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27 de Março de 2018

Daniel Blank, empreendedor especializado na tecnologia blockchain, partilha a sua opinião quanto a como as revolucionárias ICO irão mudar a forma como colaboramos e negociamos

Provavelmente sabe que as Ofertas Iniciais de Moeda (ICO na sigla original) conduzidas em 2017 reuniram 6,8 bilhões de dólares — mais do que aquilo que empresas em estágio inicial de desenvolvimento angariaram através de capital de risco. No entanto, há muito mais em torno das ICO do que se pensa.

Vamos explorar, assim, em que consistem e como vão ter impacto na forma como colaboramos e negociamos.

Os tokens são títulos?

Quase todas as empresas que levaram a cabo uma ICO alegam que os seus tokens são «tokens de utilidade» e não títulos — ou valores mobiliários.

Os tokens de utilidade tendem a representar acesso futuro a um produto ou serviço da empresa em questão. A característica que os define é que não são desenhados como investimento mas antes como «tokens de acesso» — o que os isenta das leis que regulam os valores mobiliários.

É fácil perceber porque é benéfico para as empresas, mas se segue algo que a maioria está negligenciando.

«Uma empresa que tenha emitido tokens, sejam de utilidade ou não, transfere qualquer valor que tenha ou venha a ter para os tokens. Isso significa que no momento em que emite e vende os tokens, o patrimônio atual da empresa perde significado. Ninguém irá participar na mesma pois o seu valor já não está no patrimônio — está nos tokens

Porém, quer gostemos quer não, os tokens são uma forma de patrimônio.

O que são tokens?

Estabelecemos que a maioria dos tokens são uma forma de patrimônio. No entanto, há dois aspetos que os tornam uma classe única de ativos.

  • Podem ter múltiplos, ou mesmo ilimitados, usos. Um token pode representar um titulo ou o acesso a um produto ou serviço (token de utilidade) ao mesmo tempo. Pode até ser usado como moeda — para, por exemplo, pagar salários.
  • São globais e descentralizados. A Ethereum, plataforma descentralizada e global baseada na blockchain, é a mais usada para a emissão de tokens. Não tem qualquer afiliação governamental, o que torna cada entidade emissora de tokens também global e descentralizada.

É o segundo atributo que torna os tokens interessantes — e que leva a que as empresas de criptomoedas sejam diferentes de qualquer outro tipo de empresa que conhecemos hoje.

As empresas «normais» se encontram diretamente ligadas a países. A Apple (NASDAQ: AAPL.NASDAQ) é uma empresa estado-unidense e as suas ações são transacionadas na NASDAQ. No entanto, não é possível ligar a Ethereum, a IOTA ou qualquer outra entidade pós-ICO a um país. São verdadeiramente globais e têm equipes espalhadas pelo mundo.

As ICO estão estreando uma nova forma de fazer negócios. Sem fronteiras, de forma unificada. Sem serem necessários governos, ou bancos, para operar. Uma forma de negócios que, com as ferramentas certas, permite que indivíduos de qualquer país colaborem em direção a um objetivo sem terceiros atrapalhando.

Obstáculos

Existem dois obstáculos a esta nova forma de negociar.

Ausência de regulamentação. As empresas relacionadas com o mercado de criptomoedas têm de estar registradas em algum país. A menos que planeje seguir o exemplo de Satoshi e desaparecer, é necessária uma entidade legal que o proteja e aos seus clientes. A principal barreira aqui é a burocracia: grandes exércitos de advogados e de contabilistas — de quem as empresas precisam em uma base diária.

Creio que no futuro seremos capazes de gerir empresas exclusivamente na blockchain, simplificando muita da burocracia que temos hoje. As ICO são um grande exemplo de como «tornar uma IPO» barata — e penso que são apenas o início. Vamos ver mais e mais negócios e funções jurídicas e contabilísticas fazendo uma transição para a blockchain. Porém, para que tal aconteça, é necessário novo enquadramento legal.

Carência de ferramentas. Quer tenha uma empresa tradicional ou uma organização autônoma descentralizada (DAO), como é que gere efetivamente uma entidade assim no espaço das criptomoedas? Como paga a colaboradores e contratados? Como vota em decisões? A verdade é que neste momento ainda não existem ferramentas reais para levar a cabo esse tipo de atividades — mas existirão.

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