EUA: receitas aquém do previsto sugerem aproximação de tendência baixista?
Página principal Finanças

A temporada de resultados nos EUA trouxe boas e más notícias – com as más a ofuscarem as boas.

Boas notícias desta temporada de resultados nos EUA? Há pelo menos a seguinte: as margens de lucro mantiveram-se muito melhores do que o esperado. Os lucros ultrapassaram ligeiramente as expetativas – embora, e esta é a má notícia, as receitas tenham sido piores que as previstas.

Aparentemente as más notícias toldaram as boas. As empresas em geral não foram recompensadas com um forte aumento do preço das ações após as suas revelações. O S&P 500 ganhou menos de 1% nestas três semanas – desde que a Alcoa (NYSE: AA) deu início à temporada de resultados do primeiro trimestre – e permanece abaixo do recorde que definiu há quase um ano atrás.

Porque é que o normalmente confiável truque de superar as baixas expetativas de resultados está a falhar no que toca o aumento das ações nesta temporada? Uma explicação será o facto do mercado ter recuperado desde fevereiro, mesmo com os corretores a cortarem nas suas estimativas. Tal reduziu a margem de manobra.

Verifica-se também o facto das atuais perspetivas serem, em termos absolutos, bastante más. Tanto as receitas como os lucros estão a cair e isto normalmente só acontece quando uma economia está a entrar em recessão. Globalmente, os lucros das empresas do índice MSCI World estão 4% abaixo do seu pico de 2014 e de volta a onde estavam há cinco anos.

Nos EUA, de acordo com a Thomson Reuters, os lucros caíram 5,5% face ao primeiro trimestre do ano passado – com previsões de queda de 7,1% quando o trimestre terminou. Entretanto, na Europa, as empresas do Stoxx 600 estão a registar uma queda de 18% dos seus lucros.

As receitas na Europa estão 6,3% abaixo do primeiro trimestre do ano passado. As receitas nos EUA estão 1,7% abaixo (previsão de 1,1% quando o trimestre terminou).

É claro que a energia é de longe a maior razão para as receitas dececionantes, graças à queda do preço do petróleo. No entanto, o preço do petróleo aumentou durante o trimestre e outros seis setores também foram dececionantes em termos de receitas – essencialmente os serviços públicos (onde as vendas caíram 7,1%). As receitas da tecnologia, menos 6,1%, também contribuíram largamente para a desilusão.

Na Europa, o euro forte ofereceu uma razão para receitas dececionantes. Nos EUA, um dólar acentuadamente enfraquecido durante o trimestre, e não incorporado nas previsões dos analistas, devia ter contribuído positivamente para as receitas das multinacionais – e, de facto, as empresas internacionais tendem a gerar surpresas mais positivas do que as restantes.

Diante de receitas dececionantes não é surpreendente que a capacidade das empresas para manter as suas margens tenha sido negligenciada.

Há alguns destaques positivos a ressaltar sobre este assunto. A divulgação de resultados foi vista como uma oportunidade para punir aquelas cujas valorizações se tornaram excessivas. A Priceline, que normalmente vai ao encontro das previsões mas viu o preço das suas ações cair quase 10% na quarta-feira de manhã, é apenas o mais recente exemplo. Também a Microsoft (NASDAQ: MSFT), a Google (NASDAQ: GOOG) e a Apple (NASDAQ: AAPL) se encontraram entre as empresas que sofreram esse destino.

As “Fangs” – Facebook (NASDAQ: FB), Amazon (NASDAQ: AMZN), Netflix (NASDAQ: NFLX) e Google – caíram mais de 7% este ano, enquanto o S&P está aproximadamente estável – apesar dos ganhos muito positivos do Facebook e Amazon.

Isto conduz a outro destaque positivo: o mercado de ações aumentou. As ações relacionadas com energia recuperaram um pouco e as avaliações claramente excessivas na tecnologia foram travadas. A tecnologia da informação teve melhor desempenho no seio do S&P, por 5,5 pontos percentuais desde o início do ano passado até abril; desde então tem tido um desempenho inferior, por 6 pontos percentuais.

Os advancers superam os decliners este ano até agora – e o S&P 500, onde cada membro é responsável por 0,2% do índice, superou a versão ponderada pelo valor de mercado por 4,2% ao longo dos últimos três meses.

Assim, é praticamente possível considerar esta temporada de resultados como o fim de um período em que o mercado recuperou o seu equilíbrio. Mas é altamente incomum para os mercados de ações passar um ano sem uma nova alta, a menos que estejam num mercado em baixa. Os parcos ganhos podem provavelmente ser explicados como parte dos estágios iniciais de uma tendência baixista nos EUA.

Por favor, descreva o erro
Fechar