Recentemente o Banco Nacional Suíço removeu um limite à valorização do franco que tinha imposto há não muito tempo. O resultado foi a súbita valorização da moeda e falência de inúmeros fundos de cobertura. O que podemos aprender com isso?
O Banco Nacional Suíço fez história na semana passada ao abolir uma taxa de nivelamento que tinha imposto à sua própria moeda, que mantinha cada franco “colado” ao euro. Da noite para o dia, a moeda valorizou-se cerca de 30% em comparação com um cabaz de moedas globais assim que o país retirou essa taxa. Apanhou de surpresa investidores globais, levou fundos de cobertura à falência e colocou vários corretores de moedas fora de serviço. Aqui ficam alguns pontos-chave.
- Alguns fundos de cobertura que fazem câmbio de moedas foram arrasados porque não previram isto. Em sua defesa, afirmam que tal nunca tinha acontecido. Será legítimo culpá-los?
Claro que sim! Existem inúmeras áreas de estudo dedicadas a coisas que nunca tinham acontecido antes. A isso chama-se “História”. Ela dá enfase ao facto de as surpresas acontecerem a qualquer hora.
O trabalho de um fundo de cobertura é preparar para o inesperado. É por isto que Warren Buffet disse que o seu sucessor teria de ser “alguém geneticamente programado para reconhecer e evitar riscos graves, mesmo aqueles nunca antes encontrados.”
- Mas vamos lá ver. O diretor financeiro da Goldman Sachs Harvey Schwartz disse que isto era como um evento de 20 sigma, ou seja, estatisticamente, um movimento deste tamanho só acontece uma vez a cada 4 mil milhões de anos.
Um funcionário está a colar um papel que diz: "Não há dinheiro"
A estupidez dessa afirmação está no evento de 20 sigma. A Rússia a não cumprir com a sua dívida em 1998, o colapso do crédito hipotecário de alto risco, a retirada de obrigações especulativas no verão passado e a ação do banco suíço na semana passada, todas foram ações que os modelos de Wall Street disseram que só deveriam ocorrer uma vez a cada mil milhões de anos. Quando eventos que só deveriam ocorrer uma vez a cada mil milhões de anos ocorrem de quatro em quatro anos, talvez – mas só talvez – sejam os vossos modelos que estejam errados.
- Sendo assim, com que frequência deveriam ocorrer estes eventos do arco-da-velha?
Não pode esperar que este tipo de coisas aconteçam (ou não) segundo uma taxa qualquer. Faz parte da sua natureza. O que é perigoso é pensar-se que este tipo de grandes eventos ocorrem de uma forma tranquila e previsível.
- O câmbio de moedas, em geral, é perigoso, certo?
Sem dúvida! De acordo com a Forex Magnates, mais de 60% dos cambiadores individuais perdem dinheiro todos os trimestres.
- Uau! Porquê?
Por alguns motivos. O papel da moeda baseia-se mais no câmbio do que na compra e na posse. Uma vez que os grandes investidores terão sempre redes de informação melhores e mais rápidas do que os pequenos investidores, as probabilidades destes ganharem vantagem não jogam a seu favor. Além disso, os corretores de moedas ficam felizes em emprestar dinheiro aos investidores para que estes possam aumentar ainda mais as suas apostas – muito mais do que aquilo que estão autorizados a emprestar a investidores – por isso, pequenos erros transformam-se em perdas catastróficas.
- O que acontece quando faz uma alavancagem de 50:1 e a moeda sobe 30% durante a noite?
É como se ensopasse o seu dinheiro em napalm e acendesse um fósforo.
- Então, porque é que as pessoas continuam a fazer câmbios de moedas?
Não sei! Porque é que continuam a fumar cigarros enquanto jogam nas máquinas de slots? Algumas pessoas simplesmente têm uma afinidade por comportamentos autodestrutivos.
Uma sondagem realizada no ano passado pela Citi mostrou que 84% dos cambiadores pensavam que iriam ganhar lucros positivos todos os meses. A realidade mostra que 90% deles estão errados.
- Eu não faço câmbios. Será que a ação da Suíça me afeta?
Paga a sua hipoteca em francos suíços? O seu patrão paga-lhe em euros? Está a pensar viajar até Geneva em breve? Se a resposta for afirmativa então sim. Se não, então provavelmente não.
Aprenda com os erros dos outros e siga em frente.