Para melhor compreendermos esta correlação temos de saber o que move o petróleo bruto e porque é que isso move também as ações do petróleo.
Qualquer pessoa que tenha investido em ações do petróleo sabe que existe uma correlação inconfundível entre o desempenho de uma ação do petróleo e os preços do petróleo bruto. No ano passado, por exemplo, as ações do petróleo medidas pela Energy Select Sector SPDR ETF (NYSE: SVE), que conta com as gigantes do petróleo ExxonMobil (NYSE: Exxon Mobil Corporation [XOM]) e Chevron (NYSE: Chevron Corporation [CVX]) como suas principais posses, moveram-se basicamente em sincronia com os preços do crude.
Para melhor compreendermos esta correlação temos de saber o que move o petróleo bruto e porque é que isso move também as ações do petróleo.
O que faz mover os preços do crude?
Os preços do crude normalmente movem conforme os princípios básicos do mercado de oferta e procura. No entanto, as políticas governamentais e os mercados financeiros também têm alguma influência. Quando são os princípios básicos a comandar, os preços do petróleo bruto flutuam com base nas necessidades de mais ou menos petróleo no mercado. Se houver uma escassez, os preços vão subir para incentivar os produtores a aumentar os investimentos como forma de impulsionar a sua produção. Por outro lado, se houver excesso de petróleo no mercado, os preços do crude vão diminuir como forma de desincentivar os investimentos na produção.
As políticas governamentais também têm um impacto nos preços do petróleo. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), uma organização intergovernamental cuja missão é “coordenar e unificar as políticas do petróleo dos países membros e garantir a estabilização dos mercados do petróleo”, tem tido um enorme impacto nos preços do petróleo ao longo dos anos. Por exemplo, a OPEP coordenou no passado cortes de produção para estimular o preço do petróleo bruto, e mais recentemente aumentou a produção para incentivar a descidas dos preços de forma a poder controlar uma parte maior do mercado do petróleo, a partir do forçamento da saída do mercado dos produtores com custos mais elevados.
Por último, os especuladores financeiros podem ter um impacto significativo nos preços do petróleo. Segundo o documento “Speculation in the Oil Market” (“Especulação no Mercado do Petróleo”), que se focou no período em que os preços do crude levaram à crise financeira:
“A especulação teve um papel significativo no aumento dos preços do petróleo entre 2004 e 2008 e na sua subsequente queda”.
Entretanto, outro documento de investigação foi mais longe ao sugerir que 60% do preço era “pura especulação”. A apoiar essas afirmações está o aumento significativo de contratos em aberto de futuros do crude na década passada:
No geral, o impacto do mercado financeiro nos preços do petróleo bruto está a aumentar não só devido aos fundos de cobertura e a outros especuladores que se estão a debruçar no mercado, contudo, os produtores de petróleo estão a cobrir uma grande percentagem dos seus volumes para silenciar alguma da volatilidade e bloquear o fluxo de caixa.
Porque é que os preços do crude afetam as empresas de petróleo
A razão pela qual os produtores de petróleo estão a cobrir cada vez mais a sua produção deve-se ao impacto que a volatilidade dos preços do petróleo tem no seu negócio. Fazem-no porque os preços do petróleo têm uma influência direta na quantia de dinheiro que as empresas de petróleo obtêm por cada barril produzido, que é o que impulsiona os seus rendimentos e fluxo de caixa. Por exemplo, os rendimentos da ExxonMobil no primeiro trimestre caíram 63% em relação ao primeiro trimestre do ano passado devido à aguçada descida de preços do petróleo. Entretanto, o setor de extração (upstream) da Chevron perdeu quase 1,5 mil milhões de dólares no primeiro trimestre depois de ter tido rendimentos de 1,6 mil milhões de dólares no mesmo trimestre do ano passado devido a uma descida de 35% nos preços do crude. Esse impacto financeiro dos preços do petróleo é a principal razão para os valores da ações da ExxonMobil e da Chevron estarem 8,3% e 19,3% respetivamente mais baixos nestes últimos dois anos.
Para além do impacto direto nos rendimentos, os preços do petróleo afetam muitas das decisões que os produtores tomam. Por exemplo, a Chevron cortou significativamente nas despesas de capital por causa da descida dos preços do petróleo. Após ter feito uma despesa de 40 mil milhões de dólares em 2014, a empresa planeia gastar entre 25 mil milhões a 28 mil milhões de dólares este ano, e prevê que as despesas vão cair para valores entre os 17 mil milhões e os 22 mil milhões de dólares em 2017 e 2018. Por consequência dessa decisão, a produção da Chevron não vai crescer tão rápido como no passado, o que também vai causar impacto no aumento dos lucros quando os preços melhorarem.
Entretanto, a descida dos preços do petróleo fez com que a ExxonMobil perdesse a sua cobiçada notação de risco de crédito AAA, que tem potencial para aumentar os custos de captação. No caso da Exxon, a empresa viu a sua dívida duplicar nos últimos anos depois de gastar mais do que o fluxo de caixa devido aos elevados níveis de despesas de capital durante os preços fracos. Embora uma descida na notação de risco de crédito não seja o principal problema para um titã do petróleo como a Exxon, as descidas de classificação forçaram outros produtores a cortar nos custos e a vender ativos para se manterem estáveis durante a recente recessão.
O essencial para os investidores
Os preços do petróleo bruto têm um efeito direto nas ações do petróleo pois são eles que determinam os rendimentos pelas quantias que as empresas conseguem obter por cada barril. É por isso que existe uma correlação inconfundível entre o movimento dos preços do petróleo e as ações de petróleo. Entretanto, esse impacto no fluxo de caixa irá influenciar outras coisas, nomeadamente os níveis de despesas e notações de risco. É escusado dizer que os preços do crude têm muito mais efeito nas ações do petróleo do que qualquer outro catalisador.