Como Emmanuel Macron poderá reformular a zona do euro
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A análise de Matthew Lynn, que colabora com o marketwatch.com

Emmanuel Macron, o recém-eleito presidente francês, pretende reformular a zona do euro – a tornando em algo semelhante ao sistema federal dos Estados Unidos.

Macron não tem experiência em cargos eletivos, não tem um partido “real” e é provável que enfrente forte oposição tanto na França como no exterior. Mesmo assim, o mais jovem presidente do país está decidido a avançar uma proposta radical para reformular a zona do euro.

O plano? Quer um Tesouro comum, um Parlamento da zona do euro, uma política fiscal comum, obrigações em euros e significativas transferências dentro da união monetária. Se estivéssemos falando de software, seria a versão Euro 2.0.

É claro que é fácil – na verdade, incrivelmente fácil – listar as razões pelas quais irá falhar. Mas a questão mais interessante é: e se for bem-sucedido? Na verdade, uma zona do euro reformulada teria impacto na economia europeia e na economia global de três formas: estimularia a recuperação na periferia da zona do euro, conduziria a zona do euro a taxas mais elevadas e tornaria inevitável a adesão de países fora do euro ao mesmo.

No longo prazo, o euro ainda enfrentaria bastantes desafios – mas no curto prazo ficaria em melhor forma.

Quando Macron lançou a sua candidatura à presidência, as probabilidades de ganhar eram escassas ou nenhumas. Era o protegido do mais impopular presidente e vendia uma postura pró-UE e pró-liberalismo empresarial a um eleitorado que parecia profundamente desconfiado de ambos. Aconteceu que ganhou – e por uma margem impressionante.

A conclusão? Não o subestime – se trata de alguém capaz de fazer o impossível acontecer.

Muito do mesmo pode ser dito dos seus planos para reformar a zona do euro. É fácil listar todas as razões pelas quais não será capaz de fazer acontecer. Angela Merkel não o permitirá. Será rapidamente bloqueado por oposição a reformas na França. Os restantes países da zona do euro não irão concordar – e mesmo que o façam, o seu eleitorado não irá concordar. Contudo, mesmo assim, mesmo que as hipóteses sejam escassas, não significa que não acontecerá.

Tem um grande argumento do seu lado. O plano é perfeitamente sensato. A economia da zona do euro está melhorando este ano – porém, é necessário manter em mente que o Banco Central Europeu acabou de lançar 2,2 trilhões de euros recém-impressos, bem como tem insistido em taxas de juros negativas. Se isso não lhe der um empurrão, mesmo que modesto, é difícil saber o que o fará.

Considere a última década – e deverá ser claro para quase todos que algo não está bem. A Grécia perdeu um quarto da sua economia e voltou à recessão. A economia italiana não cresce de forma significativa há vários anos. Espanha e Irlanda cresceram – mas depois entraram em colapso – enquanto França escorregou para permanente desemprego em massa e baixo crescimento. Entretanto, a Alemanha acumula cada vez mais superávit, agora correspondente a 9% do Produto Interno Bruto.

Equilíbrio não é a primeira palavra que vem à mente para descrever a situação. A receita de Macron passa por reorganizar a demanda em toda a zona do euro. Quer um Ministério das Finanças que imponha impostos em todo o continente e que gaste dinheiro – bem como a emissão de obrigações comuns, com um Parlamento próprio para legitimar os gastos. O objetivo: dispersar a demanda de forma mais uniforme entre a região, muito como o governo federal faz nos EUA.

Faz sentido. Claro, muitos países, incluindo a França, precisam de reformas estruturais. Mas isso é difícil mesmo com uma economia em crescimento. Em uma economia em deflação? Para esquecer. Sem demanda estimulante, a zona não poderá crescer. Assim, qual seria o impacto se Macron fosse bem-sucedido – se não com o plano total, pelo menos com uma versão modesta do mesmo?

1. Em primeiro lugar, abriria caminho para uma recuperação sustentada na Europa

Agora, a demanda está distante da periferia, concentrada na Alemanha. As transferências fiscais na escala que Macron prevê impulsionariam a demanda e dariam a esses países a hipótese de reforma e recuperação. Em países como a Grécia, Itália e Portugal há bastante potencial para crescimento mais rápido – espere que uma modesta recuperação se torne em recuperação sustentada, o que por sua vez tornará mais fácil líderes políticos levarem a bom porto o tipo de reformas que são capazes de elevar a competitividade.

2. Em segundo lugar, criaria mais centralização

E, ao longo do tempo, taxas mais elevadas. Um Tesouro e um Parlamento da zona do euro, centralizados, em Bruxelas permaneceriam bastante afastados das vidas das pessoas.

Além disso, os impostos não seriam apenas uniformes, também seriam mais elevados. Ao longo do tempo, tal poderia tornar a zona do euro menos atraente para empresas globais. No entanto, apenas dentro de uma década ou assim. No curto prazo, o crescimento e a estabilidade a tornariam mais atraente.

3. Por último, mais países seriam arremessados para o euro

Com o seu próprio Parlamento, e um Tesouro, e sem os britânicos problemáticos, os países da UE ainda de fora do euro não teriam muita hipótese. A UE e a zona do euro seriam, efetivamente, a mesma coisa. Seria de esperar a adesão da Suécia, de forma relutante, e dos pequenos países da Europa de leste.

A questão mais interessante: a Polónia, a Hungria e a República Tcheca se envolveriam em maior integração? Poderiam não querer – e encontrar aliados na Suíça e Reino Unido.

É verdade que o euro continuaria uma moeda disfuncional, em deflação, independentemente das reformas conduzidas. É difícil imaginar como as transferências fiscais poderiam realmente ser grandes o suficiente para manter os desequilíbrios sob controle – e é difícil compreender como um sistema tão centralizado poderia ser verdadeiramente democrático.

Há, certamente, melhores versões do que o que existe agora – e é possível que Macron possa conduzir a sua ação nessa direção. A longo prazo as coisas poderiam ser difíceis.

Contudo, no curto prazo, a sua ação daria certamente um impulso à zona do euro. Quantos mais sinais existirem de que Macron está sendo bem-sucedido, mais os investidores deverão aceitar a recuperação europeia.

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