A escassez de empresas de tecnologia a entrar na bolsa nos EUA
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Shira Ovide, que colabora com a bloomberg.com, analisa a relação da indústria da tecnologia nos EUA com a bolsa de valores

O sector da tecnologia é um deserto de Ofertas Públicas Iniciais (OPI) nos EUA. Apenas uma empresa de tecnologia, a SecureWorks, uma spinoff da Dell, entrou na bolsa nos EUA em 2016. Entretanto, 162 “unicórnios” – start-ups avaliadas em mil milhões de dólares ou mais – esperam, esperam e esperam para entrar na bolsa e para dar aos investidores uma hipótese de reaverem o seu dinheiro.

Não admira que estejamos neste período de seca. O desempenho das empresas de tecnologia que entraram na bolsa desde 2010 – quando o mercado de OPI reabriu, depois do bloqueio da crise financeira – deve dar aos investidores uma pausa.

Das cerca de 200 empresas de tecnologia que realizaram OPI nas bolsas de valores dos EUA desde o início de 2010, e ainda estão ativas e independentes, mais de metade está a negociar abaixo do preço pelo qual vendeu ações pela primeira vez – de acordo com uma análise de dados da Bloomberg.

Isso significa que ao longo dos últimos seis anos, para cada vencedor como o Facebook (NASDAQ: FB) (triplicou o seu preço de 2012) ou ServiceNow (quase que quadruplicou o seu preço também de 2012) há em média um perdedor, como a GoPro (NASDAQ: GPRO) (um corte para metade da sua primeira venda de ações há dois anos) e o Twitter (NYSE: TWTR) (43% abaixo da sua OPI de 2013).

Sim, as OPI são sempre arriscadas. Das empresas de tecnologia dos EUA que abriram o seu capital entre 1980 e 2010 e ainda estavam ativas cinco anos após a sua estreia no mercado, cerca de 60% encontravam-se abaixo do preço das ações da sua OPI – de acordo com dados de Jay Ritter, da Universidade da Florida.

No entanto, não se trata do imaturo mercado da década de 1980 ou do período dot.com pós-1999. O recente desastroso desempenho das empresas de tecnologia que entraram na bolsa surgiu no meio de um período go-go para os mercados de ações. Ninguém deve culpar as más condições do mercado – podemos culpar, em parte, o facto de muitas empresas (que não o mereciam) terem entrado na bolsa.

Em 2014, um pico para as empresas de tecnologia que se tornaram públicas, apenas 17% das recém-listadas empresas tinha sido rentável nos últimos 12 meses, de acordo com a pesquisa de Ritter. Tratou-se da menor parcela desde 2000.

Para algumas empresas bastou mencionarem algumas palavras mágicas – como nuvem, por exemplo – para se tornarem elegíveis para listagem no NASDAQ ou Big Board. A empresa de software – ou melhor, de software na nuvem – Castlight Health tornou-se um símbolo de candidatos questionáveis na medida em que se tornou pública (em março de 2014) com menos de 13 milhões de dólares de receita no ano anterior e uma perda de 62 milhões de dólares.

A Castlight Health subiu no seu primeiro dia de negociações para um valor de mercado de 3,4 mil milhões – de acordo com dados da Bloomberg. Desde então tem vindo a descer e o valor de mercado da empresa encontra-se agora nos 328 milhões de dólares.

A maioria das empresas de tecnologia que entrou na bolsa (desde 2010) não teve só mau desempenho: quase uma em cada cinco foi vendida ou adquirida. Das mais de 40 dessas empresas vendidas, ou que anunciaram aquisições, mais de metade fê-lo a preços abaixo da sua venda pública inicial de ações.

Do pós-OPI até à venda não passou muito tempo – em alguns casos. James Cameron, realizador de “Titanic” e “Avatar”, levou a Digital Domain Media Group – a sua empresa de tecnologia de efeitos especiais – a entrar na bolsa em 2011. A empresa subiu para um pico de valor de mercado de 400 milhões de dólares. Menos de um ano depois estava a enfrentar uma série de expansões custosas – e solicitou proteção contra a falência. Foi vendida por 15 milhões de dólares

Na semana passada a oPower concordou com a sua venda à Oracle por 10,30 dólares a ação – dois anos depois de ter realizado a sua OPI. A empresa vendeu ações pela primeira vez em abril de 2014, a 19 dólares a ação, e as mesmas chegaram a ser negociadas tão alto como 26 dólares nos primeiros meses após a OPI.

Há uma infinidade de razões para a escassez de OPI de empresas de tecnologia nos últimos tempos – a experiência dos últimos anos azedou o mercado e deixou os investidores desconfiados.

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