Perceba porque é que o Facebook tem a ganhar em tornar-se um negócio de margens baixas.
“Ainda pensamos que estamos na fase inicial de investimento no negócio.” Essas são as palavras do CFO do Facebook Dave Wehner em relação ao recente relatório do quarto trimestre. O Facebook (NASDAQ: FB) aumentou significativamente os seus gastos em 2015, subido 55% no ano, numa base não GAAP. Ao mesmo tempo a margem operacional no quarto trimestre subiu 60% no ano passado, quando tinha subido 58% em 2013 e 2014.
Apesar do foco em investir no crescimento da empresa no longo prazo, a margem operacional de 60% do Facebook é muito maior do que a de negócios comparáveis como a Alphabet. Até o segmento maturo da Google (NASDAQ: GOOG) gerou uma margem operacional não-GAAP de apenas 31% durante 2015.
Podem os investidores do Facebook esperar que a empresa continue a fazer o dobro do lucro operacional por dólar de receitas do que a Google?
Mais investimentos
Wehner foi claro ao afirmar que não pensa que a empresa tenha terminado os investimentos. Apesar de ter gasto mais de $20 mil milhões em aquisições como a WhatsApp e a Oculus apenas há um par de anos atrás, Wehner disse aos analistas que “estamos realmente a investir em novas áreas hoje onde vemos uma oportunidade de longo prazo para o crescimento de receitas.”
As despesas de investigação e desenvolvimento subiram mais em dólares absolutos do que todos os outros custos operacionais combinados em 2015. Repare que isso inclui um ano inteiro de compensações baseadas em ações pela WhatsApp e pela Oculus. Numa base não-GAAP, que não inclui o aumento da compensação em ações para as equipas da WhatsApp e da Oculus, I&D é a despesa de mais rápido crescimento da empresa (em termos percentuais). Os investidores não devem esperar que tal mude em breve.
Mas essa não é a maior coisa que poderá fazer decrescer a margem operacional do Facebook.
Uma rápida vista de olhos sobre as despesas da Google
No topo da lista das despesas operacionais da Google está o seu custo de receitas. O custo de receitas totalizou 38% das receitas totais consolidadas da Alphabet em 2015. Comparativamente as do Facebook foram apenas 16%.
O custo de receitas da Google inclui todas as mesmas coisas que o do Facebook – operações de centros de dados, compensações de empregados, taxas de transação de cartões de crédito, etc. Mas há também algumas grandes despesas com as quais o Facebook não tem que se preocupar.
A Google paga custos de aquisição de tráfeco a vários desenvolvedores de browsers para garantir que o seu motor de pesquisa aparece quando alguém faz uma pesquisa na sua barra de navegação. Isso também inclui as receitas partilhadas com os seus parceiros de rede que colocam anúncios Google nos seus sites. No ano passado, a Google pagou mais de $14 mil milhões em custos de aquisição de tráfego, cerca de 19% das receitas totais da Google nesse ano e metade dos custos de receita.
Adicionalmente, a Google paga custos de aquisição de conteúdo por vídeos do YouTube e downloads digitais no Google Play. O YouTube partilha uma percentagem das suas receitas de publicidade com os criadores dos vídeos, e mais recentemente começou a comissionar conteúdo original para distribuir na sua plataforma. A Google obtém uma fatia de 30% das vendas de downloads através do Google Play, ficando 70% para as editoras.
Uma outra despesa que a Google tem em que o Facebook não incorre é a sua partilha de receitas com fabricantes de dispositivos móveis. A Google paga a essas empresas uma parte das receitas de anúncios para pré-instalar as suas aplicações, tais como o Gmail, o Search e o Google Maps.
O Facebook já se está a tornar mais como a Google
No princípio deste ano, o Facebook alargou a sua rede de anúncios, a Facebook Audience Network, de modo a incluir sites móveis em adição à sua já existente capacidade de publicitar noutras aplicações móveis. A Audience Network foi introduzida na primavera de 2014, mas detém uma grande potencial de crescimento para o Facebook. A empresa partilha uma maioria das suas receitas de anúncios da Audience Network com a editora ou programador da aplicação.
No mês passado, o Facebook anunciou que a Audience Network alcançou uma taxa de mil milhões de dólares no quarto trimestre. Essa receita, porém, tem uma margem operacional de cerca de 30% devido à partilha dessa receita com as editoras. A Google, por exemplo, fica com apenas 32% das receitas de anúncios da sua Network Member depois das receitas serem partilhadas. Enquanto mil milhões é ainda uma pequena parte das receitas esperadas pelo Facebook de $25,5 mil milhões em 2016, é o suficiente para causar impacto de mais de um ponto percentual na margem operacional. À medida que a Audience Network cresce, esse impacto irá aumentar.
De modo semelhante, o Facebook começou com os seus “Artigos Instantâneos” no princípio deste ano. Essa característica retira artigos de várias fontes e aloja-os nos servidores do Facebook de modo a melhor o tempo de carregamento. Se uma fonte pede ao Facebook que coloque anúncios nesses artigos, o Facebook divide as receitas 70/30 a favor da fonte.
À medida que os utilizadores do Facebook veem mais conteúdo de vídeo na sua plataforma, a empresa está a experimentar formas de partilhar as receitas com os criadores. Apesar de teoricamente tal melhorar a qualidade do conteúdo de vídeo no Facebook, também aumenta os custos de receitas do Facebook.
Assim sendo, os investidores do Facebook não devem esperar que as margens operacionais do Facebook se mantenham altas para sempre, mas todos estes esforços providenciam oportunidades de receitas adicionais. Quanto dinheiro a empresa realmente faz depende dos planos da empresa para continuar a investir em oportunidades de longo prazo para crescimento das receitas, o que pode ou não providenciar margens operacionais tão altas como o seu negócio central.
Perfis marginais à parte, o lucro operacional da Google foi cerca de quatro vezes mais alto do que o do Facebook no ano passado. Por isso certamente parece valer a pena para o Facebook espalhar-se para negócios de margem baixa.