Boris Marjanovic, que colabora com a Seeking Alpha, avança que as hipóteses de sucesso da Tesla, a jovem fabricante de carros elétricos, são quase nulas.
Diz-se que a inovação é o motor do progresso económico. Embora isso possa ser verdade, aqueles que investem em inovação são raramente recompensados. Tomemos o exemplo do carro. É uma das mais importantes invenções da história da humanidade. No entanto, apesar do enorme impacto positivo dos carros no mundo, a taxa de sucesso do setor é surpreendente.
Só nos EUA, por exemplo, foram cerca de 2.000 as empresas de automóveis que apareceram e desapareceram desde os finais de 1800. Apenas as “três grandes” – Chrysler, Ford (NYSE: F) e General Motors (NYSE: GM) – sobreviveram até hoje. Duas dessas três foram à falência – mas foram resgatadas. Até mesmo a Ford, a única verdadeira sobrevivente, esteve à beira da falência a dada altura. Dada esta taxa de fracasso de quase 100% as hipóteses de sucesso no longo prazo para a jovem fabricante de carros elétricos Tesla (NASDAQ: TSLA) são quase nulas.
É o que as estatísticas dizem. Infelizmente, esses “factos” são muitas vezes ignorados no mundo do investimento – o que explica porque é que o preço das ações da Tesla está a desafiar a lei das probabilidades com uma valorização absurda de 30 mil milhões de dólares.
A Tesla tem perdido cada vez maiores quantidades de capital desde a sua fundação, há mais de uma década atrás. Os 1,2 mil milhões de dólares que a Tesla tem em mão neste momento chegam apenas para financiar operações ao longo de cerca de seis a oito meses. Para chegar ao final de 2016 a empresa será forçada a aumentar o capital ou a aumentar o seu nível de dívida. A menos que algum milagre aconteça a falência parece inevitável.
Matemática quanto à sobrevivência da Tesla:
1,2 mil milhões de dólares (capital em caixa) / 150 a 200 milhões (gastos mensais) = 6 a 8 meses (de sobrevivência sem dinheiro adicional). Se se juntarem os 865 milhões de crédito ainda não utilizado à equação a sobrevivência da Tesla poderá durar até pouco mais de um ano.
Não se trata da primeira vez que a Tesla se encontra nesta situação. No final de 2008, a empresa esteve a poucas horas da falência antes de receber uma nova ronda de financiamento que a ajudou a manter-se à tona. Elon Musk, o CEO, acabou por admitir mais tarde que não pensava que a Tesla sobrevivesse... Que “as coisas estavam condenadas.” Este episódio de quase-morte repetiu-se em 2013.
Numa tentativa desesperada para salvar a empresa, Musk tentou vendê-la à Google por 6 mil milhões (muito menos do que os acionistas poderiam esperar).
Felizmente, uma vez mais, um resgate de última hora salvou o dia e as negociações de aquisição com a Google cessaram. Hoje a Tesla encontra-se numa situação similar. É difícil saber se a Sorte irá ou não chegar para a salvar desta vez. O que se sabe, no entanto, é que existe um limite de dívida que uma empresa pode aguentar – com 2,7 mil milhões de dívida (sem incluir a dívida fora do balanço), a Tesla está a aproximar-se rapidamente desse limite.
Os especuladores recusam-se, no entanto, a reconhecer essa realidade. Tornaram-se tão hipnotizados com a história de crescimento da Tesla que perderam completamente a catástrofe financeira perante os mesmos. Parecem apenas focados na fantasia de que um dia – num futuro distante e incerto – a Tesla irá tornar-se massivamente rentável e o preço das suas ações irá disparar.
Vamos assumir que somos o advogado do diabo e que os especuladores estão certos. A Tesla não só sobrevive como prospera. Ao longo do próximo par de anos a sua receita triplica de 4 mil milhões de dólares para 12 mil milhões de dólares e os resultados operacionais vão de uns negativos 717 milhões de dólares para uns positivos 1,2 mil milhões de dólares (uma margem de resultados operacionais de 10% - cerca de duas vezes a média da indústria).
Mesmo com este extremamente otimista crescimento – e pressupostos de rentabilidade – a Tesla ainda venderia a 25x os resultados operacionais, baseada no preço corrente. Mais de três vezes a média da indústria para apenas 8x os resultados operacionais!
A absurda valorização da Tesla torna-se ainda mais pronunciada quando a comparamos à valorização de uma grande e bem estabelecida fabricante de automóveis, como a Ford. A Ford gerou 38 vezes mais receita do que a Tesla em 2015 (150 mil milhões de dólares contra apenas 4 mil milhões). Para colocar as coisas ainda mais em perspetiva, os 9 mil milhões da Ford em fluxo de caixa livre são quase iguais à soma de toda a receita gerada pela Tesla desde a sua criação (cerca de 10 mil milhões de dólares).
Considerando estas drásticas diferenças financeiras, a Ford deveria ter uma valorização muito maior do que a Tesla. Mas não é isso que se verifica. O valor de mercado da Ford, de 54 mil milhões de dólares, nem sequer é o dobro do valor de 30 mil milhões de dólares da Tesla. Isto pode significar uma de duas coisas: ou a Ford está bastante desvalorizada ou a Tesla super valorizada. A última é provavelmente a mais real.
Não importa como olha para a questão, o facto é que a Tesla é uma aposta insensata no longo prazo. Para que a atual valorização faça sentido, a Tesla não terá apenas de sobreviver numa indústria com menos de 1% de taxa de sobrevivência, mas também terá de apresentar crescimento de dois dígitos no longo prazo. Será possível? Não. É altamente improvável. O investimento inteligente passa por fazer apostas quando as probabilidades são favoráveis; fazer o contrário será uma estratégia para perder.