A melhor forma de prever os mercados é a mais simples
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Supere estrategistas de Wall Street utilizando um método comprovado pelo fundador de uma das maiores firmas de investimento do mundo.

Pode pensar que para prever os retornos de ações ou obrigações como um estrategista de Wall Street irá necessitar de obscuras conjurações sobre um computador com longas equações recheadas de letras gregas. Mas e se a simplicidade for mais eficaz do que a complexidade?

Há 25 anos atrás, John C. Bogle, fundador do grupo Vanguard, a gigantesca empresa de investimento, começou a publicar estudos de desempenho de ações e obrigações, procurando determinar as principais fontes de retorno.

Bogle atualizou as suas pesquisas num artigo no mais recente número do “Journal of Portfolio Management”. Combinando retornos completados desde 1915, ele descobriu que é possível explicar os retornos passados em ações – e predizer o futuro com decente fiabilidade – tomando em conta apenas três fatores.

No princípio isso parece tão infantil que aparente ter que estar errado. Mas investigadores de muitos campos descobriram que formas extremamente básicas são muitas vezes superiores a fazer predições sobre sistemas complicados.

O primeiro dos três elementos de Bogle é a yield inicial, ou os dividendos anuais a dividir pelo preço das ações, atualmente na média de cerca de 2,2%.

O segundo é o crescimento dos ganhos, que historicamente tem tido uma média de cerca de 4,7%. Juntamente essas fontes constituem aquilo a que ele chama “retorno do investimento”, porque é baseada no dinheiro que as empresas geram.

O terceiro é o “retorno especulativo” ou qualquer mudança na psicologia de multidão de quanto os investidores querem pagar pelas ações. O preço do S&P 500 está atualmente em cerca de $23 por $1 de ganhos por ação, ou seja um rácio de preço/ganhos de cerca de 23.

Se esse rácio crescesse para 25 ao longo da próxima década, tal constituiria um aumento de cerca de 10% - aumentando o retorno das ações em cerca de 1% anualmente. Por outro lado, se o rácio cair para 20, esse declínio de mais de 10% em relação ao nível de hoje faria com que os retornos na próxima década caíssem um ponto percentual por ano.

A yield de dividendos de cerca de 2,2%, mais o rácio de 4,7% ganhos-crescimento, equivale a retornos abaixo de 7%. Se as valorizações do mercado subissem um ponto percentual anualmente, tal faria com que os retornos médios subissem cerca de 8%. Se caíssem a mesma quantia, então os retornos cairiam para cerca de 6%.

Em relação às obrigações, Bogle descobriu que essencialmente tudo o que necessita é de saber a yield para a maturidade, ou seja, o lucro do juro dividido pelo preço de mercado. Analisando períodos de 10 anos de 1906, ele descobriu que pelo menos 90% dos retornos subsequentes em obrigações poderiam ser explicados pelas yields iniciais; sendo que os ganhos e perdas de capital mal estavam registados. Assi, com o índice agregado Barclays US de obrigações estatais e corporativos com uma yield média de 2,6%, é essa a expectativa base.

Nenhum desses números leva em conta a inflação, que a Reserva Federal objetivou em 2% anualmente. Subtraindo isso à perda de poder de compra e ao facto das ações aparentarem um retorno médio anual de 5% ao longo do tempo, enquanto às obrigações correspondem um valor abaixo de 1%.

É de reparar que estas são expectativas para a próxima década - não para o próximo ano, que é notoriamente difícil de prever.

Ao decompor de forma tão clara o retorno esperado nos fatores que a ele conduzem, Bogle fornece um modelo que qualquer um pode adaptar.

“Se não gostar dos meus números [exceto o da yield de dividendos]” diz ele, “pode sempre pôr os seus próprios números.”

Acha que a tecnologia permitirá que ganhos futuros cresçam mais rapidamente do que no passado, ou que os investidores estejam dispostos a pagar muito mais por esses ganhos do que era costume? Ou por outro lado acredita que o futuro será pior? Então ajuste os rácios de ganhos-taxa de crescimento ou preço/ganhos de acordo com as suas avaliações.

Pode aplicar os mesmos princípios a qualquer ativo financeiro. Às matérias-primas, por exemplo. Historicamente um cabaz diversificado de ativos como o petróleo, o ouro e os feijões de soja tem tido quatro principais fontes de retorno, como afirma Ryan Larson da Research Affiliates, uma empresa em Newport Beach, Califórnia, cujas estratégias de investimento são usadas para gerir cerca de $154 mil milhões.

  • Uma advém dos contratos de matérias-primas renovadas ao longo do tempo – o “retorno rolante”.
  • Outra é o juro ganho em colaterais para financiar a compra de matérias-primas.
  • Em terceiro, os preços do mercado sobem ou descem.
  • Finalmente, um gestor de portefólio de matérias-primas pode vender algo do que quer que tenha subido e usar o lucro para comprar aquilo que mais caiu – uma técnica conhecida por rebalanceamento.

O retorno rolante de muitas matérias-primas tem sido negativo, enquanto o juro em colaterais é praticamente zero. A Research Affiliates espera que as matérias-primas ofereçam um retorno de 3,6% anualmente ao longo da próxima década, depois da inflação.

Mas quase toda essa suposição, como Larson admite, depende do rebalanceamento e das alterações no preço do mercado, não sendo afetada pelos fatores de investimento do retorno rolante e do retorno colateral. Por agora, necessitará de ter a psicologia da multidão do seu lado de modo a conseguir fazer bom dinheiro com as matérias-primas.

À medida que 2016 se aproxima, ignore o trabalho elaborado de adivinhação de Wall Street. Afie o seu lápis, pense no longo prazo e mantenha as coisas simples.

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