2016: Mercados financeiros “presos num momento”?
Página principal Finanças

Richard Madigan, que colabora com o Financial Times, analisa a situação dos mercados financeiros em 2016. Defende o investimento – contudo com paciência e na defensiva.

Os mercados entraram no ano a esperar uma mudança face à narrativa que caracterizou o ano passado. Em vez disso, deparámo-nos com os mesmos mercados – e volatilidade – que tornaram 2015 um ano desafiante para o investimento. Parece que os mercados estiveram a correr para ficarem parados agora – por mais de um ano. Estamos efetivamente na mesma faixa de negociação. É uma observação importante. “Presos num momento” é um mensagem diferente de “as coisas estão consideravelmente pior”.

Estamos num ponto de transição. As transições são acidentadas pois as inflexões que trazem tendem a sinalizar o desacordo do mercado. Também estamos no final do ciclo de investimento e as valorizações dos ativos de risco já não são baratas. Isso implica que a volatilidade permanecerá alta – o que torna o mercado mais ousado. A economia mundial não está tão mal como se temia – no entanto está instável.

As vendas e o crescimento dececionante dos mercados pesam sobre a confiança. A frase do momento para os investidores é “confia mas verifica”. Tem sido um verdadeiro desafio separar o ruído incorporado nas vendas e no aumento do lucro devido a um dólar mais forte e ao colapso no setor da energia.

Na Europa e no Japão também tem sido difícil separar, com confiança, o benefício proveniente de moedas mais fracas e de melhorias reais em termos de alavancagem operacional.

Vemos um maior risco de recessão este ano. Para dizer o óbvio: quanto mais tempo uma expansão durar maior será a hipótese de nos estarmos a aproximar da próxima recessão. Os mercados antecipam e quanto mais tarde entrarmos no ciclo, mais inquietos ficam. Em geral, ficámos mal habituados com a baixa volatilidade do mercado – a volatilidade deve ser maior da mesma forma que as expetativas quanto ao retorno devem ser menores.

Além da visibilidade dos resultados os mercados precisam de ver a continuidade da estabilidade do dólar norte-americano. Too much, too fast pode ser destabilizador e o ritmo da força do dólar não é exceção. Foi esse, certamente, o caso para os mercados emergentes – com um recente salto técnico, não fundamental.

O recente movimento do dólar reflete influência técnica e fundamental. O euro tem estado numa faixa de negociação de 1,05 – 1,15 ao longo do último ano, em relação ao dólar. Embora o BCE tenha elevado a flexibilização quantitativa – não esquecendo a política de taxa de juro negativa – também sinalizou uma pausa após a ação recente. O Fed conseguiu aumentar as taxas em dezembro mas também sinalizou uma pausa em termos de ação política.

Ver o Banco do Japão seguir o BCE para território de taxas de juro negativas trouxe à vida a expressão “puxar a corda”. Se puxar uma corda a mesma não vai a lado nenhum – e há uma analogia entre a expressão e a eficácia dos bancos centrais quanto às taxas de juro negativas. As taxas de juro negativas distorcem a taxa livre de risco; não estimulam a procura ou provocam investimento de capital. Pesam sobre o consumo pois forçam os indivíduos a poupar mais, não menos.

As eleições criam ruído – e os mercados costumam ter o bom senso de seguir o seu caminho sem muita distração. As exceções são os pontos de inflexão económica, quando a mudança pode ser dramática. Exemplos: 1992 e 2008. Nessas situações passamos a prestar atenção à direção política.

De momento não se observa uma mudança significativa na política dos EUA. A democracia pode ser confusa. No entanto, há uma questão para a Europa caso o Reino Unido vote pela saída da UE em junho. Acreditamos que um voto pelo sim poderá marcar uma mudança significativa e estrutural em termos políticos – que os mercados poderão não adotar.

Olhando para anteriores ciclos presidenciais dos EUA: num ano de eleições – como o atual – os mercados tendem a ficar aquém dos anos em que não se verificam eleições ou em que se verificam reeleições. Os mercados param para ouvir os candidatos, processar as propostas de mudança política, refletir sobre a probabilidade de mudança e reavaliar o cenário macro. Fazem uma pausa para o espetáculo e depois retomam o trabalho. O que é interessante é que isto também significa que os anos de eleições costumam ser os mais fracos para os mercados, em média, num mandato presidencial de quatro anos.

A política continuará a pesar sobre o sentimento – tal como o risco geopolítico. A estabilidade do dólar irá percorrer um grande caminho para criar maior visibilidade ao redor dos ganhos – e a ação política do banco central também. A estabilidade energética está a ajudar. Ficamos equilibrados na nossa posição de investimento: investir com paciência e sem exageros. Como investidores de longo prazo: mantendo o investimento contudo na defensiva.

Esse posicionamento reflete o facto de estarmos no final do ciclo de investimento, numa importante transição macro, e com uma valorização – em termos gerais – alta. Mantemos uma perspetiva construtiva mas cautelosa.

Por favor, descreva o erro
Fechar