais e dos líderes estarem perdendo o controlo e a economia global estar entrando em território inexplorado e perigoso.

8 anos depois do início da crise: como está a economia mundial

A previsão de crescimento avançada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) antes dos encontros da semana passada foi uma vez mais revista para baixo. Embora não esteja iminente uma recessão em qualquer região importante, o crescimento é esperado a taxas perigosamente próximas da desaceleração total. Pior: os bancos centrais têm pouco combustível nos seus tanques. As recessões surgem intermitentemente e de forma imprevisível. A sua contenção exige, geralmente, 5 pontos percentuais de cortes nas taxas. Em nenhum lugar no mundo industrial os bancos centrais têm esse tipo de espaço de manobra, mesmo tendo em conta os efeitos de políticas pouco convencionais como a flexibilização quantitativa – e as expectativas de mercado sugerem ser improvável que ganhem mais espaço de manobra nos próximos anos.

Depois de sete anos de excesso de otimismo quanto às perspetivas econômicas, existe crescente consciência de que os desafios ao crescimento não são tanto uma questão derivada dos efeitos prolongados da crise como são de mudanças estruturais na economia mundial que contribuíram para a crise e respetivas consequências. Há cada vez mais razão para duvidar de que o mundo industrial consegue desfrutar de taxas de juro que apoiam os poupados e de estabilidade financeira e crescimento adequado, tudo em simultâneo. A poupança se tornou abundante, o novo investimento insuficiente e a estagnação secular em vez de transitória.

Dificilmente surgirá como grande surpresa que quando o crescimento econômico fica aquém ano após ano, e quando os seus beneficiários são um pequeno subconjunto da população, o eleitorado começa a ficar ansioso. Olhando para os traumas políticos de 1968, em que as pessoas saíram para as ruas em muitos países, é claro que se passava algo mais além de questões específicas como o Vietname e Estados Unidos. Da mesma forma – com o Brexit, Donald Trump e Bernie Sanders, a força dos nacionalistas de direita na Europa, a força de Vladimir Putin na Rússia e o retorno ao culto de Mao na China – é difícil escapar à conclusão de que o mundo está observando o renascimento do autoritarismo populista.

Estes desenvolvimentos se reforçam mutuamente. As economias fracas promovem más políticas – que aumentam a incerteza, conduzindo a economias ainda mais fracas e entrando num ciclo vicioso. O público perdeu confiança na competência dos líderes económicos e no seu compromisso para servir os interesses nacionais, em vez dos interesses de uma elite global. Um número de líderes econômicos no setor público e privado parece estar atravessando o seu caminho através do ciclo do sofrimento – começando com a negação, movendo-se para a raiva, depois para a negociação e em último lugar para a aceitação de novas realidades.

Não é sustentável ignorar o sentimento público. Nem é o nacionalismo económico, na sua forma mais forte, uma estratégia económica viável – como 60 anos de ciclos políticos populistas na América Latina demonstraram. Em vez disso, o desafio para a comunidade internacional e para os líderes de nações individuais passa por encontrar um caminho em que a cooperação internacional é apoiada e promovida. Em vez de estarem focados em questões que preocupam apenas as elites globais estão focados nas prioridades de uma classe média ampla.

Isto significa, concretamente, rejeitar a austeridade a favor do investimento. Em uma altura em que os mercados dizem que a inflação inadequada, em vez de excessiva, será um problema para a próxima geração, os bancos centrais precisam de abraçar o reforço da procura como objetivo principal e cooperar com os governos.

Reforçar o investimento em infraestruturas no setor público e privado deve ser uma prioridade imediata. Internamente isso implica reconhecer que existem benefícios orçamentais, com a economia expandindo e passivos de manutenção sendo reduzidos, bem como despesas orçamentais. Globalmente, significa reconhecer que essas ferramentas oferecem mais procura de investimento e melhores retornos para a classe média.

Além disso, o foco da cooperação económica internacional a nível geral precisa de mudar: de oportunidades para o capital para melhores resultados para o trabalho. Alcançar este objetivo irá exigir cooperação substancial para responder ao que pode ser considerado o lado negro da mobilidade de capitais – lavagem de dinheiro, arbitragem regulamentar e evasão e fraude fiscal.

São apenas algumas ideias. O ponto geral deve ser claro. Poucas coisas serão tão importantes como a restauração da confiança na economia global nos próximos tempos.

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