Devem os bancos centrais considerar as mais recentes inovações tecnológicas para tornarem as respetivas políticas monetárias mais previsíveis?
Pouco depois de Ronald Reagan ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, Arthur Burns, antigo presidente da Reserva Federal dos EUA, fez uma visita ao então presidente Paul Volcker. Burns levava um aviso: os conselheiros do presidente eleito, liderados por Milton Friedman, queriam substituir o presidente da Reserva Federal por um computador. Porém, a ideia de que o complexo sistema monetário poderia ser governado por regras mecânicas nunca pegou.
Décadas depois a Reserva Federal continua imprevisível…
… E as mais recentes inovações tecnológicas, como a blockchain e os contratos inteligentes, tornaram a visão de Friedman ainda mais plausível. A Bitcoin (Bitcoin) foi emitida em uma blockchain descentralizada e está pré-comprometida com uma certa taxa de inflação — que não será alterada, a menos que uma parte significativa da rede concorde. Não serão mineradas mais de 21 milhões de bitcoins e a taxa de inflação diminuirá para metade a cada quatro anos.
Os países interessados em adotar uma política monetária passiva poderão usar a Bitcoin como modelo. Tal política poderá contar com alguns dos benefícios proporcionados pelo investimento passivo. Os fundos de índice, por exemplo, poupam os investidores das elevadas comissões de gestão cobradas por gerentes de fundos quando se considera investimento ativo — e ninguém pode negar que muitos gerentes não conseguem justificar as suas comissões.
A Reserva Federal e outros bancos centrais também têm as suas próprias comissões. Porém, mais significativo ainda é o custo macro-econômico da incerteza. As empresas atrasam investimentos, e qualquer planejamento a longo prazo se torna mais difícil, sem certezas do governo.
Os defensores do statu quo alertam que será perigoso comprometer a economia com uma só direção — dada a incerteza sobre o futuro. A solução: introduzir uma medida que permita poder de decisão se certas linhas vermelhas forem cruzadas. Pode se prever em código, por exemplo, a aplicação de flexibilização quantitativa, se formuladores de políticas o acharem apropriado, permitindo a compra de ativos específicos cujos preços caiam abaixo de níveis predeterminados.
Uma política monetária passiva beneficiará estados ou países com histórico de política monetária instável. Países como a Argentina e o Zimbabué poderão vincular a sua política monetária a uma blockchain e recorrer a contratos inteligentes para se comprometerem com certas regras. Ao contrário de nações economicamente mais influentes, a flexibilidade da política monetária de uma pequena nação não deverá ser um fator a considerar na decisão de tornar a política passiva.